Web Summit revela novo ecossistema de inovação da Coreia do Sul
Publicado originalmente no Metrópoles em 03/11/2022 por Rafael Codonho
Startups focadas em solucionar diferentes dores de clientes mostram nova face de inovação do país asiático.
Qual a primeira coisa que vem à cabeça quando se pensa na Coreia do Sul? Possivelmente, a resposta ficará entre os grupos de K-pop e os doramas que não param de bater recorde de acessos no Netflix — expressões poderosas da cultura do país e da bem-sucedida estratégia global de soft power. Ou, para os apreciadores de uma gastronomia mais exótica, o sabor inesquecível do kimchi.
A edição deste ano da Web Summit tem ajudado a projetar globalmente uma outra face da nação asiática: o ecossistema de inovação, com uma série de empresas que se apresentaram na maior conferência de tecnologia do mundo em busca de investidores e parceiros.
Considerando a escala do evento, as startups estão divididas em três grandes grupos: alpha (seed-stage), beta (etapa inicial) e growth (fase de crescimento). Para conhecer o cenário efervescente de novos negócios da Coreia, a coluna MBuzz bateu um papo com três empreendedoras que se encontram ainda na primeira casa do tabuleiro. Todas relacionadas com cultura, elas ficaram entre as sete finalistas em uma competição governamental que envolveu mais de cem concorrentes.
Korean Artist: arte contemporânea tipo exportação
Nam Eun Jin acumula mais de uma década de experiência no mercado global de arte. Há três anos, após ter estudado na Itália e liderado uma galeria tradicional, decidiu abrir a própria empresa: a Korean Artist. Trata-se de uma plataforma online voltada a impulsionar artistas contemporâneos emergentes, comercializando obras para colecionadores e entusiastas de todo o mundo.
“Era meu sonho desenvolver um sistema para vender e promover nossos artistas para lugares remotos. Construímos o site por nós mesmos”, conta a CEO, entusiasmada sobre a iniciativa lançada em 2021. Desde então, trabalhos de arte já foram embarcados para países como Estados Unidos, França e Itália.
A fundadora da startup avalia que os três K’s (pop, drama e filmes) se firmaram como tendências de massa no planeta. Mas o propósito da Korean Artist é se inserir em outro nicho, muito mais focado. “Desde a pandemia, o mundo está mudando. As pessoas preferem comprar arte online e gostam de descobrir novos artistas, principalmente em seus estágios iniciais, e ver se vão alcançar o sucesso”, detalha.
Grape Lab: design engajado e sustentável
A preocupação em reduzir o impacto ambiental foi o estalo para Min Yang Kim abrir o próprio negócio: o Grape Lab. É um laboratório de design preocupado com sustentabilidade e questões sociais. “Quando projetamos nossos produtos, utilizamos os mínimos recursos e tecnologias. Contratamos e apoiamos artistas com deficiência”, expressa.
No estande, o destaque fica por conta de suportes para notebook — todos feitos com papel reciclado. A ideia de abrir a empresa surgiu quando ela estudava design sustentável no Reino Unido e trabalhou num projeto de caixas de sanduíche. “O papel é fraco e fácil de quebrar. Mas se você faz algo estruturado, fica resistente e aguenta produtos pesados”, relata.
Criada há quatro anos, a startup já registra lucro e está em fase de busca de investidores para escalar o negócio. Produzidos 100% na Coreia do Sul, os produtos são exportados para todo o mundo — incluindo Ásia, Europa e América. “Meu sonho é fazer nosso estilo de vida mais sustentável e abrir oportunidades para pessoas marginalizadas e isoladas da sociedade”, pontua Min.
Juice: para crianças aprenderem música brincando
Na seção coreana, um estande chama atenção pelo apelo visual. E ninguém melhor do que a própria designer — a jovem Ji O Kim (foto em destaque) — para apresentar a embrionária startup Juice, mas que já conta com uma demonstração robusta, indo desde materiais impressos até vídeos e um aplicativo.
Voltada ao público infantil, a Juice tem um objetivo claro: ajudar crianças de cinco a nove anos a criar a própria canção. E isso de uma maneira lúdica, enquanto se divertem e jogam. “Assim, elas experimentam a música de uma forma fácil e divertida”, conta a designer.
Com cores que lembram o sucesso global Baby Shark, também de origem coreana, o personagem Dodo acompanha as crianças nessa aventura. Além de aprender instrumentos musicais, elas podem expressar com desenhos quais emoções sentem a partir do contato com a arte. E, entre outros recursos, interagem com outros aprendizes mirins.
No evento, a Juice está em busca de investidores para concretizar os objetivos. Por enquanto, o plano é atender exclusivamente o mercado local. Mas, segundo Ji O Kim, já estão se preparando para atuar globalmente.
A Web Summit dá indícios de que nosso contato com a cultura coreana tende a aumentar — e muito — nos próximos anos.
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