Investimento privado em ações de responsabilidade social e sustentabilidade deve aumentar no pós-pandemia
“É responsabilidade dos comunicadores trabalhar para amenizarem a ‘temperatura’ da discussão polarizada que o mundo está presenciando em relação ao impacto econômico da Covid-19, dando ao setor privado o poder de liderar o caminho para um mundo mais sustentável”, disse Hamilton dos Santos, durante a sua participação na segunda edição do APRN Webforum, promovido pela Global Alliance for PR and Communications Management junto com o LSPR Communication and Business Institute da Indonésia, no último dia 21. Com o tema Revisitando a Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e a Sustentabilidade na era do novo normal, os especialistas em relações públicas e comunicação, Ani Natalia Pinem, da Indonésia, e Tato Carbonaro, do Brasil, também participaram do evento.
Durante o fórum, Hamilton dos Santos apresentou uma pesquisa exclusiva, feita com organizações associadas à Aberje, em julho deste ano. O estudo tem como objetivo entender e mapear o comportamento de determinadas empresas quando o assunto é a criação de programas e políticas internas voltadas à responsabilidade social durante o período pós-pandemia.
“O mundo é vítima do seu próprio sucesso. O cenário está diferente, passamos de uma economia de cobrança para uma economia de compartilhamento, muitos estão realizando ações sociais e mal percebem. O compartilhamento na escala que vemos hoje não é considerado normal para a sociedade e isso está unindo a todos. Precisamos pensar nas perguntas corretas a fazermos, antes das respostas”, comentou Santos.
Na pesquisa conduzida pela Aberje, 56% das empresas entrevistadas relataram que iriam manter o nível de investimento dedicado a RSC no atual período. Em relação às diferentes áreas englobadas pela RSC, a pesquisa da Aberje identificou três áreas em que empresas dedicam maior investimento: 47% a causas sociais de alcance local (foco em comunidades locais); 35% ao desenvolvimento e manutenção de práticas comerciais sustentáveis e 35% a projetos sociais voltados à educação. Em relação ao setor de comunicação frente à RSC, 42% das empresas relataram que iriam manter suas atuais estratégias de comunicação; 32% iriam intensificar, investindo mais em pesquisas relacionadas ao tema e 26% iriam trabalhar as estratégias de maneira gradual.
Causas sociais têm impacto a longo prazo
Em sua explanação, Ani Natalia Pinem, diretora geral de Tributação e Relações Públicas para o Ministério de Finanças da Indonésia, argumentou sobre uma opinião corrente de que durante crises as empresas deixam de atuar em RSC, pois existem outras prioridades. Porém, pesquisas apontam que a dedicação a causas sociais durante um período de crise pode ter um impacto no longo prazo para a reputação de uma marca.
A executiva explicou que isso acontece porque a confiança pública perante o setor privado tem a tendência de cair em tempos de crise. Além disso, estudos apontam que empresas que se comprometeram a atuar em causas sociais durante a pandemia acompanharam um crescimento na produtividade de empregados e maior facilidade no acesso ao mercado. “O comprometimento a causas sociais contribui diretamente para a manutenção de um relacionamento positivo entre uma empresa e seu público”, exemplifica.
O governo da Indonésia, por exemplo, tem aprovado legislações e incentivos fiscais, visando estabilizar a economia e impulsionar a produtividade. Uma das legislações permitiu que empresas pagassem seus funcionários sem ter que arcar com qualquer questão tributária. Além disso, pequenas e médias empresas estão isentas de tributos e taxas de importação foram retiradas temporariamente. O governo também está fornecendo ajuda financeira a indivíduos que precisam arcar com custos de tratamento clínicos associados à Covid-19.
Brasil e Indonésia são países que dividem muitas similaridades, principalmente em relação ao meio ambiente. Ambos possuem recursos naturais de grande valor para o ecossistema. Essa é uma das características que os aproxima em relação à Responsabilidade Social e Sustentabilidade. “Se não respeitarmos o Meio Ambiente, pagaremos o preço”, disparou Ani.
Setor privado pode fazer a diferença
Em sua palestra “Como gerenciamos a nossa marca e reputação para ajudar a reduzir o impacto da pandemia nas ações voltadas à sustentabilidade?”, Tato Carbonaro, Ph.D pesquisador da Universidade de São Paulo e ex-membro do Conselho da Global Alliance responde: “precisamos nos envolver em ações que contribuem para o meio ambiente. Precisamos de uma economia que regenere o meio ambiente em vez de destruí-la. Precisamos repensar o modo em que usamos os recursos que temos à disposição. Depois que isso for feito, podemos acionar nossa equipe de comunicação para trabalhar a reputação da empresa”, salientou.
Em sua explanação, Carbonaro afirma que a reputação de marca é externa a empresas. “É o público que define a reputação de uma empresa. É algo que uma empresa cultiva desde o momento em que é aberta. Uma visão bem motivada é apenas um dos passos para obter uma boa reputação, mas não é o suficiente”, argumentou.
A questão é: as empresas estão preparadas para assumir um papel mais ativo no desenvolvimento de legislações que preservam o meio ambiente? O executivo argumenta que o setor privado pode fazer a diferença e contribuir para políticas macro voltadas a RSC e sustentabilidade. “Se quiserem voltar ao normal, empresas terão que sair da suas zonas de conforto. A regeneração do meio ambiente é proporcional ao grau de contribuição que estamos dispostos a dedicar. Este é o momento para fazermos um ‘reset’. Se não houver mudança, não há nada que um assessor possa fazer para ajudar”, conclui.
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