17 de junho de 2024

A nova liderança em tempos de emergências climáticas

É difícil não deixar de comparar as cenas da tragédia climática que assola o Rio Grande do Sul com a série Walking Dead ou com vários clássicos filmes de guerra. As  perdas humanas irreparáveis e as consequências de ordem econômica e social, ainda difíceis de mensurar, também expuseram fragilidades estruturais e fizeram reverberar o alerta vermelho de aprender a viver em tempos de emergências climáticas.

Eventos extremos se intensificam no planeta, provando o que os cientistas dizem há bastante tempo. O aquecimento global mudou os padrões do clima. Muitas ondas de calor e de frio, secas, incêndios florestais, tempestades e enchentes ainda estão por vir.

Diante de fenômenos dessa magnitude, as perguntas que surgem são: podemos amenizar esses impactos?

É preciso planejar e se preparar. No que se refere à infraestrutura, planos bem-feitos e bem aplicados funcionam bem. O problema maior está em lidar com a crença das populações, que negam as urgências climáticas.

Líderes devem assumir um novo papel, o de catequizadores da ciência e dos efeitos das mudanças climáticas. Eles devem ter a capacidade de convencer as pessoas sobre o perigo que a humanidade estava correndo (e está) com o aumento gradativo de gases de efeito estufa e da temperatura no planeta.

Acreditar na ciência, ser didático e combater o negacionismo são prerrogativas da liderança atual, que também precisa abraçar o financiamento de pesquisas ambientais, buscar ampliar pautas legislativas que combatam os danos ao meio ambiente e que punam desmatadores e detratores dos recursos naturais.

A questão não é atribuição apenas aos governantes. Também bate à porta das empresas. As agendas corporativas devem andar ainda mais alinhadas às principais agendas da sociedade, gerando um movimento coletivo de conexão com a preservação do planeta, das pessoas e dos negócios.

O estudo “Comprometimento Econômico das Mudanças Climáticas”, publicado na revista Nature, no último mês abril, aponta que os problemas de cunho climático trarão retração na economia global de 19% nos próximos 26 anos.

A crise climática é apenas uma das muitas tensões e instabilidades nos tempos atuais, em que vivemos a chamada policrise. Um contexto que exige dos novos líderes estado de alerta contínuo e flexibilidade de serem comunicadores da ciência e abertos às rápidas mudanças.

Nesse aspecto, a boa comunicação tem o papel não só de informar, como também de salvar vidas e mudar realidades. Pensar no coletivo, no bem do planeta, é uma obrigação. E também uma oportunidade.

É preciso coragem para assumir o protagonismo dessa agenda e adotar novas posturas que estimulem mudanças concretas.

Os verdadeiros líderes da era da urgência climática são os que evoluem o seu modelo de negócio, estabelecendo metas de redução de dados ambientais e sociais, e maximizam os impactos da agenda dos ODS. São líderes que transformam as suas categorias. São agentes de ação e transformação para resolução das pautas de sustentabilidade. São capazes de imaginar o futuro que queremos construir e agir nessa construção.

A nova liderança é a que fura a barreira do negacionismo e ganha relevância perante a sociedade pela capacidade de restaurar a confiança e estabelecer processo de prototipagem de soluções.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Patricia Marins

Sócia-diretora da Oficina Consultoria de Reputação e Gestão de Relacionamento. É especialista em public affairs, gerenciamento de crises de alta complexidade, programas de relações públicas e treinamentos. É sócia do Grupo In Press, co-fundadora do WOB (Women on Board) e autora do livro Muito além do media training, o porta-voz na era da hiperconexão.

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