Primeira reunião do Comitê Aberje de Comunicação e Reputação Organizacional discute o desafio da reputação em tempos de hiperconectividade

A primeira reunião do Comitê Aberje de Comunicação e Reputação Organizacional, realizada de maneira virtual no dia 19 de março, reuniu um total de 52 profissionais de empresas associadas para discutir os desafios contemporâneos da gestão da reputação em um ambiente cada vez mais digital e veloz. O encontro foi marcado pela troca de experiências e pela complementaridade de visões sobre a necessidade de um olhar mais estratégico, transparente e coerente por parte das organizações em mundo permanentemente online.
A discussão partiu da pergunta “Qual o valor da reputação em tempos de hiperconectividade?” e revelou que, diante da avalanche de informações, da multiplicidade de vozes e da instantaneidade dos julgamentos públicos, a reputação deixou de ser apenas um ativo simbólico para se tornar uma competência organizacional. A construção desse valor depende hoje da consistência entre discurso e prática, do engajamento das lideranças e da preparação de toda a estrutura interna para agir com clareza e agilidade.
Os participantes destacaram que, embora os princípios que sustentam a reputação permaneçam os mesmos, o ambiente digital ampliou riscos, oportunidades, complexidades e a necessidade de respostas rápidas. A transparência, apontada como valor essencial, precisa ser exercida em todas as instâncias – não apenas como obrigação, mas como ativo de proteção e conexão com os públicos.
Em um momento do encontro, uma executiva do setor industrial afirmou que a reputação deve ser tratada como parte da estratégia de gestão, com envolvimento direto do nível executivo. Já uma profissional da área de comunicação lembrou que, na prática, as empresas perderam o controle absoluto sobre suas narrativas, o que exige coerência e preparo para enfrentar tanto o julgamento imediato quanto a persistência das informações no ambiente digital.
Outro ponto recorrente foi o impacto da hiperconexão na fragmentação da identidade corporativa. Com diferentes porta-vozes dentro das corporações e múltiplos canais, torna-se mais difícil manter uma voz unificada. Nesse cenário, ganha relevância a formação de redes de aliados confiáveis – incluindo stakeholders externos e colaboradores – que possam apoiar e validar a comunicação da organização.
A discussão abordou também o paradoxo da era digital: apesar da conexão permanente, cresce o risco de uma desconexão emocional com os públicos. Para enfrentar esse descompasso, as empresas precisam investir em capacitação e em uma escuta mais qualificada, capaz de sustentar vínculos consistentes com as pessoas.
Ao final da reunião, foi reforçada a importância de tratar a reputação como um processo coletivo, que exige clareza sobre os valores da organização e constância nas ações. Foram apresentados os temas que serão aprofundados ao longo do ciclo de encontros deste ano, entre eles a mensuração da reputação, os riscos digitais, a cultura organizacional e os impactos políticos e econômicos sobre a imagem institucional. “Temos um verdadeiro time dos sonhos nesse comitê e a ideia é usar uma dinâmica semelhante aos cursos de MBA e favorecer troca de experiências e, sempre, consolidar os insights”, explicou Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR, nomeado coordenador do grupo. Para ele, o primeiro encontro cumpriu seu objetivo. Thalita Dominato, da Aberje, reforçou que o comitê é um espaço seguro para troca de informações, lembrando que as reuniões não são gravadas para que todos possam se manifestar livremente.
Reputação sob pressão: os 17 achados do Comitê
A partir das contribuições dos participantes, emergiram 17 pontos que ajudam a desenhar um mapa dos desafios e caminhos para a construção e proteção da reputação na era da hiperconectividade. São reflexões que tocam desde o papel das lideranças até a velocidade da informação, passando pela necessidade de coerência, capacitação e visão estratégica.
- Reputação como estratégia de gestão – A reputação é uma responsabilidade direta do nível estratégico (C-Level) e exige visão para prevenir crises e aproveitar oportunidades. A gestão reputacional precisa ser ágil, cuidadosa e realizada em tempo real.
