Em entrevista, presidente do Conselho de associação global de PR apresenta prioridades para 2022
A Page é uma associação profissional para executivos e educadores seniores de relações públicas e comunicação corporativa. Ela reúne uma comunidade de quase 800 líderes globais da área e continua a expandir seu alcance para além dos Estados Unidos. No Brasil, por exemplo, ambos os diretores da Aberje, Paulo Nassar e Hamilton dos Santos, são membros da Page e da Page Up, respectivamente. Hamilton também ocupa o cargo de Country Chair do Brasil na Page. Ao longo dos anos, a relação entre as duas associações cresceu e tem sido bastante benéfica.
Durante um evento recente, a Page apresentou uma lista de prioridades para 2022 que influenciará as ações dos CCOs no próximo ano.
Para discutir essas prioridades, a Aberje convidou Brian Lott, CCO da Mubadala Investment Company e Presidente do Conselho da Page. Como não conseguimos agendar uma entrevista durante a breve estadia de Brian no Brasil, realizamos uma reunião pelo Zoom entre São Paulo e Abu Dhabi.
Brian é responsável pela administração da marca Mubadala e pela gestão da comunicação corporativa da empresa. Trabalha no setor de comunicação há mais de 30 anos, começando sua carreira em Washington, D.C., onde atuou como chefe de equipe, porta-voz e gerente de campanha de dois membros do Congresso.
Antes de ingressar na Mubadala em 2009, Brian trabalhou na empresa global de relações públicas Burson-Marsteller por dez anos, onde fornecia orientação estratégica a clientes de relações públicas, corporativos e de tecnologia.
Gostaria de começar perguntando sobre seu relacionamento com a Page e por que você se tornou um membro. Além disso, como a Page ajuda você no seu trabalho diário?
BL: Em primeiro lugar, é um prazer estar com você e ser um convidado da Aberje. Acabei de voltar de quase uma semana no Rio e em São Paulo. Como sempre, é um prazer visitar e estar no Brasil por alguns dias.
Entrei na Page em 2013 como membro. Estou no conselho há seis anos e acabei de me tornar seu presidente em janeiro. Tenho o privilégio de representar cerca de 750 comunicadores de todo o mundo. O que eu encontrei de mais valioso na Page são realmente três coisas. Primeiro, é uma rede de especialização. Temos profissionais de todo o mundo que são diretores de comunicação, membros de agências de relações públicas e acadêmicos que se reúnem como uma comunidade para ajudar uns aos outros e compartilhar conhecimentos. Isso para mim é extremamente valioso para informar como faço meu trabalho na Mubadala Investiment Company. Em segundo lugar, há muito pensamento de vanguarda e conhecimento na Page em termos de olhar para o papel do diretor de comunicação dentro de uma corporação, como agregamos valor e como nos mantemos à frente da curva. Isso tem a ver com tudo, desde as relações de prestação de contas dentro de uma organização até o futuro, para onde vamos, como uma função e a importância da comunicação. E terceiro, os benefícios não são apenas para mim, mas para minha equipe. Existem iniciativas como The Learning lab, The Future Leaders Experience e Page Up. Tudo isso me ajuda muito, porque fortalece minha equipe; e a qualidade do meu trabalho depende das pessoas que me apoiam. Portanto, a combinação dessas coisas torna a Page especial.
Entre as prioridades discutidas na última reunião da Page estão os novos critérios para diversidade. Quais são esses novos critérios e como a Page está conectando-se com a DAA (Diversity Action Alliance)?Brian Lott: Essa é uma ótima pergunta. Temos uma ênfase particular na diversidade porque acho que nossa filosofia central como comunicadores é que a diversidade é uma força, não uma fraqueza. Portanto, queremos ter um conjunto de visões o mais diverso possível ao redor da mesa.
