Por dentro da Comissão de Engajamento e Comunicação do Pacto Global
*Natália de Campos Tamura
Existem temas que são imprescindíveis na interface com a comunicação. Um deles tem sido a proposta da sustentabilidade. Há pelo menos 100 diferentes definições sobre o tema, tamanha é sua amplitude e complexidade, mas uma das definições mais conhecidas e divulgadas sobre desenvolvimento sustentável surgiu em 1983, ao ser estabelecida a Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento: “Satisfazer as necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades”.
De lá pra cá, diversas instituições assumiram a proposta de tratar o tema com profissionalismo e relevância prática. Uma delas é o Pacto Global, uma iniciativa proposta pela Organização das Nações Unidas para encorajar empresas a adotar políticas de responsabilidade social corporativa e sustentabilidade, desenvolvida no ano de 2000, pelo ex-secretário das Nações Unidas, Kofi Annan.
Conforme anunciado pelo próprio Pacto Global, sua proposta não é ser um instrumento regulatório, um código de conduta obrigatório ou um fórum para policiar as políticas e práticas empresariais. Sua proposta é inspirar realidades, principalmente empresariais a aderirem voluntariamente a diretrizes que prezem pela promoção do crescimento sustentável e da cidadania. Para isso, conta com 10 diretrizes fundamentais, conforme a seguir:
Em 2003, é fundada no Brasil a Rede Brasil do Pacto Global, uma rede local que conta com mais de 700 signatários e cuja proposta é atuar em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
E o que são as ODS e a CEC?
Em 2015, líderes mundiais reuniram-se na sede da Organização das Nações Unidas a fim de discutir e organizar um plano de ação que envolvesse pessoas, o planeta e a prosperidade. Foi definida, então, a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, ou seja, um conjunto de metas e tarefas a serem realizadas até 2030 no mundo ao qual chamamos de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os temas vão desde o combate a fome, ao olhar atencioso para a vida debaixo d’água.
As iniciativas de colaborar com o cumprimento dos ODS não são apenas estatais. Várias empresas assumiram o papel de colaborarem com as metas olhando para suas rotinas e fazendo alterações nelas. Neste sentido, vale desde a mudança de pequenos hábitos em um escritório, por exemplo, ao investimento na sua comunidade local.E para colaborar com esta ampla rede de empresas, fornecedores, clientes, comunidades locais e qualquer parceiro que possa e queira ajudar no cumprimento das ODS, em 2016 foi criada a CEC, Comissão de Engajamento e Comunicação formada, em geral, por comunicadores e profissionais de sustentabilidade que atuam em diferentes frentes das empresas e organizações signatárias. A principal missão da comissão, coordenada pela Ana Paula Caporal (responsável pelo Planejamento de Sustentabilidade e Gestão de Stakeholders da Enel) é ampliar a discussão sobre o engajamento das empresas no tema do desenvolvimento sustentável e a produção de materiais didáticos que facilitem o entendimento e a disseminação dos dez princípios do Pacto Global e dos ODS para qualquer público de interesse das organizações. Por isso, é frequente a reunião dos membros da CEC, seja por call ou presencialmente, para atualização dos materiais divididos em 3 frentes de trabalho:
> SUBCOMISSÃO DO KIT PARA PARCEIROS E FORNECEDORES, coordenada por Daniel Escobar, comunicação corporativa da Amaggi/MT. Este grupo de trabalho atua principalmente com a produção de materiais que esclareçam novos signatários sobre seu papel na conscientização da sua rede de atuação;
> SUBCOMISSÃO DE BANCO DE BOAS PRÁTICAS, coordenada por Romeu de Bruns, assessor de comunicação da Itaipu Binacional/PR. O grupo busca reunir práticas corporativas elogiáveis que sirvam de inspiração para aplicação em outras realidades;
> SUBCOMISSÃO DE PROTOCOLO DIGITAL, coordenada por Fernando Guimarães, da Planisfério. Este grupo atua principalmente na produção de materiais voltados para as redes sociais.
Sobre a visita da CEC na empresa Itaipu Binacional
Em junho, os integrantes da CEC reuniram-se na empresa Itaipu Binacional ao longo de um dia inteiro, a fim de conhecer a realidade socioambiental da empresa, trocar boas práticas entre os participantes e dar andamento aos materiais que vem produzindo. Além de conhecer as instalações da empresa por dentro e por fora, a comissão da CEC pode dialogar ao longo de uma manhã com as equipes de comunicação e sustentabilidade e fazer trocas produtivas sobre as práticas adotadas pela empresa em relação aos temas.