- Conceito B2P (Business to People) – A comunicação deve ser voltada diretamente às pessoas, reconhecendo os indivíduos como audiência central. Todos os stakeholders são, antes de tudo, pessoas.
- Compliance como pilar da reputação – A reputação está diretamente associada ao grau de compliance da empresa. Transparência nos processos internos reduz riscos reputacionais.
- Comunicação estratégica como fator protetivo – Uma comunicação efetiva protege a reputação, reduz impactos negativos e deve ser transparente, autêntica e refletir a identidade real da organização.
- Conscientização da liderança e colaboradores – As lideranças precisam compreender o valor estratégico da reputação. Os colaboradores devem perceber com clareza a importância atribuída ao tema.
- Amplificação dos riscos e oportunidades – Em um ambiente hiperconectado, riscos e oportunidades são potencializados. Crises podem escalar rapidamente, mas ações positivas também se propagam com velocidade.
- Desconexão real na era digital – Apesar do excesso de conexão digital, há risco de desconexão real, emocional e valorativa com os públicos.
- Transparência e autenticidade – Marcas precisam comunicar com clareza e sinceridade sobre quem são. A transparência é ferramenta essencial para sustentar a reputação.
- Perda do controle da narrativa – As empresas já não detêm controle absoluto sobre sua narrativa. A hiperconectividade permite que terceiros moldem a percepção pública.
- Importância do rastro digital – Tudo que é publicado deixa um rastro, real ou falso. É fundamental criar mecanismos que permitam ao público comparar informações e acessar versões confiáveis.
- Alianças com stakeholders – As empresas não são mais as únicas fontes confiáveis de informação. É necessário estabelecer alianças estratégicas com stakeholders externos.
- Velocidade na checagem de informações – Hoje, múltiplas fontes validam ou refutam informações em questão de minutos. Agilidade é decisiva na comunicação e na gestão de crises.
- Aliados como fontes de suporte – Redes sólidas de aliados e parceiros ajudam a validar a comunicação e reforçar a reputação da organização.
- Visibilidade da reputação baseada em transparência – A transparência é base para visibilidade positiva. Comunicação autêntica e consistente reforça a reputação ao longo do tempo.
- Legitimidade em questões sociais – Os posicionamentos sociais precisam ser legítimos e coerentes com os valores da empresa. Não é necessário se manifestar sobre todos os temas, evitando autocobrança excessiva.
- Gestão do backlash com coerência – Mesmo diante de críticas ou backlash, a empresa deve manter coerência entre discurso e ações para preservar sua reputação.
- Exposição global imediata x construção da reputação – A exposição pode ser instantânea, mas a reputação se constroi com tempo, constância e estratégia.
Encerrando a reunião, Ibiapaba Netto reforçou a importância do Comitê como espaço de aprendizado e troca de experiências. Thalita Dominato anunciou a votação para definir a vice-coordenação do Comitê e a priorização dos temas que serão debatidos nos próximos encontros. A dinâmica dos encontros futuros será estruturada a partir dessas escolhas, garantindo que os assuntos mais relevantes para os participantes sejam aprofundados.
Sobre os Comitês
Os Comitês Aberje de Estudos Temáticos são espaços seguros para troca de informações e aprendizado mútuo para profissionais da rede associativa. São grupos fixos de membros, nomeados por organizações associadas à Aberje, que se reúnem com regularidade para discutir, aprofundar e gerar novos conhecimentos sobre determinados temas de interesse da Comunicação Corporativa. A participação nos Comitês é exclusiva para empresas associadas e os temas e grupos são renovados a cada ano. Com calendário predeterminado para os encontros, o processo de seleção dos membros ocorre no início de cada ano.
A cobertura dos encontros dos Comitês segue a Chatham House Rule, onde os participantes são livres para usar as informações recebidas, mas preservando a identidade e filiação dos membros daquela reunião, de modo a permitir que a discussão possa se dar livremente em um ambiente seguro.
Destaques
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