18 de novembro de 2021

Sesc São Paulo apresenta exposição Biblioteca: Floresta, na unidade Belenzinho

  • Com 26 artistas e curadoria de Galciani Neves, a mostra reúne trabalhos que fazem a intersecção entre literatura e artes visuais para falar do feminino.
    A entrada é gratuita.
  • O público poderá visitar a mostra mediante agendamento prévio no app Credencial Sesc SP ou, pelo computador, no site sescsp exposicoes. As atividades presenciais seguem protocolos de saúde pública para evitar o contágio da Covid-19
Crédito Patrícia Araújo

De 18 de novembro de 2021 a 27 de fevereiro de 2022, o Sesc Belenzinho recebe a exposição Biblioteca: floresta. Com curadoria de Galciani Neves, a mostra, revista e ampliada de sua apresentação original no Museu de Arte de Ribeirão Preto (MARP), reúne trabalhos de artistas que unem artes visuais e literatura para falar da investigação da mulher e de seu lugar de fala no mundo contemporâneo. A entrada é gratuita, mediante agendamento, e fica em cartaz no Espaço Expositivo e no Átrio da Unidade.

Participam da exposição Adelaide Ivánova, Aline Albuquerque, Aline van Langendonck, Andréa Tavares, Carmela Gross, Fernanda Porto, Isabella Assad, Janina McQuoid, Júlia Ayerbe e Laura Daviña, Laura Berbert, Lívia Aquino, Lucia M. Loeb, Maíra Dietrich, Mayana Redin, Mayra Martins Redin, Natalie Salazar, Neide Sá, Paloma Durante, Raphaela Melsohn, Raquel Stolf, Regina Parra, Renata Cruz, Simone Barreto, Simone Moraes e Vera Chaves Barcellos.

As 41 obras, entre esculturas, gravuras, desenhos, pinturas, publicações, apropriações de livros, ficções, instalações, performances, textos, áudios e vídeos, concebidas pelas 26 artistas, navegam nas experimentações de palavras, narrativas, ficções, traduções etc., sempre conjugadas no feminino.

Biblioteca: floresta é resultado de pesquisas e acompanhamento de processos autorais empenhados por artistas mulheres, com foco nas relações entre gênero, arte e literatura. A primeira montagem da mostra aconteceu no MARP entre fevereiro e abril de 2018, por ocasião das comemorações de seus 25 anos e do processo de desempacotamento da biblioteca Pedro Manuel-Gismondi, doada ao museu paulista.

Além das obras, a exposição é complementada por uma programação integrada, com oficinas e mesas de debates em ambiente online, mediada por uma equipe de educadoras.

 

CONCEITO

Com o título escolhido a partir de um projeto de ação de Simone Moraes, artista participante da mostra, biblioteca: floresta nasceu a partir de um desafio feito à curadora em 2018, de dar visibilidade, por meio de uma programação, ao processo de higienização, guarda e restauro aos mais de 4 mil livros doados ao MARP. Galciani e sua equipe perceberam que haviam pouquíssimas autoras mulheres entre os volumes. Para justamente jogar luz ao feminino e ao diálogo entre as artes visuais e a literatura, a mostra foi criada.

“Esta nova exposição que acontece no Sesc Belenzinho foi redesenhada para se moldar a este novo contexto, não só porque o espaço é maior, mas para dar novas camadas de significado e de complexidade, com mais artistas e que trazem mais pluralidade ao discurso”, explica a curadora. São artistas de diferentes gerações e que utilizam suportes diversos para evidenciar a relação entre as linguagens artísticas abordadas na mostra.

Galciani Neves tem uma pesquisa da relação da palavra como materialidade e da escrita como procedimento da arte. Professora da Faap (Faculdade Armando Álvares Penteado), esta é a terceira mostra em que ela lida com esta questão, enquanto curadora e pesquisadora. “A exposição nasceu da vontade de trabalhar a palavra enquanto materialidade, visualidade, matéria prima. As artistas envolvidas entendem que, se valendo da palavra, o lugar de fala do feminino se evidencia mais”.

 

PROJETO EXPOGRÁFICO

O projeto desenvolvido partiu da ideia de gerar camadas de fora para dentro em que as artistas tivessem seus espaços separados, mas inter-relacionados. As forças da natureza são então o ponto de partida para ocupar esse novo espaço e representar a força dessas mulheres artistas. Um furacão, uma floresta, mas também uma clareira, que é um respiro nessa intensidade.

