Pluralidade e escuta: o novo diálogo corporativo foi tema do segundo dia do III Fórum de Comunicação Corporativa
Parceria entre Aberje e Valor Econômico promove rodas de conversas com especialistas em comunicação; próximo evento será no dia 28 de setembro
Pluralidade e escuta: o novo diálogo corporativo. Esse foi o tema da segunda sessão do III Fórum de Comunicação Corporativa Aberje/Valor, realizado no dia 23 de setembro. O fórum, que teve sua primeira sessão no dia 21 – Como lidar com os conflitos na era da desinformação –, tem como tema geral “A Comunicação na construção de pontes para impulsionar os negócios: como se preparar para o conflito, promover o diálogo e trabalhar o consenso”. O próximo e último encontro acontece no dia 28 de setembro. O evento é sempre transmitido ao vivo no canal do YouTube do Valor Econômico.
Participaram Ana Julião, gerente geral da Edelman Brasil e CEO da Zeno São Paulo; Eleni Gritzapis, diretora de Assuntos Corporativo para a Dow na América Latina; Marcelo Lyra, VP de Comunicação, Relações Institucionais e ESG na Acelen; e Raquel Ogando, diretora Global de Sustentabilidade e Reputação da BRF.
O novo diálogo corporativo
Levando em conta a forte polarização política e social que se vê no Brasil e em outras partes do mundo atualmente, qual a visão para o novo diálogo corporativo? Ao responder, Ana Julião ponderou que hoje se vive um momento de muita complexidade e as empresas acabam sendo um reflexo desse ambiente. Na ocasião, Ana revelou que a recente pesquisa da Edelman Trust Barometer aponta que as empresas tiveram um nível de confiança de 26 pontos acima da média da confiança nas demais instituições. “Esse percentual de confiança aumentou em seis pontos de maio para cá, o que mostra que o ambiente empresarial é considerado o mais seguro. Por isso não podemos dissociar a questão da confiança da pluralidade e do diálogo”, acentuou. “O brasileiro considera o ambiente de trabalho um ambiente seguro para dialogar”, completou.
“O diálogo é a ferramenta de transformação, de mudança, de ruptura com o antigo, com o passado, com o que precisa mudar. Não é a polarização”, complementou Marcelo Lyra. “Se nós chegássemos no ambiente de trabalho com polarização, definindo sistemas, critérios, métodos, forma de pensar, a nossa capacidade de atrair pessoas para trabalhar conosco, relação com comunidade, fornecedores novos e relação com clientes, seria próximo de zero. O diálogo é a verdadeira ferramenta de comunicação”, concluiu.
Na visão de Eleni Gritzapi, as empresas são o único lugar em que não se pode viver numa bolha. “Somos obrigados a conviver com pessoas com visões diferentes; as empresas são ambientes plurais. Eu posso escolher viver numa bolha numa rede social ou mesmo na minha família, mas a empresa é onde temos acesso à pluralidade de opiniões”, salientou. “Cada vez mais, nesse papel do comunicador de construir pontes num ambiente tão polarizado, as empresas têm valores que são inegociáveis, como a inclusão e diversidade que temos aqui na Dow”, contou.
“Com relação à confiança, a gente viu essa evolução e [vimos também] uma grande oportunidade, especialmente durante a pandemia, quando as empresas realmente passaram a ser um espaço de referência num ambiente bastante polarizado e com um enfrentamento muito grande de fake news”, disse Raquel Ogando. “É fato que as empresas acabam sendo esse espaço onde se tem o exercício do convívio com o diferente. Em tempos de desafios complexos, a gente precisa da diversidade para encontrar soluções complexas. Nosso papel como comunicadores acaba sendo de mediação desses diálogos”, completou.
Escuta ativa na cultura empresarial
Na ocasião, os participantes também puderam comentar sobre escuta ativa e se a cultura organizacional híbrida é um desafio para essa escuta e como tornar os diálogos mais eficientes com equipes distribuídas de forma remota. Para Ana, a comunicação tem um papel ainda mais importante do que tinha antes da pandemia, com ênfase no engajamento. “A comunicação informa, esclarece e atua sobre a percepção das pessoas e engaja. Nesse ambiente híbrido, eu acredito ser fundamental chamar o colaborador para que, genuinamente, ele participe dessa conversa, dando a sua opinião na construção do processo, sendo ouvido e sentindo segurança para dar a sua opinião”, comentou.
Lyra contou que a Acelen nasceu na pandemia, então ainda estão estruturando a empresa quanto à cultura empresarial. “Mesmo sendo digitais, o mundo híbrido nos afetou com a percepção de que o presencial é absolutamente necessário. A conexão entre as pessoas no presencial tem sua dinâmica própria onde algumas sutilezas da comunicação ocorrem na dimensão pessoal e não na remota”, frisou.
“As pessoas consomem informação de forma diferente, por isso é muito importante conhecer o seu público e tentar segmentá-lo sabendo que mesmo numa segmentação as pessoas são diferentes”, comentou Raquel, acrescentando que na BRF é feita uma grande pesquisa anual para aprofundar isso. “A gente mantém canais abertos ao longo do tempo para capturar as necessidades desses diferentes públicos”.
Mensurando os canais de comunicação
E como metrificar os resultados advindos das ferramentas aplicadas para o aprimoramento do diálogo e da escuta ativa? Na visão de Ana, mais importante do que a métrica é manter todos os canais de comunicação abertos de forma permanente. “Quando falamos em comunicação externa, a gente pensa que é preciso repetir a mensagem com frequência; para a interna também é. Para criar engajamento a gente precisa de consistência e de repetição”.
“Penso que precisamos de ferramentas que sejam metrificadas com perenidade nesse cenário mais do que no passado. Precisamos olhar com mais atenção para esses detalhes, com uma periodicidade menor porque a complexidade aumentou muito”, salientou a executiva.
Para Lyra, não dá para medir comunicação como era feito antes. “Estamos falando de ideias, pessoas, culturas, comportamentos diferentes. Se falamos de canais de comunicação diversos, como eu vou comparar esses canais se eles são diferentes?” indagou. “Medir a eficiência de canais de comunicação é extremamente difícil e esse é um grande desafio da comunicação no futuro e no presente. Entendo que precisamos fazer pesquisas de clima com uma frequência adequada”, colocou.
“Com a pandemia ficamos mais confortáveis em ajustar caminhos e estratégias com uma agilidade muito maior do que antes. Esse foi um grande aprendizado da pandemia e fomos aprendendo fazendo, errando, ajustando e recebendo inputs. Eu acho isso muito importante pra gente sair da questão de métricas e entender como esses inputs chegam para nós e como os usamos”, argumentou Eleni.
Já Raquel entende que as métricas e indicadores ajudam a mostrar um caminho evolutivo. “Nós acreditamos muito em indicadores e penso que a tecnologia facilita termos uma leitura de dados para podermos analisar”, disse. “A comunicação corporativa tem um papel importante para mover o negócio e para contar a história da vida contemporânea da empresa, mediar as conversas mas principalmente ajudar a organização a chegar aonde ela quer chegar”, finalizou.
Assista ao vídeo do segundo dia do fórum:
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