Temos trabalhado muito para aumentar o nível de diversidade dentro da Page, particularmente nos últimos cinco anos, eu diria, em termos de equilíbrio de gênero, em termos de representação de latinos, afro-americanos e de outras partes do globo. Eu gostaria de lembrar às pessoas que na minha equipe eu represento a diversidade porque minha equipe é composta principalmente por cidadãos árabes dos Emirados Árabes Unidos e da região – Egito, Líbano, Iraque, etc. Portanto, a diversidade pode significar coisas diferentes em diferentes partes do mundo, mas não há dúvida de que nos EUA há uma urgência em torno da diversidade. Na Page ela é melhor, mas não está onde eu gostaria que estivesse. Precisamos continuar melhorando nossa representação como uma organização que se esforça para ser diversificada porque isso só nos tornará mais fortes. E trabalhar com a DAA para nós é uma grande oportunidade de entender o que significa diversidade e por que é tão importante. Portanto, esse trabalho vai continuar sob minha liderança como presidente do conselho.
Qual é a ligação com o DAA? Existe um acordo oficial ou você está apenas seguindo esse caminho?
BL: A aliança é uma parceria. A Page desempenha um grande papel nessa parceria e é uma forte defensora da DAA. Temos comunicações regulares com a Diversity Action Alliance em termos de alavancagem. Eu estive com Carmella Glover, que é a líder deles, numa reunião na semana passada, com a equipe da Page. E ela participou informando nossa equipe e desempenhando um papel fundamental para nossos membros. Mas também, ajudando-nos a refletir sobre o significado da diversidade e por que ela é tão importante.
Temos visto a Page assumir um papel de liderança ao incentivar os membros a apoiar a DAA, a assinar o compromisso com a DAA em termos da diversidade em equipes. E também níveis de divulgação – quando apropriado e onde for legal – para compartilhar com a DAA. Assim poderemos entender melhor o que a diversidade significa para as organizações em todo o mundo.
Uma das prioridades é sempre o modelo de pensar internacionalmente. Gostaríamos de saber o que isso significa e como o Brasil e outros países da América Latina têm um papel nisso.
BL: Em primeiro lugar, minha casa fica nos Emirados Árabes Unidos, então sou o primeiro presidente da Page fora dos EUA. E para mim essa perspectiva global é extremamente importante porque, embora os EUA sejam um grande mercado, estamos nos tornando, como vemos todos os dias, um mundo muito mais interconectado globalmente do ponto de vista jornalístico e também do ponto de vista comercial.
Não consigo pensar em um único membro da Page que trabalhe isoladamente. Todo mundo está interconectado hoje em dia. Entender o que isso significa, principalmente para uma empresa multinacional, é muito importante. Então, mesmo que eu esteja sediado em São Paulo, preciso saber o que meus stakeholders nos EUA, Reino Unido ou China e Japão estão pensando. Semelhante a qualquer outra empresa localizada fora do Brasil que esteja operando no Brasil.
Para mim, essa perspectiva global é realmente fundamental para que você não tenha um único ponto de vista em qualquer região específica. Acho que fizemos um ótimo trabalho na Page ao torná-la mais internacional em termos de sua filiação, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Temos economias enormes como a brasileira, que estão sub-representadas na Page. Sei que Hamilton e outros trabalharam muito para aumentar a representação na região.
Mas também em toda a América Latina você tem empresas importantes que estão fazendo negócios em todo o mundo, que têm uma perspectiva que seria tremendamente valiosa para o resto dos membros da Page ouvirem. Embora nossa representação internacional seja significativa, em torno de 20%, gostaria de ver isso dobrar nos próximos anos para que realmente nos tornemos uma organização mais global.
Reunir os membros também está na lista de prioridades. Qual é o pensamento da Page sobre reuniões presenciais agora que elas são mais possíveis? E como isso se reflete na internacionalização da Page?
BL: O que os últimos dois anos e meio nos ensinaram é que podemos realmente interagir como uma comunidade, como uma comunidade global, sem ter que estar juntos pessoalmente. Assim como estamos fazendo esta entrevista agora entre dois continentes e dois fusos horários diferentes. Mas isso para mim ainda não é a situação ideal. Uma das coisas mais valiosas em que penso em qualquer associação, mas na Page em particular, é a capacidade de ver Hamilton pessoalmente, tomar um café juntos e passar um tempo conhecendo um ao outro fora dos limites formais de uma conferência da Page.