“Conceitualmente, partimos da idéia de criar uma clareira de floresta, com paredes altas curvas que aparecem em três camadas – uma que faz todo o entorno e abraça a exposição, criando na frente uma abertura em ângulo que convida o público a adentrar a exposição; uma segunda de paredes curvas soltas no ambiente que delimitam nossa clareira; e por fim, a clareira, onde posicionamos a maior parte das obras que deveriam ser expostas em bancadas e, bem ao centro, no chão”, conta Carmela Rocha, arquiteta responsável pelo projeto expográfico.

Para Fernanda Porto, designer responsável pelo projeto gráfico da mostra e artista expositora, há um diálogo com as questões ressaltadas pelo embate entre arte/literatura, proposto pelo projeto curatorial. “Em conversa com o projeto expográfico, a clareira é uma ideia importante. É a área que recebe luz na floresta, e para nós é uma imagem potente que se apresenta com o amarelo, que acolhe as obras no espaço expositivo. O sinal de dois pontos no título tornou-se um recurso gráfico. Foi redesenhado, multiplicado, produzindo camadas e formas no título, nos nomes das artistas e no projeto gráfico em geral”, conta a artista.

“Quanto a materialidade, para demarcar as camadas, usou-se diferentes acabamentos: um amarelo vívido na camada externa; na camada intermediária das paredes, um branco em sua parte frontal, côncava, trazendo a neutralidade e a calmaria desejada para a clareira, e em sua parte posterior convexa, diferentes madeiras de reflorestamento trazendo a natureza para o espaço. O mobiliário expositivo foi também feito com diferentes madeiras (de reflorestamento, devidamente certificadas) em diferentes tons, reforçando essa vontade da natureza estar no lugar”, completa Carmela Rocha .

 

MEDIAÇÃO

Os eixos a serem trabalhados na proposta educativa são os mesmos da exposição: gênero, arte e literatura, visando desdobramentos, continuidades e descontinuidades a partir do recorte curatorial e da experiência de fruição por meio das obras.

“O projeto educativo de biblioteca: floresta traz uma abordagem transdisciplinar, com enfoque na mediação contemporânea. Assim, pretendemos fomentar pesquisas e experimentações em arte/educação que promovam a aproximação da equipe educativa com os visitantes”, conta Amanda Cuesta, responsável pelo projeto educativo da mostra.

Além disso, uma programação integrada com oficinas e aulas abertas em ambiente online foi especialmente preparada para complementar as visitas, com temas que conversam com a mostra.

 

ARTISTAS E SUAS OBRAS

A obra que dá nome à exposição é de Simone Moraes. Ela colecionou, ao longo de quase dois anos, a primeira e a última palavra de cada um dos livros da Biblioteca Pedro Manuel-Gismondi, do MARP, resultando em 4.301 duplas de palavras que serão inseridas e plantadas com uma muda de árvore em Padre Bernardo, cidade do interior de Goiás, trazendo assim, a aproximação entre uma biblioteca e uma floresta. Além desta obra, Simone conta com mais quatro trabalhos na mostra.

Logo na entrada da exposição os visitantes encontrarão o conjunto Monotipias com verbos retirados do soneto de Machado de Assis, Spinoza, que trazem, na visão da artista, um componente libertário. São elas: gosto, achas e pensas, além do acréscimo de pode. A obra é de Carmela Gross .

Como um vento, um convite a entrar nesta floresta|exposição, O lugar da mutação, de Laura Berbert, é um audioguia que, por meio da narrativa de pequenos espaços, memórias, sensações e movimentos do corpo, faz uma espécie de meditação guiada.

Paloma Durante criou O Infinito é composto por uma série de finitos, em que treze perguntas foram carimbadas sobre superfícies variadas e serão espalhadas pelo espaço da mostra e entorno; as mesmas perguntas serão cochichadas ao pé do ouvido dos presentes na abertura da exposição. As perguntas foram elaboradas a partir do poema Pi, de Wislawa Szymborska, e que trazem questionamentos com números de difícil contagem.

Aline van Langendonck vai fazer, durante a temporada de biblioteca:floresta no Sesc Belenzinho, a série Erratas, em que 27 livros (escolhidos entre os preferidos de artistas participantes) terão cópias retiradas da coleção da própria unidade e re-inseridas com alterações, correções e pinturas posteriormente fotografadas, devidamente impressas e inseridas como erratas nos respectivos livros da biblioteca durante o período da exposição.

