13 de novembro de 2019

Um Brasil “irresponsável, negligente e arrogante”: estudo da Curado e associados mostra imagem internacional do país

Um Brasil que assume um discurso de exploração econômica irracional da Amazônia, sem olhar para os impactos ao meio ambiente e aos povos originários; que tem uma gestão frágil das questões ambientais e suas consequências, como incêndios e desmatamentos; e que desqualifica os atores do debate com posições contrárias às suas. Esta foi a imagem internacional do país na recente crise da Amazônia, que teve seu pico de visibilidade no exterior durante o mês de agosto.

O resultado é fruto de um estudo independente feito pela Curado & associados, consultoria de gestão de imagem e reputação que é associada da Aberje. Para esta auditoria da percepção pública foi utilizada a metodologia iVGR – índice de Valor, Gestão e Relacionamento, os três pilares da imagem –, com análise feita a partir do material publicado sobre o tema em 10 veículos de imprensa de grande relevância mundial, em um período de três meses – 1º de julho a 30 de setembro de 2019. O iVGR fez uma análise tanto quantitativa como qualitativa desta projeção internacional.

Além da relevância, foi considerada a pluralidade das linhas editorais dos veículos internacionais analisados – The New York Times, The Washington Post e The Wall Street Journal (Estados Unidos); The Guardian, Financial Times e The Economist (Inglaterra); El Pais (Espanha); Le Monde (França); Bild (Alemanha); e Corriere della Sera (Itália).

O indicador para a imagem do Brasil no exterior a partir dos eventos relacionados à Amazônia no período foi de -3,01 – zona de crise de imagem com necessidade de ações emergenciais. São 10 faixas de imagem, sendo 5 positivas e 5 negativas, num espectro que vai de +5 a -5. São 4 faixas de crise de imagem e o Brasil ficou na segunda faixa. A partir da terceira faixa (entre -4,00 e -5,00), já há a necessidade da intervenção de terceiros para a contenção da crise, o que não ocorreu.

O iVGR é uma auditoria de imagem que mensura a cobertura de imprensa, identifica atributos percebidos pelo público e afere quantitativamente esse impacto. Desenvolvido pela Curado, em parceria com estatísticos da Universidade Federal de São Carlos, além de jornalistas, linguistas e filósofos, o iVGR analisa trecho por trecho as matérias publicadas sobre uma instituição ou pessoa.

A composição do iVGR é feita a partir das três dimensões da imagem – 1) Valor é o aspecto ético que considera os valores morais da sociedade neste momento, neste caso, a proteção ambiental  numa visão altruísta; 2) Gestão são as entregas, os resultados que podem ser mensurados e que  estão além do discurso; Relacionamento é a qualidade das respostas, em que medida as falas agregam ou dividem os públicos de interesse.

O iVGR do Brasil para o caso da Amazônia chama muito a atenção pelo fato de a imagem do país no setor ambiental sofrer desgaste nas três dimensões, de Valor, Gestão e Relacionamento, tornando mais difícil para o Brasil superar esta crise e afetando a sua reputação no longo prazo.

De acordo com a análise qualitativa, sustentada por atributos positivos e negativos de Valor, Gestão e Relacionamento, o país teve passivos importantes de imagem também nos três aspectos.

Em Valor, o atributo mais percebido foi Irresponsável (20,69%), sobretudo pela associação dos incêndios e do aumento dos desmatamentos à política do governo brasileiro de incentivo à exploração abusiva da Amazônia por mineradores e setor agropecuário, e pelo afrouxamento da fiscalização contra crimes ambientais. Em 21 de setembro, o jornal The New York Times classificou o presidente Jair Bolsonaro como “ecocida”. Ele também é chamado de “capitão motosserra” de forma recorrente pela imprensa internacional e por distintos veículos de imprensa.

Em Gestão, o atributo mais percebido foi Vulnerável (42,77%), pela negligência do governo na condução de sua política ambiental e pelas ações frágeis e tardias de combate aos incêndios. A percepção de um Brasil Vulnerável deveu-se ainda às ingerências externas que ocorreram após os incêndios ganharem uma grande dimensão, com ameaças de retaliação comercial pela França – possível revisão do acordo Europa-Mercosul –, boicote de empresas, pressão de investidores estrangeiros e protestos de celebridades, como o Papa Francisco e o ator Leonardo Di Caprio.

Em Relacionamento, o Brasil teve dois atributos negativos de destaque – Impulsivo (9,48%) e Arrogante (9,02%). A impulsividade, ou movimento direcionado ao conflito, foi projetada pelas declarações hostis do governo brasileiro, principalmente do presidente Bolsonaro, contra o presidente francês, Emmanuel Macron – crise também diplomática. O Brasil é arrogante quando desqualifica dados científicos que atestam o aumento de focos de incêndio e desmatamento; ou quando recusa ou faz condicionantes à ajuda financeira internacional para combate aos incêndios.

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