Exame publica Guia Melhores do ESG com 17 empresas premiadas
Boticário, Suzano, Klabin, Mercado Livre, Santander, Dow, Totvs, Vivo, EDP, Natura e Itaú estão entre os destaques do Guia
*Texto adaptado da matéria de Rodrigo Caetano, Revista Exame
A Revista Exame publicou no dia 13 de Maio o Melhores do ESG, um guia inteiramente novo, mas que dá continuidade à tradição e ao pioneirismo do Guia EXAME de Sustentabilidade. A metodologia renovada tem como base os princípios ESG.
Segundo Aron Belinky, fundador da ABC Associados, consultoria cuja equipe está envolvida na construção do guia desde seu lançamento, a intenção foi alinhar a publicação às demandas atuais e futuras dos investidores.
“Apenas números e projetos não bastam, as empresas agora precisam mostrar o que de fato fazem para adotar o ESG”, afirma Belinky. Ele explica que os critérios de avaliação foram simplificados para dar maior dinamismo e precisão à coleta de informações, e uma nova divisão de setores, mais condizente com o cenário atual dos mercados, foi estabelecida.
No Melhores do ESG, as empresas foram avaliadas com base em 20 perguntas, sendo dez abertas (dissertativas), de cunho estratégico, e dez fechadas (optativas), sobre aspectos gerenciais. Cada questão equivale a uma dimensão do ESG. A abordagem teve como foco os diferentes capitais utilizados pelas empresas: financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social e ambiental.
Ao contrário do Guia EXAME de Sustentabilidade, o Melhores do ESG não é um ranking. Os princípios ESG seguem uma lógica de jornada. O que se busca é a melhoria contínua da relação entre empresa, meio ambiente e sociedade. Cada empresa participante — foram mais de 120 — está em um estágio diferente dessa jornada e apresenta aspectos mais ou menos avançados. Foram 17 empresas premiadas, entre as quais as associadas Aberje: Boticário, Suzano, Klabin, Mercado Livre, Santander, Dow, Totvs, Vivo, EDP, Natura e Itaú.
Metodologia
A metodologia do Melhores do ESG foi inspirada na interpretação livre de abordagens que enfatizam uma visão de mundo sistêmica em relação aos princípios ESG. Entre elas destacam-se os padrões da Global Reporting Initiative (GRI), do Guia de Sustentabilidade para Empresas do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e de iniciativas como Planetary Boundaries Framework, Ecological Footprint, Doughnut Economics, entre outras.
O desafio foi criar um método de avaliação que capturasse o quadro geral da empresa e seu contexto.
Segundo a consultoria ABC Associados, a proposta principal foi “inverter as lentes”, olhando primeiro a “floresta”, que caracteriza as questões estratégicas, e depois as “árvores”, representação das perguntas específicas. “Investigar o que cada empresa tem de especial em termos ESG, em vez de tentar deduzir seu diferencial pela soma de vários componentes”, aponta a consultoria no documento que descreve a metodologia do guia.
O processo de avaliação se deu com base em um questionário respondido pelas empresas, dividido em duas partes: dez questões abertas e dissertativas e dez perguntas fechadas do tipo “sim” ou “não”. Na parte aberta do questionário, as empresas deveriam descrever suas identidades corporativas, modelos de negócios, impactos da operação, identificação dos fatores ESG e, inclusive, a forma como remuneram seus funcionários e executivos. As notas foram dadas de acordo com um gabarito preparado pela ABC Associados e variavam de 0 a 5.
Todo o processo contou com o apoio de um conselho externo formado por Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Carlo Pereira, diretor executivo da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, e Iuri Rapoport, head de ESG do banco BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME). A decisão final sobre as melhores em cada setor, no entanto, coube à equipe da EXAME.
As perguntas optativas tratavam de temas como combate à corrupção, direitos humanos, diversidade e gestão ambiental. Algumas tinham caráter eliminatório. A soma da média das notas nas questões abertas com os pontos obtidos nas perguntas fechadas resultava na nota final. As empresas mais bem avaliadas passavam, ainda, por uma avaliação editorial para que fossem definidas as melhores de cada setor.
Confira alguns dos destaques do Guia
Impacto na pandemia
Itaú
Em 13 de abril do ano passado o Brasil registrou pela primeira vez a marca de 100 mortes causadas pela covid-19 — foram, mais precisamente, 105 óbitos por uma doença que havia chegado ao país pouco mais de um mês antes. Era o início de uma escalada trágica de mortes pela pandemia no país.
