18 de fevereiro de 2020

Para executiva, Lei Geral de Proteção de Dados está à frente de legislação europeia

Fernanda Lara, CEO da I’Max, acredita que o maior ganho dos usuários com a nova lei será a segurança, e que LGPD diminuirá ações para disseminar “fake news”

A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), que deve entrar em vigor no Brasil em agosto desse ano, estabelece regras sobre a coleta, armazenamento, tratamento e compartilhamento de dados pessoais.  A nova lei visa garantir maior privacidade e controle sobre o uso de dados, evitando o mau uso por empresas e por terceiros. 

Para a executiva Fernanda Lara, CEO da I’Max,  empresa de soluções tecnológicas para o mercado da comunicação, em relação à LGPD, o Brasil está mais evoluído do que países que são referência de modelo econômico. “Nos impressionamos com a GPDR [General Data Protection Regulation, legislação de dados europeia], mas, na minha opinião, a LGPD é mais completa e lógica. Só que a Europa faz uma aplicação da lei que é a lacuna que acho que irá faltar no Brasil. Em outras palavras, temos uma legislação fantástica, mas não sabemos fazer valer”, avalia. 

Na opinião de Fernanda, a maior vantagem para o usuário será a segurança. “A imensa maioria de fraudes financeiras eletrônicas ocorrem pois hackers obtiveram nossos cartões de crédito invadindo bancos de dados mal protegidos. Esse será o impacto em curto prazo. No médio e longo prazo, podemos ver uma queda nas ações pró-fake news e uma boa freada nas ‘machines’ que impulsionam injustamente ideologias e ações preconceituosas, tirando de nós os direitos civis mais básicos”.  

Carreira de sucesso

Fernanda Lara é CEO da I’Max desde 2019, ano em que ocorreu a fusão entre a Maxpress – empresa com mais de 20 anos no mercado – e a I’M Press, empresa que Fernanda fundou quando ainda era recém-formada. Natural de Brasília, formou-se em jornalismo pela UnB. Durante a graduação, Fernanda estagiou no jornal Correio Braziliense e em uma agência de Relações Públicas. 

Porém, a experiência que determinou o seu futuro profissional foi o período em que estudou em Grenoble, na França, onde descobriu sua vocação como empreendedora: “Foi aí que tive os primeiros contatos com empreendedorismo e startups. Grenoble é como se fosse uma ‘mini Palo Alto’ no meio da Europa: os estudantes falam em novos negócios dentro do ambiente universitário”, conta ela.

Além das implicações da LGPD e de sua carreira, Fernanda falou sobre as transformações do mercado da comunicação nos últimos anos e como se manter relevante: “Temos que pensar que o cliente quer soluções, independentemente de onde elas surjam”, prevê.

Confira na íntegra entrevista exclusiva de Fernanda Lara para o portal Aberje.

Fernanda Lara

Como foi a sua trajetória acadêmica e profissional, até se tornar CEO da I’Max?

Quando escolhi fazer jornalismo, tinha uma noção bastante romântica do que era a profissão. Só tinha certeza de uma coisa: estudar na UnB. Por ser de Brasília, desde pequena tive a oportunidade de visitar o campus e achava aquele lugar mágico: a universidade não tem muros e dá a sensação de que a cidade e a UnB são uma coisa só. Comunicação foi escolhida por eliminação, como uma profissão que me proporcionaria versatilidade – já que eu não sabia exatamente qual era a minha. E pela UnB fui parar em Grenoble, França, para fazer um ano de graduação. Foi aí que tive os primeiros contatos com empreendedorismo e startups. Grenoble é como se fosse uma “mini Palo Alto” no meio da Europa: os estudantes falam em novos negócios dentro do ambiente universitário, lá tem um dos maiores centros politécnicos da Europa e também um respeitado curso de pós-graduação em Marketing. Juntou tecnologia com quem pensa em vendas e, ouvindo os colegas, comecei a encarar coisas muito futurísticas com mais naturalidade.

Antes de partir para Grenoble, já tinha sido estagiária no Correio Braziliense por um ano, e estagiária em agência de RP por uns quatro meses. Enquanto via meus colegas franceses criando coisas novas, sentia certa angústia pois não queria voltar para o Brasil para fazer “mais do mesmo”. Queria inovar em tecnologia para comunicação. Também estava tentando correr da pressão familiar para prestar concurso público. E aí comecei a pensar em coisas que poderiam ser bons negócios de comunicação. Algumas ideias eram bem absurdas, mas uma delas vingou: o I’M Press.

Do I’M Press até o I’Max parece que foi um “pulo” de tão intenso. O ano de 2019, então, foi o maior processo de maturidade que já passei em minha vida profissional. Cuidar de uma fusão de negócios (no caso I’M Press e Maxpress) é algo que te muda para sempre.

Você tem mais de 10 anos de atuação. Como você vê as transformações no mercado de assessoria de imprensa durante esses anos?

