“Relações institucionais, ESG e políticas públicas” é tema de mais uma reunião do Comitê de ESG
Não existe empresa bem-sucedida em sociedade falida. Lucratividade, competitividade e produtividade não podem estar dissociadas da sustentabilidade, principalmente no meio empresarial. Isso ficou claro durante a 8ª reunião do Comitê Aberje de Comunicação e Engajamento em ESG, que reuniu seus integrantes no dia 4 de outubro para um bate-papo sobre “Relações institucionais, ESG e políticas públicas”. O encontro contou com a participação de Fernando Almeida, gerente de Relações Governamentais na 3M do Brasil; e Juliana Lopes, diretora de Natureza e Sociedade no Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
Ao iniciar, o coordenador do grupo, Danilo Maeda, trouxe uma reflexão sobre a agenda do desenvolvimento sustentável e o papel do setor privado nessa agenda. “É curioso que a gente já vê na própria construção da agenda dos ODS em 2015, um olhar integrativo e um entendimento mais profundo de que alcançar o desenvolvimento sustentável não é um compromisso e uma responsabilidade apenas dos governos”, salientou. “É preciso estabelecer políticas públicas que obriguem o setor privado a se responsabilizar e mitigar os impactos negativos produzidos”, concluiu Maeda.
Ciência com propósito
Com o propósito de gerar soluções que melhorem a vida das pessoas, a 3M utiliza seu conhecimento técnico e científico e suas plataformas tecnológicas, para reimaginar o que é possível. É dessa forma que Fernando Almeida entende o propósito da 3M, que atualmente conta com 55 mil produtos em seu portfólio. “É interessante como, às vezes, uma política pública limita a implementação desse propósito, principalmente aqui no Brasil”, comentou.
Para chegar nesses 55 mil produtos, a 3M mantém sua base em quatro pilares: ética, sustentabilidade, desenvolvimento nacional e inovação. “Temos um Código de Conduta há muitos anos que é o norteador de toda a nossa atividade. Quando começamos um novo projeto, analisamos se será bom para o governo, bom para 3M e para a sociedade; essa avaliação permeia toda a atividade de defesa de interesses da 3M”, ressaltou.
O executivo também contou que o framework de sustentabilidade da companhia está baseado em três pilares: (1) ‘Ciência para Circularidade’, sobre incluir atributos de sustentabilidade e economia circular nos produtos, como material reciclado, redução de embalagem e outros que gerem menos impacto no meio ambiente; (2) ‘Ciência para o Clima’, com foco nas operações por meio de metas para redução do consumo de água, do consumo de energia elétrica, da geração de resíduos na manufatura e (3) ‘Ciência para a Comunidade’ que, por meio do Instituto 3M de Inovação Social, inclui questões educacionais para jovens em situação de vulnerabilidade e questões de diversidade.
Quanto às metas de descarbonização, a 3M tem o compromisso de chegar em 2050 como Carbono zero. “O mundo já entendeu que é importante caminhar para a descarbonização. O Brasil está falando de uma redução de 37% em 2025, de 43% em 2030 e carbono neutro em 2050; essa é a curva do país e isso tem que se desdobrar para as empresas, por meio de um mercado de carbono regulado. Isso, nada mais do que uma política pública”, salientou o executivo.
“O mercado de carbono regulado não é um ónus para as empresas; se estiver alinhado com as regras internacionais pode gerar competitividade para o país, se for bem feito”, colocou. “Esse diálogo é positivo para todos e tem que acontecer de forma ética, buscando resultado sustentável, alinhado às boas práticas internacionais e isso está muito ligado aos valores das empresas e como cada empresa tem o seu propósito e busca executar isso no país”, arrematou.
“Não existe empresa bem-sucedida em uma sociedade falida”
“A frase emblemática continua atual e mostra o quanto é necessário olhar para além do modelo de negócio”, destacou Juliana Lopes, do CEBDS. O Conselho existe há 26 anos e surgiu logo após a ECO 92 a partir da articulação de lideranças empresariais de vanguarda e, simultaneamente, após a criação do Word Business Council for Sustainable Development (WBCSD), o qual Björn Stigson, dono da frase acima, é presidente.
Na ocasião, a executiva falou sobre a atuação do Conselho, que está baseado nos pilares: clima, natureza e sociedade e como eles preparam o caminho para o lobby/advocacy em prol do desenvolvimento sustentável. O CEBDS, que atua com capacitação, conexões e advocacy, é uma organização multissetorial, que conta com mais de 100 empresas, representantes de todos os setores da economia. “Isso é uma fortaleza e também um desafio, mas é esse o caldo perfeito para a gente construir massa, crítica é consenso, que são ingredientes fundamentais para esse advocacy em prol do desenvolvimento sustentável”, comentou.
“Hoje há um cenário com três crises simultâneas: a emergência climática, a perda de biodiversidade e desigualdades. Então, 2030 é de fato o prazo que temos para conseguirmos construir respostas e soluções sustentáveis de impacto para responder a essas crises e implementar a agenda dos ODSs. Um dos desafios é acelerar essa rota de implementação e aí entra esse trabalho de advocacy. Se de um lado existe é um objetivo muito legítimo do lobby, que é justamente a manutenção do modelo de negócio, ao mesmo tempo tem uma urgência e uma demanda dos stakeholders por uma transformação sem precedentes de todos as atividades econômicas, sistemas políticos para responder a essas crises”, ressaltou.
Segundo Juliana, há evidências científicas do quanto o alcance da neutralidade climática vai exigir uma transformação sem precedentes de todos os setores da economia. “Isso ilustra o quanto a gente realmente precisa buscar uma ação coordenada e trabalhar para além também da manutenção do modelo de negócio”.
Considerando que o mundo mudou e que os stakeholders estão cada vez mais críticos, existe – na opinião de Juliana – um risco real de greenwashing e de social washing, por isso destaca a importância do diálogo com profissionais de comunicação e de sustentabilidade para integrar efetivamente essas questões à estratégia do negócio. “Além do risco reputacional existem risco de litígios. Hoje, muitas empresas estão recebendo litígios pelo não-cumprimento de expectativas em relação a esses stakeholders”, comentou.
Em seu eixo de capacitação, o CEBDS conta com uma série de publicações e uma delas é o Guia de Comunicação. “Essas diretrizes são muito importantes justamente para prevenir o greenwashing e permitir a integração dos aspectos ambientais, sociais e de governança à estratégia do negócio”, reforçou.
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