“Modernização x anacronicidade da comunicação em crises no século 21” foi tema do Comitê de Crises e Riscos
A sexta reunião do Comitê Aberje de Comunicação e Gestão de Riscos e Crises, realizada no dia 11 de agosto, trouxe o tema “Modernização x anacronicidade da comunicação em crises no Século 21”. Na ocasião, participaram do encontro Tatiana Maia Lins, sócia da Makemake Consultoria, Maria Carolina Castro, gerente de Marca e Comunicação da CTG Brasil, e o vice-coordenador do comitê Philipe Deschamps.
Ao compartilhar o inusitado case do ‘cancelamento’ do rapper Tiago, conhecido como Projota, durante sua participação no Big Brother Brasil 2021, reality show apresentado pela Rede Globo, Tatiana Maia Lins trouxe uma visão global das ferramentas utilizadas para driblar a crise e explicou como sua equipe tratou essa comunicação mais moderna “que exige toda uma questão tecnológica, além de um lado humano”, como fez questão de frisar.
De favorito a eliminado com 92% dos votos, Projota perdeu seguidores em sua rede por causa de uma grande onda de ódio. “Tínhamos uma crise real time, ao vivo, sem possibilidade de falar com ele. Era uma crise com vários stakeholders envolvidos e que tínhamos que levar em consideração: seus fãs, a sociedade – que estava conhecendo o Projota –, os outros participantes do programa e a Rede Globo, os contratantes de show, a equipe do artista que não estava preparada para lidar com isso, a família dele e a gravadora”, explicou Tatiana.
Ela salientou que esta edição do programa foi marcada pelo ‘cancelamento’ de participantes, que deixaram o reality com alta porcentagem de votos. Com um volume de mais de 437 mil menções na web, o trabalho de gestão de crise realizado pela Makemake e demais profissionais envolvidos tinha como principal objetivo conter o ódio, devolver Tiago a sua família e o artista a seus fãs. “Tivemos que usar ferramentas de análise de sentimento, de presença de marca e tudo o que a tecnologia nos permite”, contou. “Uma crise dessa magnitude envolveu ferramentas atemporais de gestão de crise e também uma grande serenidade para acalmar os ânimos, além do senso de esperança e o engajamento por amor, usando semiótica para aplacar o ódio e com o engajamento dos fãs-clubes dele”, explicou.
O outro case apresentado foi sobre a crise hídrica enfrentada em 2018 pela CTG Brasil – empresa de origem chinesa de geração de energia que possui usinas no Rio Paranapanema, onde a crise começou. “Foi a maior seca já vivida nos últimos 100 anos, consequência das atuais mudanças climáticas”, frisou Maria Carolina Castro.
“Essa crise foi muito marcante para a gente porque ainda há um desconhecimento e um preconceito muito grande sobre o investimento chinês fora da China”, salientou. “Cabe à CTG Brasil cumprir as regras estabelecidas e operar as usinas e os reservatórios sob a coordenação e determinação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Os reservatórios das usinas foram criados para a geração de energia e depois surgem outros usos múltiplos como o turismo e o lazer, que geram renda para as regiões”, frisou Carolina.
Ela contou que, desde 2018, vem ocorrendo uma baixa bem relevante nos níveis dos reservatórios da CTG, principalmente no Rio Paranapanema, em função da seca. “O auge da crise foi quando as prefeituras locais fizeram uma carta de repúdio à CTG Brasil alegando que a empresa estava fazendo uma má gestão desse reservatório. Fomos impactados por várias notícias e manifestações em redes sociais e na imprensa regional contra a CTG Brasil”, revelou.
“A cada diálogo que tínhamos, percebíamos o quanto a população desconhecia o funcionamento do setor de energia de uma usina hidrelétrica. A partir de tudo o que estava acontecendo, as primeiras ações foram responder todas as solicitações de imprensa recebidas, todos os comentários em rede social, explicando para a população como funcionava o sistema e a seca que estava acontecendo”, explicou Carolina.
A abertura e a promoção para o diálogo era o caminho para reverter essa imagem negativa da empresa entre os municípios. “Tivemos um trabalho de convencimento interno e criamos um comitê bem robusto com diversas áreas envolvidas. Começamos a ir a campo e abrir o diálogo para as comunidades. Foram várias reuniões com as prefeituras locais levando o conhecimento sobre o funcionamento do sistema e a criação da ‘sala de crise’ para que a população e os outros órgãos envolvidos no processo entendessem o nosso papel diante do problema e conscientizar a respeito do bom uso do recurso da água”, contou.
“Além das reuniões, criamos um canal de diálogo nas nossas redes sociais, para que as pessoas entendessem como é feita a gestão de um reservatório e promovemos webinar para explicar à população a questão das mudanças climáticas e de tudo o que estávamos vivenciando. Ao longo desses dois anos, a crise hídrica só foi piorando, mas o trabalho que iniciamos no final de 2018 e começo de 2019 fez com que o impacto de imagem da CTG nesse momento de agravamento da seca e da crise fosse menor do que seria se não tivéssemos feito um trabalho educacional e de comunicação nesse período”.
Comitês Aberje
Os comitês de estudos temáticos da Aberje constituem-se de um grupo fixo anual de profissionais nomeados por organizações integrantes da base associativa da Aberje, que se reúnem com regularidade e calendário predeterminado para discutir, aprofundar ou gerar novos conhecimentos e conteúdos sobre determinado assunto identificado como de interesse.
A proposta é contribuir para a ampliação do conhecimento, num processo de elaboração interna dos contextos, dos conceitos e das experiências por meio de uma construção colaborativa. Com isso, o comitê faz análise crítica e produção criativa sobre o tema escolhido, debate sobre o que há de mais avançado na área e estimula a troca de experiências entre profissionais de diferentes setores.
Todo início de ano, a Aberje abre as inscrições para os profissionais de comunicação que queiram participar como coordenadores e vice-coordenadores. Basta ficar atento ao período de inscrições para se candidatar.
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