“Migués” de funcionários custam o equivalente a R$ 12,8 Bilhões por ano para as empresas
Entre faltas e atrasos propositais, as empresas brasileiras perdem cerca de nove dias por ano de trabalho por funcionário que dá “migué”. Gíria que, no ambiente profissional, define o ato de burlar as obrigações por um motivo não tradicionalmente justificável, mas geralmente mascarado por um problema “socialmente aceito”. A constatação é do estudo “Migué”: desengajamento e comunicação no trabalho, elaborado de forma inédita no país, por meio de uma parceria entre as empresas Santo Caos – pioneira em consultoria de engajamento e associada da Aberje, e Pimientos – parceira estratégica de comunicação e negócios.
Jean Soldatelli, especialista em engajamento e sócio fundador da Santo Caos, explica que o estudo, feito em dezembro de 2017, com mais de 900 entrevistados, em todo o Brasil, busca compreender os motivos pelos quais os trabalhadores dão as mais diferentes desculpas para se esquivar do trabalho. Seja faltando ao trabalho em uma emenda de feriado para viajar ou para ir a um compromisso pessoal; seja chegando atrasado, dando como pretexto o trânsito; seja demorando no almoço ou no cafezinho, ou mesmo “enrolando” ao entregar uma tarefa.
Do total de respondentes, 60% afirmaram já ter dado algum “migué” no trabalho. Essas pessoas faltam de propósito, em média, três vezes por ano. Além das faltas, foi mensurado também o “migué” de atraso, que concluiu que as pessoas atrasam propositalmente uma hora, em média, em uma semana normal. Somando-se às faltas, o total perdido por ano com o “migué” é equivalente a 9,02 dias de trabalho, o equivalente a 1/3 do período de férias a mais.
Por que dar o “migué”?
Para aprofundar o entendimento dos porquês dessas desculpas no trabalho, o estudo analisou o engajamento de todos os funcionários participantes. O resultado é que, em média, um funcionário que dá “migué” é cerca de 10% menos engajado que aquele que não dá “migué”. Ou seja, existe uma relação direta entre a falta de engajamento de um funcionário e sua motivação para dar “migué”. Quanto à comunicação com a empresa, o estudo identificou que uma relação transparente, com canal aberto, é mais descrita por quem não dá “migué” (66%) do que por quem dá o “migué” (45%).
Para Gabriel Galvão, diretor de Planejamento da Pimientos, o “migué” impacta diretamente a economia das empresas e do país, mas, por outro lado, é o resultado da falta de engajamento que uma cultura pouco humanizada das empresas pode gerar. “Ao identificar essas situações é possível desenvolver ações que motivem os funcionários e minimizem esse tipo de comportamento dentro das organizações”, complementa o empresário.
“Custo-migué”
Para chegar ao “custo-migué”, o estudo levou em consideração o número de brasileiros ocupados segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD, o salário médio por estado, conforme o Cadastro Centra de Empresas – IBGE – CEMPRE, e o custo de um trabalhador para a empresa, de acordo com a FGV/CNI.
Foi mensurado na pesquisa o número médio de faltas por ano e o tempo médio de atrasos por semana, ambos propositais, ou seja, aquela falta por doença verdadeira ou o atraso não planejado não foram contabilizados.
Para se ter uma ideia, uma empresa com mil funcionários perde em média 150 mil reais no ano com custos diretos. O prejuízo relacionado à falta de engajamento, produtividade e enrolação não está considerado nesta conta.
Justificativas mais comuns
Problema de saúde física vem em primeiro lugar (54,4%), seguido da impossibilidade de deslocamento (38,1%), problema de saúde na família ou com o animal de estimação (14,6%), compromisso pessoal (17,3%) e problema de saúde mental pessoal (5,2%). A justificativa principal para o primeiro colocado é a melhor aceitação da empresa, afinal, geralmente esse é o único motivo que faz com que as empresas acabem liberando um funcionário. Dificilmente o funcionário tem liberdade para falar abertamente sobre outros casos como complicações familiares, urgências pessoais ou até mesmo cansaço. “O estudo leva a um entendimento de que há uma falta de confiança muito grande na relação entre empresa e funcionário e que a base de todos os gatilhos para os “migués” está na construção de novas relações. O “migué” não é necessariamente uma questão de índole. Muita gente dá “migué” por falta de transparência, por problemas de comunicação com o gestor, medo de repreensão, e até como forma de justiça. Tudo isso é muito mais grave do que uma simples escapada do trabalho pode parecer e merece a atenção dos empregadores”, analisa o especialista da Santo Caos.
Perfil dos “miguezeiros”
O estudo também identificou quatro diferentes perfis de quem dá “migué”. O primeiro, chamado de Jaiminho, é aquele que dá “migué” como forma de evitar conflitos com o chefe ou com a empresa, e representa a maior parte dos “miguezeiros” (40%). O segundo é o Injustiçado (23%), aquele que usa o “migué” como ferramenta de justiça, pois entende que trabalhou muito ou não recebeu o valor justo por esse trabalho e acaba usando o “migué” como forma de compensação. Temos também o Burocrático (27%), que é aquele que dá “migué” por não concordar com políticas burocráticas da empresa, como bater ponto ou emendar feriado mesmo sem trabalho. Por fim, o “Way of Life”, aquele que dá “migué” por praticidade e enxerga isso como uma ferramenta de relacionamento.
Metodologia
O estudo “Migué”: desengajamento e comunicação no trabalho foi realizado pela Santo Caos e pela Pimientos, em dezembro de 2017. Ao todo foram abordadas 911 pessoas, em 20 estados brasileiros, mais o Distrito Federal, por meio de entrevista presencial e online.
Perfil dos respondentes
Foram 39% de homens e 61% de mulheres, entre 18 e 65 anos, majoritariamente dos setores privado (79%) e público (16%), de empresas pequenas (com menos de 50 funcionários) até empresas grandes (com mais de mil funcionários), em 20 estados do Brasil mais o Distrito Federal, de diferentes níveis hierárquicos e grau de escolaridade.
O estudo completo “Migué”: desengajamento e comunicação no trabalho está disponível pelo site www.migue.com.br, no qual também poderão ser acessados vídeos, e-books, entrevistas, dentre outros materiais, mediante cadastramento. Os associados da Aberje receberão o conteúdo integral em mais uma ação do projeto Aberje Thinks, que envia semanalmente materiais de relevância para inspiração e tomada de decisão nas organizações associadas da entidade.
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