04 de junho de 2024

As novas gerações não aguentam a pressão do trabalho ou apenas valorizam mais outras experiências da vida?

Tenho escutado cada vez mais as gerações passadas dizendo que a minha geração não gosta de trabalhar e que é necessário tentar consertar as próximas.

Fiquei sabendo até mesmo que o modelo de ensino da minha antiga escola agora segue uma nova metodologia que busca ensinar as crianças a pressão da vida e a ter resiliência para não desistir quando são criticadas ou enfrentem dificuldades. Falando assim, soa como algo positivo, mas quero conversar sobre a raiz desse pensamento.

Essa sensação de que a geração Z sede mais a pressão talvez venha do fato de que, cada vez menos, ficamos longos períodos em uma mesma empresa. Ao contrário de nossos pais e avós, que passavam 15, 20 ou 30 anos fazendo exatamente a mesma atividade todos os dias.

Os novos profissionais do mercado de trabalho parecem ter uma média de permanência que flutua entre 3 a 5 anos, chegando até a ficar apenas um ano em uma organização antes de sentirem a necessidade de ir em busca de outro desafio.

Será que o motivo realmente gira em torno de sermos crianças mimadas que não sabem ouvir um “não” como resposta? Tenho minhas dúvidas.

O desejo de aproveitar a vida ao máximo

Nos últimos anos, vivenciamos situações que geraram grandes problemas e discussões. Ascensão das fake news, o medo da substituição por IAs, crise climática, argumentações políticas acaloradas, além de uma pandemia e isolamento social durante uma fase que, para muitos de nós, poderia ser tida como uma das mais importantes para se aproveitar a juventude.

Falando especificamente da minha idade, muitos estão se casando, tendo filhos e viajando pelo mundo, enquanto outros se tornam influencers ou simplesmente tentam se encontrar em alguma carreira.

A pandemia aproximou muitas pessoas, mas também afastou outras. Muito mudou nas rotinas, vidas e personalidades de todos. Mas acredito que uma coisa é possível afirmar: a minha geração enxergou e valorizou muito mais o contato humano e as possibilidades dos momentos de ócio.

Sair de casa às 6h e chegar às 19h, com a possibilidade de trabalhar além do horário por um salário que não basta para aproveitar tudo o que a vida tem a oferecer, não parece mais tão atrativo ou recompensador.

home office agora é quase uma obrigatoriedade para essa geração, pois permite um equilíbrio com a vida familiar, o cuidado com a saúde e a flexibilidade de rotina e local de trabalho que nunca seria possível em um emprego convencional.

Isso porque os jovens desejam trabalhar com paixão e entregar algo com significado, não apenas seguir uma linha de produção em massa.

A felicidade virou uma necessidade. Se o salário não permite uma vida com boas experiências e viagens, o mínimo que se busca é um dia a dia tranquilo, sem estresse, com respeito e que permita horários para descontração e hobbies.

O sonho de ter uma vida divertida, que crescemos vendo em filmes, cheia de experiências memoráveis após o horário de trabalho, encontrou grandes dificuldades na vida real: o cansaço físico e mental.

Bad Place To Work

Levando isso em consideração, é compreensível que as pessoas não desejem mais ficar em empresas que estão sendo vistas como lugares ruins de se trabalhar, com clima e ambientes que desencorajam, favorecem bajuladores e não reconhecem verdadeiramente os esforços.

Ao entrar no mercado de trabalho, essa geração viu os seus sonhos ruírem.

O resultado? Uma longa planilha com diversas reclamações sobre as empresas, indo desde casos de salários baixos e falta de reconhecimento, até assédio, desrespeito e burnout.

