LiderCom discute desafios da comunicação e DE&I no atual cenário político dos EUA

O LiderCom, grupo da Aberje que reúne a liderança da comunicação empresarial brasileira (CCOs), promoveu nesta terça-feira, 18 de fevereiro, o encontro “LiderCom: Perspectivas sobre Comunicação e DE&I em um Novo Cenário Político”. O evento online contou com a participação de Rochelle Ford, nova CEO da Page, principal associação profissional global para líderes seniores em comunicação estratégica. A executiva abordou os desafios e oportunidades da Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) no atual contexto político, com a nova presidência dos Estados Unidos.

Hamilton dos Santos, diretor-executivo da Aberje, abriu o evento e apresentou Rochelle, destacando a importância da parceria com a Page. Em sua fala, Rochelle Ford ressaltou que o Brasil tem um papel relevante em sua trajetória acadêmica, mencionando suas interações com pesquisadores que estudaram os desafios das mulheres na área de Relações Públicas no país. Ela também apresentou a história e os princípios da Page, enfatizando a importância de proteger e divulgar a verdade diante da desinformação e do avanço tecnológico.

Tendências globais e impacto da DEI nas organizações

Rochelle Ford destacou os resultados do índice de confiança em negócios, que aponta uma média global de 26% de confiança nas empresas, enquanto no Brasil o índice é de 33%. Entre os fatores que influenciam essa percepção, ela mencionou que a geração Z valoriza mais questões como saúde mental e igualdade de gênero, enquanto preocupações gerais incluem geração de emprego, estabilidade econômica e capacitação da mão de obra.

Ao responder perguntas dos participantes, a CEO da Page abordou temas como a influência da cultura no comportamento dos comunicadores e das empresas, a questão da identidade de gênero nas organizações e o impacto das políticas públicas na comunicação global. Ela destacou que, mesmo diante de desafios e de potenciais retrocessos políticos, as lideranças empresariais precisam focar em ações de longo prazo e não apenas reagir a mudanças governamentais e pressões externas. Segundo ela, nos EUA, algumas empresas têm reformulado suas políticas para evitar termos que possam causar polarização, mas continuam promovendo a inclusão de maneira estratégica.

Outro ponto relevante foi o alerta contra o greenwashing – a prática de empresas que fazem discursos sobre sustentabilidade sem implementar mudanças reais. Rochelle ressaltou que, diante da crescente cobrança por transparência e coerência, é fundamental que as organizações alinhem suas ações ambientais e sociais com seus valores internos. Empresas que tentam apenas se apropriar de narrativas sem mudanças concretas correm o risco de perder credibilidade.

Encerrando a sessão, Hamilton dos Santos ressaltou que a Aberje atingiu a marca de mil membros ao final de 2024 e mencionou a predominância feminina na comunicação corporativa brasileira (73%), contrastando com a sub-representação de profissionais negros, apesar de 55% da população brasileira se identificar como negra (pretos mais pardos). Em resposta, Rochelle Ford afirmou que essa realidade também se reflete nos EUA. Enquanto no Brasil há dificuldades de acesso ao ensino superior para a população negra, nos EUA há diversidade na entrada da profissão, mas uma grande evasão nos primeiros anos de carreira. Profissionais negros enfrentam barreiras para permanecer na carreira e ascender a cargos de liderança.

Sobre a Page

Com mais de 40 anos, a Page desenvolveu um conjunto de sete princípios para balizar o trabalho de lideranças de comunicação estratégica. 

1. Diga a verdade: Informe o público sobre o que está acontecendo com honestidade e boa intenção; apresente um retrato ético e preciso do caráter, dos valores, dos ideais e das ações da empresa.
2. Comprove com ações: A percepção pública sobre uma empresa é determinada 90% pelo que ela faz e 10% pelo que ela diz.
3. Ouça os stakeholders: Para atender bem à empresa, é essencial compreender o que o público deseja e precisa, além de defender o engajamento com todas as partes interessadas. Mantenha os principais tomadores de decisão e outros colaboradores informados sobre a reação dos stakeholders em relação aos produtos, políticas e práticas da empresa. Para ouvir com eficácia, envolva um conjunto diversificado de stakeholders em um diálogo inclusivo.
4. Gerencie pensando no futuro: Antecipe a reação do público e elimine práticas que possam gerar dificuldades. Cultive uma imagem positiva e construa boa reputação.
5. Conduza as relações públicas como se toda a empresa dependesse disso: Nenhuma estratégia deve ser implementada sem considerar seu impacto nos stakeholders. Como função gerencial e de formulação de políticas, a comunicação deve incentivar que as decisões, políticas e ações da empresa levem em conta a diversidade de visões, valores, experiências, expectativas e aspirações dos stakeholders.
6. Reconheça que o verdadeiro caráter de uma empresa é expresso por seu time: As opiniões mais fortes — positivas ou negativas — sobre uma empresa são moldadas pelas palavras e ações de uma força de trabalho cada vez mais diversa. Assim, todo colaborador — ativo ou aposentado — está envolvido na construção da reputação da organização. Cabe à comunicação corporativa defender o respeito, a diversidade e a inclusão no ambiente de trabalho, além de apoiar a capacidade e o desejo de cada funcionário de ser um embaixador honesto e bem informado junto a clientes, amigos, acionistas e autoridades.  
7. Mantenha a calma, a paciência e o bom humor: Construa o sucesso das relações públicas com atenção constante e ponderada às informações e aos stakeholders. Quando surgir uma crise, lembre-se: mentes equilibradas comunicam melhor.