Especialistas debatem cenário econômico e desafios de comunicação para 2024
A fim de promover uma discussão sobre os desafios e perspectivas socioeconômicas diante de um período de transição – energética, econômica, cultural e social –, a Aberje reuniu, no dia 20 de fevereiro, um time de especialistas em comunicação e economia num evento presencial e aberto em sua sede. Na ocasião, também foi apresentada a agenda da Associação, que tem como tema do ano a “Comunicação para a Transição”.
O debate contou com a presença do professor-doutor do programa de pós-graduação em Economia Política na PUC-SP, Antonio Corrêa de Lacerda; do jornalista Felipe Seligman, co-fundador e co-CEO no Jota; do sociólogo Marco Ruediger, diretor na Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV ECMI). A moderação foi de Amanda Brum, responsável pelas áreas de Comunicação, Marketing e Relacionamento na Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Desafios, oportunidades, narrativas, verdades e não-verdades
Ao traçar um cenário interessante da realidade atual e das perspectivas econômicas, o professor-doutor do programa de pós-graduação em Economia Política na PUC-SP, Antonio Corrêa de Lacerda, destacou algumas transições pelas quais o mundo vem passando, como o cenário pós-Covid, a questão climática e a descarbonização e comentou as implicações que isso tudo traz para o Brasil.
“Todo aquele cenário de globalização no final do século XX, que se traduzia em transferir a produção para outros países, está sendo repensado, porque todos esses efeitos climáticos e pandemias envolvem riscos logísticos e de abastecimento. Está havendo um processo que é o reposicionamento das cadeias de suprimentos, de produtos e serviços. Isso abre possibilidades enormes para países emergentes como o Brasil”, ponderou Lacerda.
Diante disso, o economista salientou a existência de uma infinidade de oportunidades tanto para as empresas e consultorias quanto para os profissionais de comunicação. “Além dos riscos é preciso observar as oportunidades. O diferencial para profissionais e empresas está em se readequar diante desse período de transição, para fazer frente aos grandes desafios. O maior deles é o timing, pois a recuperação, a retomada, é muito rápida e é preciso oferecer soluções sustentáveis a custos competitivos dentro do timing suficiente para atender essas demandas”, frisou.
O sociólogo Marco Aurélio Ruediger, diretor na Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV ECMI), refletiu sobre o que é a verdade numa complexa sociedade em rede. “A verdade é um produto essencialmente das relações sociais, da construção de diferentes visões de mundo e a comunicação é um vetor de transformação de toda essa dinâmica social. A nossa dinâmica social tem sido profundamente afetada justamente pela questão da comunicação e da construção da verdade da narrativa dentro da comunicação”, analisou.
Ruediger destacou a crescente preocupação com o uso de inteligência artificial na disseminação de informações falsas. “Hoje é extremamente difícil conseguir identificar a verdade, pois existe uma avalanche brutal de desinformação e as redes sociais acabam por mobilizar reações emocionais nas pessoas, e não racionais”, comentou.
A democracia e a economia do mercado foram outros pontos trazidos pelo sociólogo. “Como a democracia será protegida como valor nas próximas décadas? E quanto à economia? Como as modelagens sobre o mercado serão críveis ou não? E as questões ambientais? Com a inteligência artificial, teremos um problema de agendas conflitantes, que são fundamentadas em visões e versões distintas”, provocou.
Tomadores de decisões e as demandas de comunicação
O jornalista Felipe Seligman, co-fundador e co-CEO no Jota, defendeu o aprofundamento do debate de tantas questões ligadas a esse período de transição. “A comunicação em rede praticamente destruiu a indústria da comunicação, o papel do profissional de comunicação agora é completamente diferente e o desafio é formar um profissional nesse novo mundo, totalmente emaranhado de opiniões e informações”, refletiu.
“Essas transições envolvem questões extremamente complexas que exigem uma série de discussões profundas que não cabe apenas numa disputa de rede social. É preciso aprofundar o debate e entender a necessidade de sedimentar e compreender o alvo da comunicação. Outro desafio é como se manter informado diante de tanta desinformação sobre esses temas; como é possível entender o que é importante para que seja possível se posicionar; e ainda educar a sociedade sobre a importância disso”, avaliou.
Os especialistas acentuaram que a área de comunicação tem um papel importante nas empresas, que vai além de trabalhar temas estratégicos e corporativos, que é a capacidade didática para a construção de confiança, formação e educação de milhares de colaboradores que são os grandes influenciadores das redes.
Na visão de Ruediger, ainda não está muito claro, para o tomador de decisão das organizações, o quanto de transformação a sociedade está vivendo e o quanto de confiança está sob ameaça, assim como a reputação das organizações. “Há que se ter uma compreensão cultural nas organizações, de que a comunicação não é mais uma peça acessória, ela conversa com a estratégia da empresa”, salientou. “Preservar a confiança na marca é o negócio, é fazer com que tenham importância no mercado em que atuam”, completou.
Para Seligman, eliminar o ruído é primordial para o bem comunicar. “Eliminar o ruído é saber com quem você está se comunicando, saber o que e para quem comunicar. É analisar quem é o seu público e o que ele precisa, ou seja, no que se está disposto a investir”, colocou.
Assista à live na íntegra:
Destaques
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