5 insights da relação Brasil x EUA pós-eleições americanas
LiderCom recebe especialistas da FTI Consulting para analisar o panorama das eleições americanas e seus reflexos no Brasil e no mundo
Nunca as eleições americanas despertaram tanto interesse global quanto a ocorrida em 2020, além de ter batido o recorde de eleitores que exerceram o direito de voto – mais de 160 milhões de cidadãos estadunidenses. Quais as perspectivas para o Brasil e para as empresas brasileiras com a eleição do novo presidente dos EUA? A partir do tema Perspectivas das eleições americanas – Impactos no ambiente de negócios entre Estados Unidos, América Latina e Brasil, a Aberje promoveu mais um encontro do LiderCom – grupo de líderes da Comunicação Corporativa –, no dia 19 de novembro, com Ana Heeren e Nelson Litterst, ambos da FTI Consulting, empresa de consultoria em estratégias, sediada em Washington, Estados Unidos.
Ao abordar as principais lições que se pode retirar dessas eleições, o diretor-executivo de Assuntos Governamentais da FTI, Nelson Litterst – que possui experiência como assessor especial para assuntos legislativos da Casa Branca e atuou no governo de George W. Bush –, apresentou um panorama geral das eleições e delineou o que se pode esperar para o futuro, inclusive na relação Estados Unidos–Brasil. Confira cinco temas de reflexão:
Biden e Bolsonaro
O novo presidente americano precisará do Brasil como um aliado, mas deverá pressionar nas questões relativas ao meio ambiente
Os diretores da FTI Consulting acreditam que, devido à pandemia, o foco da próxima administração norte-americana será mais voltado às questões internas do país. De todo modo, nas relações internacionais, a América Latina terá um papel relevante, já que um dos objetivos de Biden é reforçar laços com países democráticos desta região. Do ponto de vista econômico, os especialistas calculam que haverá incentivo do consumo de serviços e produtos norte-americanos, visando combater a terceirização internacional destes.
Ana Heeren, diretora-geral da FTI Consulting para América Latina e Caribe acredita que se o governo norte-americano aprovar um pacote de estímulo econômico para combater o impacto da pandemia, isso terá uma grande repercussão em países latino-americanos. Se conseguir fortalecer sua economia através destes pacotes, o país terá mais capital para comercializar produtos e serviços com países desta região e irá consolidar relacionamentos internacionais”, explicou.
Na ocasião, a executiva mencionou sobre o começo do relacionamento entre Jair Bolsonaro e Joe Biden. “Sabemos que Bolsonaro era um forte aliado da administração Trump e que o presidente brasileiro desejava a reeleição do atual presidente. Mas a relação bilateral não ocorre somente entre chefes de Estado, há muitas pessoas dentro do governo norte-americano, das áreas de comércio e das agências governamentais, que têm mantido o contato com diversas esferas do governo brasileiro. Este relacionamento diplomático não vai acabar”, argumentou.
Em sua análise, Biden precisará do Brasil como um aliado, mas para conseguir o que espera dessa aliança, deverá pressioná-lo nas questões relativas ao meio ambiente. “Os EUA precisam do Brasil como um aliado comercial, principalmente quando analisamos o relacionamento do governo norte-americano com a China”, frisou, acrescentando que Biden gostaria que o Brasil liderasse a agenda ambiental ao lado dos EUA. “Mas os presidentes terão que chegar a um consenso”, afirmou.
“Acho que veremos embate político neste relacionamento, porém nada grave do ponto de vista comercial. Muitos dos clientes da FTI Consulting estão interessados no potencial que um tratado comercial entre o EUA e o Brasil teria”, comentou. “Já sabemos que Biden tem um extenso relacionamento com países latino americanos e podemos esperar uma maior abertura em relação à imigração. Um dos focos para a região será o fortalecimento do relacionamento com países democráticos e o monitoramento de países que não seguem características democráticas, como a Venezuela”.
5G no Brasil
Nova tecnologia no Brasil será palco de disputa entre EUA e China
Em outubro, o Brasil assinou acordo de Redes Limpas com os Estados Unidos a fim de que nenhum fornecedor da rede 5G de telefonia móvel no Brasil tivesse laços com o governo chinês. Em contrapartida, o governo estadunidense sinaliza investir nas empresas de telecomunicações brasileiras. Mas o que se pode esperar, de fato, da estratégia de Biden sobre a difusão dessa nova tecnologia?
Na análise do diretor-executivo de Assuntos Governamentais da FTI, Nelson Litterst, haverá uma clara diminuição na retórica que Trump disseminava em relação ao chineses. “Não acho que haverá alguma ação para flexibilizar restrições contra a China. Ambos os partidos [Democrata e Republicano] estão preocupados com questões relacionadas à privacidade e segurança nacional, além disso estão monitorando empresas como Huawei e ZTE”.
Para ele, uma das críticas à campanha presidencial de Joe Biden é que ele não seria suficientemente rígido com o governo chinês e isso poderia ser prejudicial ao país. “Biden terá que tomar cuidado com esse aspecto dos relacionamentos internacionais. Podemos concluir que ambos os partidos estão preocupados com a China e com a propagação do 5G”, concluiu o especialista. “A assinatura do documento por parte do Brasil foi um ato um tanto simbólico. Foi um bom sinal para a futura administração dele, pois significa que o Brasil está disposto a cooperar com alguns projetos dos EUA”, completou Ana Heeren.
