Segunda edição da “Expedição Amazônia: conhecer para comunicar” leva comunicadores a diferentes locais e realidades da Amazônia
“A segunda edição da ‘Expedição Amazônia: conhecer para comunicar’ ofereceu uma oportunidade de interrupção na rotina dos participantes para romper com as certezas do dia a dia e abrir espaço para novas percepções e sentimentos, desconstruindo pensamentos e promovendo uma imersão total na complexidade da Amazônia”, explicou Emiliana Pomarico, gerente executiva da Escola Aberje de Comunicação, responsável pela iniciativa. “Um dos principais aprendizados proporcionados pela Expedição foi o reconhecimento de que não se pensa diferente entre iguais”, destacou Pomarico.
A Expedição é uma iniciativa desenvolvida pela Aberje para oferecer a profissionais de comunicação uma jornada imersiva na Amazônia sobre sustentabilidade abrangendo pessoas, biodiversidade, cultura, ciência e saberes tradicionais. Seus objetivos são sensibilizar e qualificar profissionais em comunicação para a sustentabilidade em organizações de diferentes segmentos de atuação. Ela é promovida pela Escola Aberje de Comunicação em parceria com a Academia Amazônia Ensina (ACAE). Esta edição teve patrocínio da BASF, do Itaú Unibanco e da LATAM Airlines.
A viagem foi dividida em duas etapas ao longo de uma semana. Em um primeiro momento, o grupo ficou em Manaus, onde conheceu diversas instituições na cidade e em seus arredores, como museus, institutos de pesquisa e tecnologia e a fábrica da Samsung. O foco dessa etapa foram os aspectos econômico e tecnológico da região. Na segunda parte da Expedição, o grupo se deslocou de barco pelo rio Negro e visitou comunidades ribeirinhas e projetos ambientais e sociais, com maior foco em sustentabilidade. A pluralidade de vozes encontradas na Amazônia – cientistas, ativistas, empresários, líderes comunitários – mostrou que a comunicação eficaz passa, necessariamente, pelo conhecimento de diferentes culturas e perspectivas. Para repensar as narrativas passadas e construir as futuras, é importante levar em conta as muitas vivências da região.
Desafios e caminhos amazônicos
As conversas com figuras-chave, como o professor Philip Fearnside, vencedor do Nobel da Paz em 2007, e a professora Andrea Waichman, trouxeram à tona questões cruciais sobre a perda de resiliência da floresta e os desafios de promover o progresso econômico sem comprometer a integridade ambiental. A Comunicação desempenha um papel fundamental nesse debate, apresentando ao público leigo questões complexas de maneira acessível. Instituições como o Museu da Amazônia fazem uma ponte entre a comunidade científica e a população. “A gente atua primariamente com a conscientização e a passagem de informações científicas para a população em geral, com um trabalho voltado para a educação ambiental”, explicou o biólogo Thiago Carvalho, do Museu da Amazônia. “Acima de tudo, temos de conhecer para saber o quão importante é manter esse sistema funcionando da forma como ele vem funcionando há milhões de anos”, afirmou Carvalho. Em visita aos laboratórios do Centro de Bionegócios da Amazônia, os expedicionários puderam aprender sobre a biomimética, ciência que estuda estruturas biológicas e seu potencial para solucionar desafios atuais, e viram de perto o potencial da natureza amazônica em inspirar soluções inovadoras para problemas contemporâneos, como o desenvolvimento de materiais sustentáveis.
“É muito gratificante falar sobre os desafios que nós temos na nossa região, para que eles possam sair daqui com a certeza do que nós dispomos e precisamos”, explicou Geraldo Feitoza, CEO do INDT – Instituto de Desenvolvimento Tecnológico, onde a Expedição conheceu os laboratórios de Biotech. “Que eles possam enxergar o futuro dessa região tão rica e promissora com sustentabilidade, com ações sociais, com preservação e conservação”, desejou Feitoza após a visita.
A viagem também abordou o empreendedorismo social e a bioeconomia como caminhos para a sustentabilidade. No Impact Hub Manaus, iniciativas como o Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) e a valorização dos produtos locais foram exemplos de como a comunicação pode impulsionar o desenvolvimento sustentável, conectando consumidores e produtores de forma significativa. “Estamos falando de comunidades em que precisamos gerar um valor agregado para esses produtos para que eles se transformem em um incremento de renda para as pessoas que trabalham na cadeia produtiva”, explicou Louise Lauschner, relações públicas da Inatú Amazônia, marca coletiva de associações cooperativas que oferecem produtos amazônicos para consumo de uma forma responsável. “A criação da marca coletiva Inatu veio da necessidade das associações produtoras de óleos vegetais e madeiras amazônicas de acessar o mercado. Ao trabalhar com grandes volumes, precisamos de uma marca para nosso produto não virar commodity”, afirmou.
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Ao falar sobre a relação entre a Comunicação e o Desenvolvimento Sustentável, a jornalista Nayara Figueiredo, do Valor Econômico, destacou o papel de comunicadores e comunicadoras. “Temos que começar a olhar as pautas de sustentabilidade de uma maneira diferente, porque estamos diante de uma questão de sociedade”, afirmou.