A data marcou, também, o início de uma das maiores mobilizações empresariais brasileiras em prol de uma causa — e é, por isso, um exemplo a ser seguido pelo capitalismo brasileiro.
Nesse dia, a cúpula do banco Itaú anunciou ao mercado o Todos pela Saúde, um fundo para a doação de 1 bilhão de reais para ajudar o Sistema Único de Saúde, o SUS, no combate à crise sanitária instalada no país.
O anúncio foi inédito por uma série de fatores. A começar pelo volume de recursos envolvidos. Até então, nenhuma empresa havia doado uma quantia tão grande para alguma causa social num país que ainda tem muito a evoluir na filantropia.
A quantia só seria igualada, no segundo semestre do ano passado, por uma doação na mesma quantia feita pela empresa de alimentos JBS para o combate ao desmatamento na Amazônia. Por ter dado o exemplo, e inspirado outras empresas a também abrir a carteira nos esforços contra a pandemia, a doação do Itaú ajudou a filantropia brasileira a arrecadar mais de 5 bilhões de reais nos cinco primeiros meses de 2020, segundo dados da ABCR, organização social responsável por medir o volume de captação de recursos para essa frente no país.
A quantia é praticamente o dobro do normal para um ano inteiro de arrecadações de recursos ao terceiro setor brasileiro.
A doação do Itaú inovou também pelo formato. Ela se deu por intermédio de um endowment, um fundo administrado por terceiros — no caso, um grupo de especialistas em saúde liderado pelo diretor-geral do Hospital Sírio-Libanês, Paulo Chapchap —, e pôde ser complementada por outras empresas.
Semanas depois do pontapé inicial dado pelo Itaú, empresas como Braskem, de plástico, Suzano, de papel e celulose, Coteminas e Malwee, de têxtil, entraram na campanha. Até mesmo os funcionários do Itaú doaram como pessoa física ao Todos pela Saúde. Mais de um ano depois, o projeto arrecadou mais 500 milhões de reais de outras fontes de financiamento.
Bem-estar
Boticário
O segredo para o bom desempenho em ESG do Grupo Boticário, de cosméticos e produtos de beleza, está na equação entre geração de valor social e produtos feitos com um impacto mínimo no meio ambiente.
Um exemplo: a empresa tem um dos principais programas de logística reversa da indústria brasileira de cosméticos. Quase 100% dos resíduos das fábricas viram outras coisas dentro da empresa, como embalagens de outros produtos. A emissão de gases de efeito estufa está em queda nas fábricas desde 2018 com a implantação de programas para uso de energias limpas.
Na esteira dos objetivos ESG, o Boticário também anunciou, em dezembro do ano passado, a primeira emissão de títulos verdes atrelados a metas de sustentabilidade do país, os chamados sustainability-linked bonds.
A captação de 1 bilhão de reais, coordenada pelo Itaú, pretende alavancar o cumprimento de algumas metas que olham para o ESG — entre elas a da gestão de resíduos. “Mas isso não nos deixa confortáveis”, diz Eduardo Fonseca, diretor de assuntos institucionais e ESG do Grupo Boticário.
“Sabemos que podemos fazer mais e continuaremos com essa intenção. A evolução será contínua.”
Commodities
Suzano
Em 2019, dois grandes movimentos selaram a estratégia da Suzano para os anos seguintes. O mais visível foi a fusão com a Fibria, antiga concorrente, em um negócio que movimentou quase 28 bilhões de reais e criou um gigante de papel e celulose capaz de produzir mais de 11 milhões de toneladas da commodity, que emprega 37.000 trabalhadores diretos e indiretos e exporta quase 30 bilhões de reais para 80 países.
O segundo, que causou bem menos alarde, foi uma mudança estrutural nos padrões operacionais da empresa, com o objetivo de torná-los mais alinhados aos preceitos de responsabilidade ambiental, social e de governança.
A fusão deu à empresa um tamanho fundamental para competir globalmente, aproveitando sinergias em todos os elos da cadeia, das florestas plantadas de pinus e eucaliptos às fábricas de celulose (são 11 no total).