Amazônia e questões climáticas
Haverá pressão retórica para que o Brasil se comprometa nas questões climáticas, mas ameaças comerciais são improváveis
Em seus discursos prévios, Biden já havia ressaltado que seria mais rigoroso com pautas ambientais, inclusive se referindo à Amazônia e a uma possível cooperação entre países com a finalidade de proteger o bioma. O diretor da FTI, Nelson Litterst enfatizou que o governo norte-americano tem critérios nos quais classifica os países que respeitam normas ambientais internacionais e também está mapeando os que as infringem. “Os democratas irão pressionar os países que não possuem um forte compromisso com o meio ambiente e outros líderes globais irão ajudar o governo norte-americano neste processo. Mas acho que a futura administração dos EUA não tomará ações muito drásticas para reforçar este compromisso, particularmente quando focamos no Brasil. Haverá uma pressão conjunta dos países para apontar o dedo àqueles que não fazem o suficiente ao meio ambiente, de acordo com suas perspectivas”.
“Concordo com o Nelson, não acho que o Biden irá tomar ações diretas para reforçar a agenda democrata referente ao meio ambiente em outros países. Eu não acho que Biden vai utilizar acordos comerciais como um recurso para pressionar estas nações, como Trump fez. Até porque não existem muitos acordos comerciais com o Brasil que permitem que os EUA façam isso”, complementou Ana.
Outro ponto importante para esse tópico é que o Brasil está próximo de se juntar à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, instituição conhecida por fazer com que países assinem acordos que não os interessam inicialmente, estipulando diversos critérios aos seus membros, principalmente quando o foco é o meio ambiente, propriedade intelectual e direitos humanos. “Se o Brasil escolher se juntar a OCDE, pode ser que Biden utilize isso para reforçar o compromisso do Brasil com o meio ambiente e outros assuntos relevantes para a agenda democrata. Além disso, haverá a pressão de outras nações ao Brasil a medida que a governança ambiental, social e corporativa se torna um assunto cada vez mais importante”, ressaltou a executiva.
Setor corporativo brasileiro
Empresas não podem sentar e esperar que os canais tradicionais de comércio exterior funcionem
Uma das grandes preocupações atuais no setor corporativo é em relação às questões ambientais, sociais e de governança (ESG). Durante o encontro, Litterst enfatizou que, se uma empresa quiser atuar no mercado norte-americano no futuro, ela terá que estar alinhada aos critérios estipulados em relação a este tópico. “No momento, existem projetos no Congresso para consolidar relacionamentos com empresas brasileiras e diversos políticos querem aprofundar este relacionamento”.
Ao complementar, Ana enfatizou que muitas empresas têm utilizado canais diplomáticos para divulgarem suas opiniões aos políticos de Washington. “Eu acho que esses canais irão se enfraquecer durante a nova administração. Empresas brasileiras precisarão ter iniciativa para buscar apoio do governo americano caso o relacionamento entre os países não desenvolva. Se a sua empresa possui uma filial nos EUA, entre em contato com o político da região em que a sua empresa atua, pois ele certamente estará interessado em conversar. Empresas não podem sentar e esperar que os canais tradicionais de comércio exterior funcionem. Esta é uma boa prática corporativa em qualquer situação e não é exclusiva à atual situação política”, recomendou.
Biden x Obama
Mais pragmático que Obama, dinâmica de governança de Biden deverá ser mais controlada e não tão veloz. EUA do novo presidente é muito diferente do país governado por Obama: mais protecionista e conservador, mais focado nas questões domésticas e, nas relações exteriores, mais focado na China, ao invés do Oriente Médio
Na ocasião, o diretor-geral da Aberje Hamilton dos Santos comentou que, de certa forma, alguns enxergam a administração Biden como uma continuação da administração Obama e que muitos consideram Biden um político previsível, o que é positivo para o mercado. “Na sua opinião, quais são as principais diferenças entre Biden e Obama? Biden poderá fazer algo que nos surpreenda?”, perguntou.
Nelson Litterst respondeu que a principal diferença é que Biden é mais institucionalista que Obama. “Isso quer dizer que Biden tem uma grande admiração pelo Senado. Biden é muito próximo do Mitch McConnell, que é o líder do partido Republicano no Senado. Se os republicanos obterem a maioria no Senado, McConnell será o Senador republicano com maior poder de atuação. Biden e McConnell são amigos, então isso pode ser benéfico para o relacionamento entre a presidência e o Senado”, analisou.
“Eu acho que Biden é mais pragmático que Obama, porém creio que sua dinâmica de governança será bem mais controlada e não será tão veloz. Além disso, Obama acreditava ter uma maioria relevante no governo para poder aprovar projetos e Biden terá que trabalhar com o crescimento da representatividade Republicana no Senado e na Câmara. Biden terá que avaliar os projetos que quer tentar passar por ambas as instituições”, completou.
“Biden terá muitos problemas para resolver. Biden assumirá um Estados Unidos muito diferente do que costumava ser. Os EUA está muito mais protecionista e conservador, particularmente depois do começo da pandemia. Diferente de Obama, Biden terá que focar muito mais no público interno do que nos assuntos externos, devido à atual situação do país. Obama teve que focar muito no relacionamento com países do Oriente Médio e esse foco mudou gradativamente para a China. Ambos presidentes assumiram em situações bem diferentes, portanto torna-se difícil compará-los”, concluiu Ana Heeren.
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