Estudo sobre imagem aponta como governo brasileiro é visto no exterior em 2020
Quase a totalidade das 1.179 matérias que citaram o Brasil ao longo de 2020 foi negativa – 92% –, gerando um índice de imagem – iVGR (Valor, Gestão e Relacionamento) de –3,38 (numa escala de +5 a -5), indicativo de crise – patamar mantido nos 12 meses do ano.
A imagem do governo que prevaleceu ao longo do ano foi de incompetente e vulnerável, qualidades analisadas na gestão. No aspecto ético, o atributo Irresponsável manteve média de 20% de participação ao longo de todo o ano.
O estudo, produzido pela Curado & associados, consultoria especializada em gestão de imagem e reputação, analisou textos de 7 veículos internacionais de reconhecida relevância e com pluralidade de linha editorial: The New York Times e The Washington Post (Estados Unidos), The Guardian e The Economist (Inglaterra), El Pais (Espanha), Le Monde (França), e Der Spiegel (Alemanha).
A imprensa americana publicou 607 matérias sobre o Brasil
Crises de imagem começam quando o indicador está abaixo de -2. Ao longo de 2020, o índice menos negativo foi o de fevereiro, ainda assim em -2,59 (gráfico abaixo). Entre abril e junho, auge da primeira onda de Covid-19 no Brasil, o País registrou seus piores índices. A imagem voltou a patamares mais críticos a partir de setembro, com cobertura bastante desfavorável sobre a política ambiental do governo federal (Amazônia e Pantanal).
A pauta negativa: pandemia, turbulência política e Amazônia
Das 1.179 matérias publicadas, foram 1.088 negativas (92%) e 91 positivas (8%). Entre as negativas (gráfico acima), 52% de gestão da pandemia. No tema “outros”, destaque especial a matérias sobre a crise econômica do Brasil sem o contexto da pandemia e de violação a direitos humanos.
Entre as 91 matérias positivas, expectativas positivas de retomada da economia e de reformas estruturais, sobretudo no primeiro trimestre do ano, tiveram maior relevância. Outros temas que geraram visibilidade positiva: pagamento de auxílio emergencial e testes com vacinas no Brasil.
Covid-19: do “so what?” ao movimento contra a vacina
A cobertura da Covid-19 no Brasil em todo o ano teve 608 matérias – 571 negativas e 37 positivas. A gestão política do presidente Bolsonaro na crise foi o tema da pandemia mais criticado pela imprensa, com 308 das negativas (gráfico acima). O período entre abril e julho foi o mais crítico, concentrando 181 matérias negativas para o tema gestão política na pandemia. O mês de abril foi o pior para o tema, isoladamente com -4,08. Das 37 matérias positivas de pandemia em 2020, 12 sobre o auxílio emergencial e suporte financeiro a Estados e municípios pagos pelo governo federal.
Uma frase carregada de insensibilidade do presidente Bolsonaro que chamou a atenção da imprensa internacional foi “e daí?” (so what?), no fim de abril, quando o país contabilizava 5.000 mortos. O índice de imagem para o tema “liderança política do governo para a Covid-19” foi de -3,88.
Nos primeiros meses da pandemia no Brasil, a imprensa internacional destacou, em especial, o agravamento das desigualdades sociais, com impacto mais negativo nos brasileiros mais vulneráveis, como os moradores das “favelas” das grandes cidades e populações indígenas da Amazônia. Enquanto isso, Bolsonaro ria. A fala de Bolsonaro “o brasileiro precisa ser estudado, pois mergulha em esgoto e não pega nada” pôde ser lida em diferentes veículos de imprensa do exterior.
No último trimestre, a imprensa focou na campanha antivacina de Bolsonaro. “Bolsonaro branded ‘homicidally negligent’ over Brazil’s vaccine planning” (Bolsonaro rotulado de negligente homicida pelo plano brasileiro de vacinação), escreveu o inglês The Guardian, em 13 de dezembro.
Amazônia e o impacto no investimento estrangeiro
Participação dos temas ligados a questões ambientais – apenas matérias negativas
A cobertura de questões ambientais em todo o ano teve 167 matérias – 165 negativas e apenas 2 positivas, estas sobre agradecimento de Bolsonaro por apoio do primeiro-ministro inglês, Boris Johnson, na questão da Amazônia. Entre as negativas, matérias sobre a destruição da Amazônia e do Pantanal representaram 88% (145 negativas). Setembro teve o pior índice para Amazônia (-4,05). “A nova grilagem de terras é apoiada pelo presidente brasileiro Jair Bolsonaro”, escreveu a alemã Der Spiegel, em 15 de setembro. Dias depois, o discurso negacionista de Bolsonaro na abertura da 75ª Assembleia Geral da ONU também ganhou destaque da imprensa.
A deterioração da imagem do Brasil na questão ambiental começou em 2019, com as queimadas na Amazônia. Em 2020, o tema voltou a ficar mais sensível a partir de junho. No dia 23, The Guardian, The New York Times e The Washington Post fizeram reportagens em que “investidores de trilhões de dólares” faziam alertas ao Brasil de que políticas de “desmantelamento” da Amazônia poderiam afetar novos projetos e acordos comerciais. Percepção de um governo Bolsonaro “irresponsável”.
Ataques ao STF e ao Congresso, Moro, Weintraub e nazismo
A cobertura de questões políticas em todo o ano teve 259 matérias – 247 negativas e 12 positivas (estas sobre a recuperação da popularidade de Bolsonaro em agosto, de acordo com pesquisas).
A imprensa internacional ressaltou o autoritarismo do presidente Jair Bolsonaro em ataques ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF), além de seu apoio a manifestações pelo fechamento das duas instituições. Os ataques a jornalistas também foram mostrados no exterior. As ameaças à democracia somaram 98 das 247 negativas ou 40% (gráfico acima).
Entre abril e maio, um foco de grande destaque foi a turbulenta demissão do ministro da Justiça, Sergio Moro, que acusou o presidente Jair Bolsonaro de querer interferir na Polícia Federal. Foram 35 matérias negativas e índice -4,07. Em junho, a demissão de outro ministro, Abraham Weintraub (Educação), gerou 12 matérias negativas e índice -4,32. A mídia estrangeira mostrou os ataques de Weintraub aos ministros do STF e manifestações racistas contra os chineses.
Outro ex-membro do governo Bolsonaro também ganhou grande repercussão internacional. Em janeiro, o então secretário de Cultura Roberto Alvim fez gravações em vídeo contendo falas do ministro de Hitler Joseph Goebbels. A associação nazista gerou 9 matérias negativas e índice -3,83.
Para ter acesso a todos os estudos da série:
Acesso o link: https://www.ivgr.com.br/estudo-brasil-internacional
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