Itaipu, ou “a pedra que canta”, em tupi, é uma empresa que surpreende, sobretudo, por sua história de dupla nacionalidade – brasileira e paraguaia. Em 1973 é firmado o primeiro acordo que dará início às obras no ano seguinte. Segundo informações da empresa, entre 1975 e 1978, mais de 9 mil moradias foram construídas nas duas margens para abrigar os homens que atuam na obra. Até um hospital é construído para atender os trabalhadores. Na época, Foz do Iguaçu era uma cidade com apenas duas ruas asfaltadas e cerca de 20 mil habitantes, em dez anos, a população passa para 101.447 habitantes. São tantos os homens que vieram de todas as partes do Brasil e do Paraguai para a construção que foram apelidados de barrageiros. Para termos uma ideia da quantidade de barrageiros em campo, no auge da construção da Itaipu, foram servidas 27 toneladas de refeições em um único dia. Mais de 30 mil barrageiros recarregavam suas forças para colocarem de pé este momumento da engenharia moderna. E eles tinham até um vocabulário próprio: tonico e tinoco era o famoso arroz e feijão; relógio de pulso era o ovo frito; macarrão era conhecido como fio de telefone e carne seca como paletó de malandro.
Mas além do desafio humano, a empresa sempre teve um desafio energético e diplomático para conciliar. Segundo a empresa, em 2016, a Itaipu Binacional foi a primeira hidrelétrica do mundo a ultrapassar 100 milhões de megawatts-hora (MWh) de geração anual. Com um total de 103.098.366 MWh, a usina superou o recorde de 98,8 milhões de MWh estabelecido pela chinesa Três Gargantas, em 2014, e recuperou o primeiro lugar mundial em produção anual de energia limpa e renovável. A Itaipu também é a maior hidrelétrica do mundo em produção acumulada. Desde quando começou a operar, em maio de 1984, já gerou mais de 2,4 bilhões de MWh.
O desafio diplomático tem a ver com a conciliação dos termos, desde sua origem, entre Brasil e Paraguai. Segundo os acordos estabelecidos, todas as equipes precisam ser divididas em metade de profissionais de uma nacionalidade e a outra metade da outra. Assim também funciona a energia produzida pela empresa. Mas, como o Paraguai utiliza pouco da sua metade produzida, costuma vender para o Brasil boa parte do que lhe cabe.
A empresa também chamou atenção da CEC pela quantidade de projetos socioambientais que desenvolve. De ações que protejem a fauna e a flora a intermediação com aldeias indígenas, um dos grandes focos é sempre manter a água manipulada pela usina limpa e saudável para a região, além de retirar com vida os peixes que entram nas turbinas, quando seguem o fluxo das águas até a hidrelétrica. Os programas de responsabilidade social vão desde incentivar a educação e as práticas esportivas entre as crianças e os jovens da região ao incentivo da igualdade das oportunidades de trabalho para homens e mulheres. Também está em pauta a atividade turística da usina como forma de estimular o desenvolvimento da região de fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina.
A empresa é signatária do Pacto Global e contribui com o cumprimento dos ODS ao atuar e estabelecer diálogo com boa parte dos seus públicos – de clientes a fornecedores, de crianças a seus funcionários. O objetivo da Itaipu, ao aderir ao Pacto Global, é contribuir para a promoção dos princípios propagados em sua área de atuação, iniciando pela inclusão em sua estratégia e operações diárias.
* Natália de Campos Tamura representa a Aberje na secretaria executiva do CEC do Pacto Global. Tamura é doutoranda em Ciências da Comunicação pela USP, mestre em Educação, Arte e História da Cultura, pela Universidade Mackenzie, especialista em Gestão da Comunicação pela USP e bacharel em Relações Públicas pela Faculdade Cásper Líbero. Atuou em Comunicação Corporativa na Indústria Farmacêutica Mantecorp e em Sustentabilidade com Projetos de Voluntariado, Desenvolvimento de Comunidades e Redes de Apoio nas empresas Unimed e Porto Seguro. Hoje é consultora nas áreas de comunicação e sustentabilidade e leciona Responsabilidade Social Corporativa no MBA da Aberje e da Cásper Líbero e Relações Públicas na Universidade Anhembi Morumbi.
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