Eu fundei o I’M Press quando tinha 24 anos. O Maxpress já era minha referência de empresa bem sucedida. Eles criaram a cultura de democratização de mailing no mercado numa época em que não existia a internet para facilitar as coisas. Lembro, em 2013, quando eu estava lá no começo, sofrendo para empreender, super ansiosa com os riscos do dia a dia, olhava para as realizações do Maxpress como se fosse uma realidade muito distante e pensava “vou ser tão relevante quanto o Maxpress um dia”. Imagina minha sensação, em 2016, quando o Decio (Paes Manso, fundador do Maxpress) me mandou e-mail dizendo que queria me conhecer. Desse primeiro encontro até o nascimento do I’Max, notamos um mercado de comunicação que ia se reinventar. Era hora de somar força e experiência.

Vemos um fortalecimento da ideia de Public Relations nas agências de comunicação, em detrimento do antigo conceito de Assessoria de Imprensa. Um executivo de Comunicação Corporativa hoje faz mais do que somente intermediar pautas: produz conteúdo para e sobre o cliente, atua como consultor de imagem,  preserva a imagem do cliente, propõe eventos, antecipa tendências, ou seja, faz muito mais do que antes. Então, não dá para pensar em nichos de mercado, onde o assessor não olha para o lado da publicidade e das relações públicas. Temos que pensar que o cliente quer soluções, independentemente de onde elas surjam.

Nesse sentido, vejo o I’Max saindo da zona de conforto. Estamos assumindo o risco de inovar primeiro e despontar oportunidades de negócios onde os clientes ainda nem estão vendo. A grande maioria dos meus clientes começam a parceria com o I’Max buscando mailing de jornalistas e nós entendemos que esse é apenas o primeiro nível do funil (para usar o termo da moda). Agora que minha equipe converteu esse cliente, cabe a mim mostrar para ele o plus do I’Max. 

Como foi a fusão entre a Maxpress e I’M Press?

Em 2016, eu estava grávida de oito meses do meu segundo filho quando recebi um e-mail do Décio, ele dizia que queria me conhecer, pois ouvia falar boas coisas do trabalho do I’M Press no mercado. Marcamos um almoço que entrou tarde adentro, até que notamos que éramos os únicos clientes do restaurante. Simpatizamos um com o outro de cara, mas os negócios ainda estavam em momentos diferentes. Dois anos depois, o I’M Press estava fundamentando o negócio para internacionalizar e consultorias nos mostraram que o primeiro passo era ainda dentro do Brasil. Foi quando passei a mão no telefone e liguei para o Décio dizendo “acho que nossa hora chegou”. Era junho de 2018 e, em fevereiro de 2019, apresentamos para o mercado o novo conceito. Os frutos estão começando a ser colhidos agora. Estou muito empolgada.

Tratando da nova lei geral de proteção de dados, qual você acha que vai ser a principal dificuldade para as empresas se enquadrarem?

Entendo que estamos falando de LGPD com foco em proteção dos dados, sempre colocando o indivíduo no centro do debate, como deve ser. Se eu puder deixar como sugestão, é importante desfazer esse estigma de empresa preparada ou “não preparada” para a LGPD. Não é uma questão binária. Uma empresa tem dezenas de departamentos diferentes e cada um desses departamentos tem um conjunto de atividades que encosta na LGPD, e precisa de tratamento personalizado. Então, o mais importante é fazer um planejamento que entenda que uma política não vai resolver todas as questões, e ir evoluindo com o tema LGPD departamento a departamento. É aquela máxima de separar um problema grande em vários pequenos desafios. Portanto, a maior dificuldade, na minha opinião, é não respeitar as especificidades de cada setor da empresa. Lembrem-se que a LGPD não quer engessar, mas padronizar o acesso e o tratamento ao dado.

Você acredita que, com regras mais parecidas com o mercado internacional, pode-se gerar mais negócios para as empresas brasileiras?

Quando o assunto é LGPD, pessoalmente falando, acho que o Brasil está até mais evoluído do que muitos países referência de modelo econômico. Claro que nos impressionamos com a GPDR, mas, na minha opinião, a LGPD é mais completa e lógica. Só que a Europa faz uma aplicação da lei que é a lacuna que (acho) vai faltar no Brasil. Em outras palavras, temos uma legislação fantástica, mas não sabemos fazê-la valer. 

Mas voltando à pergunta, sem dúvida que a confiança internacional aumenta quando os grandes players sabem que as empresas brasileiras precisam seguir regras de transparência e, nesse caso, cito não apenas a LGPD mas também a Lei da Transparência. 

Qual será o maior ganho para os usuários finais com a nova lei?

O maior ganho será a segurança. A imensa maioria de fraudes financeiras eletrônicas ocorrem pois hackers obtiveram nossos cartões de crédito invadindo bancos de dados mal protegidos. Esse será o impacto em curto prazo. No médio e longo prazo, podemos ver uma queda nas ações pró-fake news e uma boa freada nas “machines” que impulsionam injustamente ideologias e ações preconceituosas, tirando de nós os direitos civis mais básicos.  

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