Eu dirigi a conferência anual em Washington DC no outono passado. Foi nossa primeira conferência em dois anos, desde a conferência anual de 2019 em Boston. Foi ótimo ver todo mundo. Foi bom lembrar como isso é importante, como seres humanos, estarmos juntos e trocarmos idéias pessoalmente. Fizemos o melhor trabalho possível para manter todos seguros; enquanto estamos pensando no seminário da primavera em abril e na conferência anual em setembro deste ano, para ter certeza de que tomaremos todas as precauções necessárias.
Mas eu realmente me empenhei no ano passado em tentar fazer as coisas de forma presencial. Isso pode se tornar uma característica das conferências da Page: ter uma espécie de apresentação híbrida, porque a pandemia não vai desaparecer tão cedo. Diferentes países estarão em diferentes níveis de desafios em termos de como manter as pessoas seguras e como enfrentar diferentes restrições de viagem. Então acho que para 2022, pelo menos, veremos uma espécie de abordagem híbrida. Eu adoraria que as pessoas se sentissem à vontade para fazer o esforço de vir às conferências pessoalmente, porque acho que isso faz uma grande diferença.
Você também tem a Page Up. Quais são os planos para ela e como esse projeto está indo?
BL: Então, a Page Up tem sido um grande sucesso. Seus números aumentaram significativamente nos últimos três anos, eu diria, por duas razões. Uma, é que todos percebem que a Page Up é uma organização vital para a Page. São comunicadores de nível superior. Eles podem não ser o CCO (Chief Communications Cfficer), mas desempenham papéis extremamente importantes dentro de suas organizações.
Eles geralmente têm uma perspectiva diferente e muito importante para trazer à mesa. Eu acho que a Page é ainda melhor e mais forte por causa da Page Up. Eu estava com Steve Halsey, que é o presidente do conselho da Page Up para 2022, na semana passada. Ele tem planos ambiciosos para expandir a organização e torná-la mais internacional. E o que é realmente interessante sobre a Page Up é que existem certas regiões ao redor do mundo onde o diretor de comunicação pode não se reportar ao CCO, ou pode não se qualificar para o que é chamado de membro técnico da Page.
Então você tem o profissional de comunicação mais sênior na Page Up. É uma organização muito interessante que torna a Page muito mais dinâmica e muito mais interessante para mim. Acho que veremos, este ano e no próximo, uma relação de trabalho muito mais próxima entre Page e Page Up, porque somos todos parte da mesma família.
Você acha que a situação da Rússia com a Ucrânia terá um efeito imediato sobre os comunicadores? Isso muda alguma coisa para nós? Por que devemos nos preocupar com esse conflito agora?
BL: Qualquer conflito em qualquer lugar é preocupante, obviamente, do ponto de vista humano. Como uma empresa global e como uma organização que representa empresas que fazem negócios em todo o mundo, é claro que seremos impactados. Não apenas porque trazemos nossa sensibilidade para o trabalho, pois estamos atentos à política e à situação política em cada país, mas em particular, dada a dinâmica do atual ambiente geopolítico.
Mas acho que também há uma interrupção óbvia nos negócios, seja na cadeia de suprimentos de remessa, na aviação ou em qualquer tipo de comunicação. Temos colegas na Rússia. Temos empresas com as quais trabalhamos na Ucrânia, então é obviamente uma grande preocupação. Acho que os comunicadores têm uma visão muito especial das notícias. Observamos atentamente as notícias e estamos gerenciando nossos executivos em torno de questões globais. Enquanto esperamos que este conflito termine logo, isso deve ser visto. Já vimos outros conflitos ao redor do mundo levarem tempo e impactarem os negócios. Acho que precisamos entender qual é o nosso papel como empresas e onde podemos fazer a diferença, onde podemos causar impacto.
Certamente vimos isso nos últimos dois anos durante a pandemia. Em quase todas as partes do mundo, as empresas e a comunidade empresarial intensificaram suas ações para oferecer apoio e ajuda. Seja na prestação de serviços de saúde, seja na inovação em produtos farmacêuticos ou no alívio da cadeia de fornecimento. Antigamente, as empresas ficavam sentadas e observavam essas situações geopolíticas à distância. Não acho que seja mais o caso e não acho que será o caso agora e daqui para frente.
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