18 de setembro de 2019

Para Janine Ribeiro, uma propaganda governamental pode ser um exemplo de como “empoderar” ou não os cidadãos

Por Eduardo Maretti

Renato Janine Ribeiro

No início de agosto, foi realizado o primeiro módulo do Programa Avançado de Comunicação Pública, “Novos olhares, novas práticas”, iniciativa da parceria entre Aberje e ABCPública (Associação Brasileira de Comunicação Pública). O módulo contou com presença do ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, que palestrou sobre conceitos e história da comunicação pública no Brasil.

Janine Ribeiro destacou um paradoxo. “Exaltam-se as práticas republicanas da Espanha, uma monarquia, e se deplora a falta delas no Brasil.” Conceitualmente, observou, a República deveria, sobretudo, se opor a práticas como corrupção e um outro mal, bem brasileiro, que é o patrimonialismo, a apropriação do bem comum por interesses privados.

De acordo com Janine, uma propaganda governamental pode ser um exemplo de como “empoderar” ou não os cidadãos. Os efeitos são muito diferentes entre uma campanha incentivar o protagonismo do cidadão, chamando-o à participação e esclarecendo seu papel, e outra que simplesmente divulga dados de maneira que o cidadão seja um polo passivo. “Quando estou dizendo o que a sociedade pode fazer, eu empodero a sociedade. Por isso, quando as pessoas dizem que certas políticas devem ser de Estado, e não de governo, gosto de fazer uma correção: não deveriam ser nem de Estado, mas da sociedade.”

Comunicação organizacional

O filósofo apontou um problema, segundo ele, sério e flagrante na comunicação organizacional. Nesse caso, muitas vezes acontece “um diálogo entre desiguais”. O que comumente se observa, assinalou, é que as organizações têm mais poder do que qualquer interlocutor, que se torna um mero destinatário, isoladamente ou em grupos. “Interlocução pressupõe igualdade, diálogo. Se a organização não tomar cuidado, vai agir de maneira despótica, recusando o diálogo.”

Na opinião de Janine, nesse ponto a internet é uma grande oportunidade, embora “ainda não usada, ou usada pelo contrário”. “Sobretudo as redes sociais, que permitem uma igualdade maior de tomada de palavra do que, por exemplo, a mídia tradicional. Mas, infelizmente, como temos acompanhado desde o Brexit, estamos num momento de manipulação intensa das redes.”

Há, entretanto, várias maneiras de que se dispõe para reduzir a desigualdade entre um interlocutor investido de poder em relação aos cidadãos: código de ética, compliance, leis, serviço de atendimento ao Cliente (SACs) e Procons.

Do ponto de vista político, Janine mencionou como exemplo importante a política conhecida como Citizen’s Charter, adotada pelo primeiro ministro britânico John Major (1990-1997). O objetivo era promover a transparência, a proximidade do governo dos cidadãos e o conceito de stakeholder na administração.

O próximo módulo do Programa Avançado de Comunicação Pública – módulo 2: Estratégia e Planejamento em Comunicação – acontece no próximo sábado, 21 de setembro, com os Instrutores: Cláudia Lemos e Bob Vieira da Costa.

Confira a programação completa: Programa Avançado de Comunicação Pública

*Parte 2 de 4. Confira a cobertura completa:
Parte 1: Desafios da comunicação pública e o cotidiano dos profissionais foram temas de curso Aberje e ABCPública
Parte 2:Para Janine Ribeiro, uma propaganda governamental pode ser um exemplo de como “empoderar” ou não os cidadãos
Parte 3: Curso Aberje e ABCPública debate censura e patrimonialismo na gênese da comunicação pública no Brasil
Parte 4:Para Andrew Greenlees, é preciso diferenciar dados da realidade do que é efeito de robôs ou fake news

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