Renata Cruz vai, a partir da biblioteca do Sesc Belenzinho, escolher algumas obras e redesenhar as capas em aquarela que serão rasgadas depois. Encontros para rupturas. Estas aquarelas gerarão outra obra, Lido, uma compilação com estas aquarelas porém de forma desconstruída e reconstruída.

A mostra também conta com o áudio, o livro de origem e uma foto da ocasião em que foi feita a performance Momento vital de Vera Chaves Barcellos, em que a artista lê um livro composto por um único parágrafo.

Neide Sá, uma das únicas mulheres a integrar o movimento artístico da década de 1960 chamado Poema/Processo (em que os artistas buscavam romper com a ordem de leitura dos textos), é responsável pela obra Transparência, um objeto-poema composto de três caixas de acrílico incolor com muitas palavras escritas sobre suas faces que possibilitam muitas combinações de leitura.

Regina Parra fez Sim, um luminoso em neon azul que tem como ponto de partida o trecho Tenho medo que sim – fala da personagem Ofélia, da peça Hamlet, de William Shakespeare.

Mayana Redin, em Cosmic Records, trabalha com o conceito de durabilidade de uma informação, com pequenas esculturas. Sua irmã Mayra Martins Redin, também tem obras expostas, Poema de começo de construção e Réstia, que aproxima projeto e ruína, desenhos a nanquim e vídeo.

Lucia Mindlin Loeb parte de imagens de livros, em que imagens de livros, estantes, lombadas etc. são fotografadas e tem as impressões deslocadas milimetricamente e depois recortadas e montadas de forma a criar a impressão de uma lente. São elas: Ancia Eterna, O Silêncio é de ouro, Enciclopédia de conhecimentos gerais, e Conversa Fora .

Tendo como referência livros que são produzidos a partir de encaixes, conhecidos como pop-ups, Raphaela Melsohn criou Toda protuberância pode ser buraco, e, todo entre, encaixe. Ela convida os visitantes a sentar e usar, criando narrativas ao manusear livros de espuma e tecido costurados à mão, sem uma ordenação pré definida ou ordem exata.

Três dos trabalhos expostos em biblioteca: floresta se conectam pela pluralidade de vozes faladas. AGITPROP de Aline Albuquerque, mimimi, de Adelaide Ivánova, e Minhokê, de Fernanda Porto. São três trabalhos que a polifonia e o lugar de fala da mulher ganha mais complexidade e reúnem vozes muito distintas, porém cada uma delas, convoca uma ação, são militantes.

Também evidenciando a sonoridade, Janina McQuoid assina duas obras – Cameral Mart e Marg Leng – em que ela esculpiu palavras e juntou-as, sem que tivessem um significado.

Raquel apresenta ainda As coisas que eu não disse, com oito placas de cerâmica que foram queimadas num buraco no chão, com um texto gravado com tipos móveis, em baixo relevo, fazendo com que o visitante tenha que se aproximar. Na mesma linha, está Inventário, de Natalie Salazar, obra que parte do projeto de adquirir exemplares dos 14 romances do escritor Michael Bruckner, avô dela, que escreveu acerca de sua experiência durante a II Guerra Mundial.

Maíra Dietrich tem dois trabalhos em biblioteca: floresta: Escrever sobre Ler e ESCRITO. Enquanto o primeiro é uma construção visual e textual que organiza de forma não linear os acontecimentos, referências e memórias sobre a experiência da leitura e da escrita, o segundo traz um conjunto de cartões impressos que compilam afirmações escritas durante o processo de preenchimento de uma superfície com traços feitos à mão.

Júlia Ayerbe e Laura Daviña criaram o cartaz Yo, la peor del mundo [Homenagem a Juana Inés de la Cruz], para homenagear Juana, considerada a primeira feminista latino-americana. Na mesma linha está Brasa no seio, de Simone Barreto. Trata-se de um livreto com 20 relatos de mulheres operárias de fábricas de tecido da cidade de Fortaleza e uma série de aquarelas que acompanham esses relatos.

Assim que abro meus olhos, de Isabella Beneduci, configura-se em um lençol, em que ela fez o que chama de “coleção de desenhos diarísticos”. Isabella também criou Rabisco, um vídeo com o registro de movimentos com a mão que, em fricção com a parede, rabisca, escreve, desenha e devaneia.

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