Mas é a aposta na sustentabilidade e no ESG que vai garantir que essa ampla estrutura esteja alinhada às demandas da sociedade pós-covid e, por que não, pós-petróleo. “Não dá para pensar um negócio sem considerar suas implicações sociais e ambientais”, afirma Walter Schalka, presidente da Suzano. “A sociedade vai demandar, cada vez mais, soluções sustentáveis.”
E-commerce
Mercado Livre
Para Stelleo Tolda, CEO do Mercado Livre, maior plataforma de comércio eletrônico da América Latina, o varejo tradicional apresenta uma espécie de falha de projeto. A lógica dos grandes comerciantes sempre esteve atrelada à busca pelo menor preço. Por isso, quanto maior for o varejista, mais vantagens ele terá ao negociar com os fornecedores, o que cria uma vantagem diante dos competidores. Foi assim que grandes redes globais, como o Walmart, se formaram. O problema está, justamente, nessa lógica.
O modelo é, por definição, insustentável, uma vez que sempre existirá um limite de desconto que o fornecedor e, por consequência, o varejista podem conceder. A ideia de que o papel do comerciante é achatar ao máximo os preços para elevar suas margens nasceu condenada ao esgotamento, analisa.
E seu ponto-final se deu com o surgimento das transações por internet. “Desde sua fundação, a atuação do Mercado Livre esteve atrelada à ideia de democratização do varejo”, diz Tolda. “Hoje, quem não pensar dessa maneira estará fora do mercado.”
Na pandemia, o Mercado Livre se consolidou como um modelo a ser copiado pelos concorrentes. Isso graças a seu eficiente sistema de delivery, que oferece a qualquer comerciante em sua plataforma a possibilidade de vender e entregar no mesmo dia, às vezes em questão de horas.
Além desse serviço, que permite a qualquer quiosque de shopping atuar com a mesma eficiência da Amazon, a plataforma oferece soluções financeiras, de pagamentos e de publicidade. No ano passado, a companhia intermediou a venda de 700 milhões de produtos e faturou 4 bilhões de dólares.
O crescimento não alterou a essência do negócio. A identidade corporativa segue atrelada ao conceito de popularizar o varejo e o acesso ao crédito. Os meios para conseguir praticar esse propósito são a tecnologia e a inovação, que fomentam o empreendedorismo. Com essa filosofia, só existe uma maneira de ganhar dinheiro: dar o máximo de valor às duas pontas do varejo, fornecedores e consumidores, em cada negociação.
Instituições financeiras
Santander
Para Sérgio Rial, CEO do banco Santander no Brasil, a economia de baixo carbono é um fato consumado, e a pandemia acelerou o processo. “Tendências que se materializariam em dez anos aconteceram em dois”, afirma. “Ficou muito evidente a interdependência dos países e das cadeias de suprimentos.” O combustível dessa transformação, além do receio de uma ruptura econômica completa devido aos efeitos da covid-19, é a tecnologia. A rápida evolução dos sistemas de inteligência está viabilizando a criação de grandes plataformas tecnológicas que vão capturar a geração de valor pela sociedade. “Marx dizia que essa geração de riqueza viria do trabalhador, mas estamos vendo que virá da tecnologia”, diz Rial.
Compreender como o mundo funcionará após a pandemia depende, na visão do executivo, de uma visão sistêmica da economia. Ele cita como exemplo a cadeia do açúcar. “Quando a Índia, que é um grande consumidor de açúcar, sinaliza que adotará o etanol como combustível, o valor das terras em São Paulo aumenta”, diz Rial. “Esse é apenas um exemplo de quanto o mundo está globalizado.” Para o executivo, a conexão entre os países está aí para ficar — e o sistema financeiro é o fio que une todas as cadeias.
Instituições financeiras têm condições de antecipar mudanças. Em fevereiro, o Santander anunciou globalmente que deixará de oferecer serviços financeiros a clientes de geração de energia elétrica cuja receita dependa em mais de 10% do carvão térmico, o combustível fóssil mais poluente do mundo. É o sinal para que os investidores incluam em seus portfólios mais ativos de energia limpa. “Essa transição já está dada, não tem como não acreditar”, diz Rial.