“A lista chama atenção por, inclusive, conter empresas que são top 10 do GPTW e também pelo alto volume de relatos negativos de algumas das empresas mais cobiçadas do Brasil.” – De GPTW à WPTW: a lista de empresas tóxicas do Brasil e como a comunicação interna pode(ria) diminuir a gravidade dos relatos – Amanda Cristine Barbosa via LinkedIn

Assim, é compreensível pensar que o motivo do quiet quitting e do aumento das demissões não são as pessoas, mas sim as empresas que não fornecem uma experiência e benefícios recompensadores para aqueles que dedicam boa parte das suas horas semanais a elas.

Por isso, a meu ver, quem tem a possibilidade de buscar uma empresa que ofereça além de um salário maior, uma cultura organizacional melhor, não hesitará em mudar de emprego na primeira oportunidade.

Dinheiro é sim importante, mas cada vez mais a saúde mental e física também ganha espaço e relevância nas tomadas de decisões.

Com isso, até mesmo um novo termo vem sendo divulgado nas redes sociais: lazy girl jobsEm resumo, são empregos em que você possui mais flexibilidade na jornada de trabalho e um salário que te permite aproveitar ao máximo o tempo livre.

“Na verdade, trata-se de a Geração Z afirmar que vai trabalhar nos seus próprios termos. Assim como outras tendências profissionais que surgiram no TikTok, como o quiet quitting, ela representa uma revolução contra a cultura de trabalho que os jovens estão encontrando conforme iniciam suas carreiras. “Não estamos mais dispostos a nos esgotar ou a nos matar por um emprego”, dizem os vídeos na plataforma. Cada vez mais a Geração Z procura um trabalho que exija o mínimo de esforço, pague decentemente e seja flexível em termos de tempo, deixando espaço para o equilíbrio com a vida pessoal. Essa tendência é considerada uma fuga da sobrecarga do mundo corporativo, já que os mais jovens não estão dispostos a permanecer num trabalho que os exija sacrificar a sua qualidade de vida.” – “Lazy girl job” faz parte da revolução da GenZ no trabalho, mas pode prejudicar mulheres – Forbes

O poder da Comunicação Interna

Ok, e onde eu entro no meio disso? Além de fazer parte da geração Z e compreender essas frustrações e anseios, trabalho com Comunicação Interna.

É claro que a minha área não vai conseguir, sozinha, resolver todos os problemas, mas gosto do que faço por um simples motivo: queremos deixar a jornada de trabalho das outras pessoas mais leve e agradável.

Diariamente, entrego para empresas formas de tornar os seus líderes mais acessíveis, mostrando como e por que eles devem ter uma escuta ativa, com transparência e clareza na comunicação. Trago a saúde mental, o respeito e a diversidade para as pautas da empresa, reforçando o seu valor e importância. Desenvolvo estratégias e ações para reconhecer e valorizar cada profissional, além de transmitir a cultura organizacional e maneiras de colocá-la em prática com os colaboradores para não serem apenas palavras bonitas escritas na parede.

Se tudo isso irá ser realizado no dia a dia? Depende de cada organização. Mas, sim, é possível agradar os jovensE quem melhor do que alguém da geração Z para dizer como reter talentos da sua própria geração?

A comunicação e as empresas precisam levar em consideração a realidade de cada pessoa e se lembrar de que elas entregarão resultados melhores se estiverem em um ambiente positivo e acolhedor.

A reputação das empresas se tornou uma pauta ainda mais relevante com o avanço das redes sociais, que deu luz à elogios e críticas. Por isso, é necessário repensar o relacionamento com os colaboradores, pois eles são os seus maiores representantes para o público externo.

Cabe as organizações refletirem sobre esse novo contexto em que vivemos e estarem abertas a aceitarem novas soluções.

Para a minha área, o que resta é se esforçar, argumentar e demonstrar o quanto a inovação e a transformação são importantes para o mercado de trabalho.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Rafaela Borges

Analista de Comunicação na P3K Comunicação, agência especializada em Comunicação Interna Estratégica e Endomarketing. Graduação em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, Pós-graduada em Escrita Criativa e Editoração.

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