Lideranças de comunicação corporativa discutem com Sandra Boccia, do Valor, os rumos da cobertura de negócios no país
O LiderCom, grupo formado por lideranças de comunicação corporativa das empresas associadas à Aberje, recebeu a nova diretora Editorial de Marcas e Projetos Especiais do Valor Econômico, Sandra Boccia, no dia 18 de abril para um debate sobre “a nova fase da cobertura jornalística sobre negócios, clima e sustentabilidade”. Além de comunicadores de várias empresas, o encontro contou com a presença do diretor-presidente da Aberje e professor da ECA/USP, Paulo Nassar, e do diretor-executivo da associação, Hamilton dos Santos. Os encontros do LiderCom seguem a Chatham House Rule, onde os participantes são livres para usar as informações recebidas, preservando a identidade e a afiliação dos participantes, de modo a permitir que a discussão possa se dar livremente em um ambiente seguro.
Ao rememorar sua trajetória profissional, Sandra mencionou que em sua formação em jornalismo, ainda na Universidade, os estudantes da área almejavam trabalhar na redação dos grandes veículos de comunicação, algo que hoje se tornou diferente, com grandes talentos sendo atraídos também pelas áreas de comunicação das organizações. Essa mudança, somada aos desafios dos modelos de financiamento dos veículos, impacta a contratação de novos profissionais, que almejam também outras posições no mercado de comunicação, não só editorias tradicionalmente valorizadas, como a de política.
Com o advento da internet e de tantas ferramentas de inteligência artificial muita coisa mudou. “Isso tudo muda completamente as nossas vidas e o mundo dos negócios também. O conhecimento que a gente precisa trazer para as redações é o da tecnologia para fazer as perguntas certas, por exemplo, a um empreendedor de startup”, disse a executiva.
Outro ponto levantado pelos participantes foi em relação às questões voltadas à sustentabilidade, que, há cerca de 20 anos, não era um tema interessante nem para a mídia, nem para o mercado. Em outra fase, mais no final dos anos 2000, alguns jornais despontaram para a temática, criando cadernos sobre o assunto, mas sem dar muita atenção às organizações. Atualmente, as narrativas de sustentabilidade e ESG começam a se tornar hegemônicas e passaram a contar com o interesse de lideranças empresariais.
O debate entre os membros do grupo indicou que essa pauta tem sido realmente ‘puxada’ pelas empresas. Enquanto alguns governos retrocedem ou resistem, as organizações têm mostrado uma consistência de conduta em abordar esse tema que foi muito negligenciado e maltratado pelas empresas jornalísticas. O jornalismo considerado nobre é o investigativo, que revela o que tem de errado e não o que tem de certo. O ceticismo existe, mas há como checar se algo é verdadeiro ou não, por meio de documentos, pesquisas etc.
Em meados dos anos 2000, havia um ponto de inflexão, uma vez que o jornalista que cobria Clima era visto como um ambientalista, alguém que não inspirava muito respeito. Os debatedores concordaram que isso foi mudando e começou-se a criar uma certa consciência de que para entender como uma empresa funciona é preciso entender o seu impacto no meio ambiente. Hoje, muitos profissionais querem cobrir a área e se envolver cada vez mais nisso, com gratificação em propósito. No entanto, a cobertura denuncista ainda tem mais fôlego do que a construtivista.
Como conclusão, concordou-se que o jornalista ou qualquer pessoa que não entender de tecnologia não vai conseguir exercer a sua profissão a contento, seja ela qual for. A tecnologia constrói um mindset, e nós precisamos de um novo modelo mental. O mundo mudou de uma tal forma que o conhecimento é consumido em rede e o jornalista pode saber muito menos de determinado assunto do que um influencer. No entanto, a diferenciação entre conteúdo e jornalismo se mostra importante. A reportagem possui uma disciplina, que exige preparo na construção, de forma estruturante e com repertório.
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