Na área social, a pandemia também acelerou algumas tendências que estavam em curso no sistema financeiro. “Rico ou pobre, não importa: sem a vacina, todos podem morrer”, afirma. “Na pandemia, o mundo aumentou o déficit fiscal para salvar os mais vulneráveis. É isso que importa. Precisamos desenvolver a sociedade, pois, sem ela, não há negócios.” O que está faltando é rever o papel do Estado. Segundo Rial, não há como falar em impostos sem considerar o crescimento econômico. Ao mesmo tempo, é preciso rever a maneira como esse crescimento é calculado. “As florestas brasileiras e o fato de que o país tem uma matriz energética predominantemente limpa não entram no PIB. Mas quanto vale isso?”, questiona o executivo. Vale muito. | Rodrigo Caetano
Tech
Totvs
Diferentemente da típica empresa ou multinacional de tecnologia, que tem um escritório no entorno da Avenida Faria Lima, em São Paulo, a Totvs tem uma história que remonta à zona norte da cidade, no bairro de Santana. O presidente executivo, Dennis Herszkowicz, relata que com relativa frequência recebe mensagens de novos colaboradores que cresceram na região e agora têm orgulho de trabalhar em uma companhia cuja história acompanharam a vida inteira. “Para nós é algo de grande valor. Como estamos há muitos anos ali, boa parte das pessoas mora no entorno do escritório. Sabemos que muitos negócios locais dependem do dia a dia da Totvs e que devem sofrer em um momento como este”, afirma. Herszkowicz se refere à pandemia de covid-19, que obrigou a empresa a operar em trabalho remoto pela saúde dos funcionários.
Escolhida como a melhor empresa ESG do setor de tecnologia, a Totvs tem uma história de governança corporativa que vem de décadas. A companhia está há 15 anos listada no Novo Mercado, segmento da B3 com empresas que adotam práticas que excedem a legislação brasileira para governança empresarial. De acordo com Herszkowicz, o processo começou com a entrada de um fundo de capital privado que prezava por esses valores. Hoje, seis dos sete conselheiros da empresa são independentes, e a Totvs é uma corporação sem controlador definido. “Governança de alto nível e transparência geram mais valor. É muito saudável ter pessoas com a independência necessária para fazer críticas que precisam ser feitas”, diz.
Utilities
EDP do Brasil
A EDP Brasil, empresa de origem portuguesa com negócios em vários pontos da cadeia da energia, tem metas ESG ambiciosas. Até 2032, a companhia se comprometeu a reduzir 85% de sua emissão de carbono. As usinas poluidoras deverão encerrar as atividades. O foco, agora, são energias renováveis, como a solar. A preocupação por ali é forte a ponto de ter virado um departamento inteiro: a vice-presidência de pessoas e ESG, sob o comando da executiva Fernanda Pires, estreou em fevereiro deste ano. “Estamos na década de ação na agenda climática”, diz Pires.
Entre as concessionárias de serviços públicos, chamadas de utilities em inglês, investir em ESG é uma questão que vai além de só fazer a coisa certa — é o próprio futuro do negócio. Os investidores estão cada vez mais reticentes com o impacto ambiental decorrente da geração de energia. Na Europa, as dez maiores empresas do setor perderam 295 bilhões de euros de 2006 a 2016. “Algumas criaram soluções mais limpas”, diz Antonio Farinha, sócio da consultoria Bain, dedicado ao setor. “Quem não fez isso teve os negócios prejudicados.”
A EDP foi uma delas. Mesmo com a pandemia, a empresa lucrou 1,5 bilhão de reais em 2020. O bom desempenho está relacionado com práticas nos três pilares da agenda ESG. No E, a empresa foi a primeira do setor a receber um selo de qualidade da Science Based Targets, coalizão global de cientistas contra a mudança climática, em razão dos esforços para reduzir as emissões de carbono.
No G, a empresa foi uma das pioneiras a contratar mulheres ao cargo de eletricista — uma escola para o público funciona há dois anos. Além disso, no meio da pandemia, a empresa doou 10 milhões de reais à rede pública de saúde para a compra de equipamentos e para obras de melhoria na fiação de hospitais de campanha. Quase um terço da mão de obra no Brasil — algo como 1.000 funcionários — pratica trabalho voluntário, um pilar importante do S. “É uma junção dos esforços de dentro para ajudar quem está fora da empresa”, diz Dominic Schmal, gestor de sustentabilidade da EDP no Brasil.
Agora a aposta é na recuperação da economia com foco nos pequenos negócios. Em março, a empresa lançou um desafio de gestão a 20 negócios de periferia, numa parceria com a ONG Das Pretas, que capacita mulheres empreendedoras no Espírito Santo e em São Paulo. Desafio é o que não vai faltar. | Luísa Granato
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