LiderCom: “Jornalismo de Negócios durante e pós-pandemia”
Encontro online promovido pela Aberje recebeu chefe de redação da revista Época Negócios
O conteúdo surge por todos os lados: programas jornalísticos de rádio e TV, revistas e jornais renomados, websites. Atualmente, o jornalismo profissional abarca diferentes formatos para oferecer informações mas, diante do universo tóxico de fake news, acaba entrando no mesmo caldeirão das notícias duvidosas, misturando-se aos incontáveis e suspeitos compartilhamentos. Mesmo aparecendo como protagonista nas coberturas jornalísticas, a pandemia carrega consigo seus efeitos no mundo dos negócios, na cultura e nas relações.
Para debater sobre isso, o LiderCom, grupo de líderes da Comunicação Corporativa organizado pela Aberje, recebeu a jornalista Sandra Boccia, diretora de Redação da Época Negócios, em encontro online mediado por Pedro Alves, diretor de Comunicação da Mastercard, no dia 10 de junho.
Na abertura do webinar, o diretor-geral da Aberje, Hamilton dos Santos ressaltou que a visão globalizada que muitos tinham do mundo deu uma arrefecida com a chegada da pandemia do coronavírus. Pesquisas recentes da entidade mostram que as empresas têm procurado preservar investimentos com o relacionamento com a mídia. “Sob o ponto de vista institucional, a liberdade de imprensa é fundamental para o fortalecimento dos negócios, além de ser um esteio para a democracia”, avalia.
Global e local
O país acontece na cidade em que o cidadão está inserido. A partir dessa reflexão, o diretor de Comunicação da Mastercard, Pedro Alves traz a discussão para o mundo dos negócios e comenta que, cada vez mais, as empresas ‘acontecem’ onde os consumidores têm contato com elas. “Iniciativas globais não se sustentam como foco na tomada de decisões, principalmente num momento tão complicado como este”, analisa.
Ao comentar sobre o termo ‘global x local’, a jornalista Sandra Boccia, diretora de Redação da Época Negócios, assinala ser necessário revisitar a expressão e substituir o “versus” pelo “e” sugerindo os contextos de global e local. “Neste momento de construção de uma nova narrativa para o mundo dos negócios, temos a oportunidade de rever termos como esse. Nessa pauta não precisamos da ‘muleta’ do adjetivo, como por exemplo capitalismo consciente ou, mais recentemente, ‘capitalismo inclusivo’, ‘empreendedor social’…basta capitalismo, empreendedor…”, argumenta.
Mas, como tornar a narrativa de negócios mais contemporânea? Sandra analisa o contexto pós-digital incorporado aos interesses da sociedade. “Essa sociedade pós-digital vem sendo anunciada há mais de uma década e agora chegou de forma bastante trágica nos colocando como reféns de uma situação chamada de ‘novo normal’. Uma oportunidade de nos despirmos de todos os estigmas do que fazíamos para reinventarmos todo o nosso modus operandi”, pondera.
Outra questão ressaltada durante o webinar refere-se às transformações relacionadas à liberdade de expressão. Sobre esse tema, a jornalista analisa que não há lados opostos quando se trata de imprensa e redes sociais. “Durante muito tempo estão nos fazendo pensar sobre a falsa guerra entre imprensa e redes sociais ou influencers, como se estivéssemos de lados opostos. Muitas iniciativas surgem por intermédio das redes sociais que podem não apenas contribuir mas serem instrumentalizadas pelo jornalismo, em prol da democracia”, acentua.
Como exemplo, Sandra cita o Sleeping Giants– iniciativa que visa persuadir empresas a removerem suas propagandas dos meios de comunicação que publicam notícias falsas. “Há empresas que estão sendo denunciadas por colocarem dinheiro em sites de fake news. Isso serve como um alerta, como um exemplo de que ações feitas em redes sociais podem ter um papel positivo de contribuição para a sociedade”, observa.
Não dá mais para esconder…
Com a tecnologia cada vez mais sofisticada e atrelada a um mundo regido por Inteligência Artificial – como a evolução da computação quântica que promete ser uma grande revolução – surgem novas formas de se produzir notícias falsas. “É aí que vejo o papel do jornalista se intensificar, pois não existem mais guardiões do que pode ser veiculado ou não”, alerta a jornalista, acrescentando que esse assunto em relação à transparência, merece consciência da corporação,
Na ocasião, Sandra também comenta sobre a força da polarização e do diálogo. “Nos últimos anos, temos assistido a polarização se tornar cada vez mais forte; as pessoas viraram seus ‘rochedos de convicção’ e por mais argumentos que o outro lado tenha, todos conseguem sustentar o seu discurso”, considera, acrescentando que o diálogo deve ser prático. “A comunicação corporativa de algumas empresas está viciada em certos tons que não cabem mais. O diálogo pressupõe que os interlocutores estejam dispostos a escutar o ponto de vista do outro. Temos uma oportunidade única em mãos, uma crise humanitária que resultará em recessão. Dentro dessa realidade, teremos um cenário mais adverso para a prática desse diálogo, mas num contexto em que a sobrevivência está em xeque, como encontrar esse diálogo imprensa-corporação?”, provoca.
Ao analisar discursos legítimos que parecem fazer sentido e outros mais amadores que tratam as coisas de forma mais superficial, Sandra encontrou um denominador comum: “vejo que há uma busca: ninguém se dá mais ao luxo de ficar como um espectador, porque sabe que as novas gerações vão cobrar. Só pelo fato de notar essa procura, para mim já é uma boa notícia”, conclui.
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