Outro ponto crucial foi a valorização das comunidades locais. Projetos como os da Fundação Amazônia Sustentável, que promovem o bem-estar de comunidades ribeirinhas e indígenas, mostraram que a preservação da Amazônia depende diretamente do cuidado com as pessoas que vivem nela. “Nós formamos pessoas nas comunidades que são hoje comunicadores, que têm falado de sua realidade e mostrado para o mundo aquilo que é importante, que vêm da alma e do coração de quem vive na Amazônia”, explicou Valcleia Solidade, superintendente da Fundação Amazônia Sustentável.
Entre os projetos da FAS, há iniciativas para levar água para comunidades distantes, formar lideranças femininas, prover acesso a telessaúde e educação para sustentabilidade, realizar monitoramento ambiental (para redução de desmatamento e queimadas) e gerar energia solar por meio do Projeto Sempre Luz. Em uma visita à comunidade Santa Helena do Inglês, a expedição viu de perto o projeto e conversou com o líder comunitário Nelson Mendonça, que explicou a importância de treinar a população local para que todos se sintam donos e responsáveis pelo projeto.
Os expedicionários ainda conheceram a Comunidade do Tumbira, onde conversaram com Roberto Mendonça Garrido, ex-madeireiro, que descobriu que a floresta vale mais em pé. Lá, cada visitante ajudou com o plantio de uma muda de uma espécie amazônica, como ipê, buriti, andiroba, açaí e cupuaçu para o sistema agroflorestal da comunidade.
Após a visita, ao tentar resumir sua experiência em uma palavra, Juliana Gonçalez Justi Pedott, consultora sênior de Sustentabilidade e Impacto Social da Latam, escolheu o termo equilíbrio. “Equilíbrio é o mais difícil de conseguirmos na Amazônia, é o grande desafio”, afirmou. “A Amazônia são dois mundos, riqueza de tecnologia, de ciência, de natureza e de desafios. Eu saio com a impressão de que a Amazônia é a mente do mundo, tem muita coisa sendo desenvolvida aqui e essa região traz a mensagem de futuro” afirmou Scheila Orlandi, coordenadora de Sustentabilidade da Portobello.
Descobertas e aprendizados
“Não é possível preservar a Amazônia e falar sobre sustentabilidade sem compreender as particularidades locais” destacou Martha Bernardo, secretária executiva de comunicação do Estado. “A preservação da Amazônia é uma responsabilidade do mundo inteiro, o mundo precisa enxergar a Amazônia e se enxergar como responsável pela sua manutenção”, completou.
As visitas reforçaram a importância de iniciativas que envolvem e capacitam os moradores locais, garantindo que eles se tornem protagonistas na conservação da floresta. A expedição sublinhou, ainda, a importância de se conhecer a Amazônia em suas diversas facetas antes de se comunicar sobre sustentabilidade. A pluralidade de culturas, línguas e realidades presentes na região desafia os estereótipos e revela a necessidade de uma abordagem comunicacional que considere essa diversidade. “O elemento ‘pessoas’ é fundamental, eu adorei ouvir as histórias de todos e conhecer seus desafios”, afirmou Micheli Rueda Pinto, consultora de Comunicação do Itaú.
“A responsabilidade que eu passo a ter é gigantescamente maior em relação a tudo aquilo que eu achava, que eu pensava, que eu sabia. Eu já vim muitas vezes para cá, essa foi a mais importante viagem que eu já fiz”, declarou o jornalista Carlos Tramontina. “Minha responsabilidade como jornalista passa a ser muito maior. Não falem do Amazonas se vocês não conhecem, essa é a posição que eu assumo a partir de agora: ouçam a Amazônia, ouçam as pessoas, vão para lá viver com ela”, disse Tramontina.
A “Expedição Amazônia: conhecer para comunicar” reforçou a importância de discutir sustentabilidade com um olhar atento e respeitoso para a realidade amazônica, com um convite para repensar o papel do comunicador, não apenas como um transmissor de informações, mas como um mediador que dá voz às múltiplas realidades que compõem a Amazônia. “Eu estou levando ideias, mas quero voltar e explorar outras regiões”, afirmou Aline Angelo Mazetti, consultora de Sustentabilidade da Basf. “Apesar de ter conhecido a Amazônia, eu sinto que não conheci, fica um gostinho de quero mais. O programa ensina que existem muitas Amazônias dentro da Amazônia e eu levo algo mais humano da Comunicação comigo, levo um pouco da humanidade das pessoas e dessas vivências diferentes”, contou Ana Carolina Ferreira da Costa, analista de Comunicação e Reputação do Itaú. “Dá vontade de conhecer muito mais, saio daqui com vontade de conhecer outras comunidades, outras famílias”, concordou Karina Mônaco, Head de Comunicação Corporativa América Latina da Basf.
“A troca de experiências e a escuta ativa permitiram a construção de novas narrativas e questionaram as certezas preexistentes dos participantes. As histórias e os conhecimentos adquiridos durante a expedição são um recurso valioso para futuras produções comunicacionais, palestras e cursos sobre sustentabilidade”, concluiu Pomarico.
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