Encontro da Unicon reúne MIT, Oxford, Insead e outras para discutir o futuro
Consórcio que engloba as principais escolas de negócios do mundo aponta mudanças e novas forma se pensar o ensino executivo
O encontro anual da Unicon, que reúne as mais importantes escolas de negócios do mundo para discutir o futuro da educação executiva, foi sediado pela Fundação Dom Cabral na semana passada. O evento teve duração de 3 dias num formato totalmente online e, pela primeira vez, foi realizado no Brasil. Com mais de 120 representantes de escolas de educação executiva de mais de 25 países, a conferência contou com a participação de líderes de empresas globais e anunciou a entrada de dois novos membros no board da Unicon por meio de uma eleição entre seus participantes. Um deles é Aldemir Drummond, professor da FDC e principal anfitrião da cerimônia.
No primeiro dia, a discussão foi centrada no novo cenário imposto pelas mudanças significativas que a pandemia do novo coronavírus têm provocado. “O que nos faz refletir e repensar nossa atuação? Como oferecer mais valor? Que tipo de sociedade queremos ajudar a construir? Como podemos melhorar? Há novos stakeholders na cadeia?”, provoca Beth Fernandes, vice-presidente da FDC, iniciando as discussões. É unânime a percepção dos participantes sobre a rapidez com a qual novas tendências têm chegado devido à nova ordem mundial imposta pela pandemia. “As ações que incorporamos aos nossos negócios por necessidades normalmente incentivadas por crises acabam mudando o mundo“, diz Aldemir Drummond, no final do painel matinal. Os diretores das outras escolas também discorreram sobre a digitalização da educação, os preços dos cursos e como oferecer mais multidisciplinaridade aos alunos.
“As escolas estão em um momento de readaptação devido à digitalização que foi acelerada neste ano. Até as soluções online acabam sendo concorrentes das escolas de certa maneira“, diz Caryn Beck-Dudley, presidente da AACSB, associação que conecta educadores, alunos e empresas. Cuneyt Evirgen, da Sabancy University, na Turquia, questiona. “Agora que há tanto conteúdo disponível online, será que faz sentido pensarmos em cursos baseados em disciplinas separadas?” Dessa provocação, veio a contribuição de Devin Bigoness, diretor da americana Cornell University. “É um esforço nosso deixar nosso curso cada vez mais multidisciplinar. Tivemos experiências até com a faculdade de veterinária da universidade“, diz.
No segundo dia, os debates foram sobre as novas demandas do mercado. Richard Lobo, vice-presidente da consultoria de TI indiana Infosys, destacou a necessidade das empresas de transmitir conhecimento aos seus clientes. “Precisamos usar design thinking para aplicar as tecnologias que desenvolvemos e utilizamos“, diz. Andrea Lima, CEO da Whirlpool no Brasil, por sua vez, ressaltou as diversas tendências trazidas por escolas de negócios ao redor do mundo que têm sido implementadas e pavimentado o caminho de crescimento da companhia. “Trabalhamos com metodologia ágil e com o conceito de talentos fluídos. Ou seja, colaboradores que contribuem para diferentes áreas e localizações da empresa no mundo“, diz.
Verônica Sousa, gerente sênior de treinamento e desenvolvimento da Natura, participou da discussão trazendo um questionamento interessante sobre qual tipo de aprendizado atende os mais de 200 líderes da empresa neste momento de pandemia. “Precisamos de algo leve, que não adicione mais uma camada de trabalho à nossa liderança”, diz. Por outro lado, a Natura está passando por um momento crucial de crescimento aliado a impacto positivo para a sociedade e ao meio-ambiente e de integração de marcas. “Ao mesmo tempo, nunca precisamos tanto de educação executiva“, diz Raquel.
O professor e diretor do Centro de Liderança da FDC, Paul Ferreira, também ressaltou tendências importantes na parte vespertina do evento. “O mundo está cheio de jovens bilionários, alguns deles com 15 anos de idade. A geração mais nova, entre 20 e 30 anos, tem experiências cada vez mais relevantes no mundo corporativo. O que oferecer para esse público? O que eles precisam aprender?“, provoca Ferreira. Do outro lado da demanda, estão os executivos acima dos 40 anos. “Tem gente querendo se aposentar e empreendedor, outros que precisam de novas competências, de educação em C-level“, diz Ferreira. “Há muitas oportunidades em potencial.”
O terceiro e último dia do encontro também contou com nomes de peso. A sessão matinal foi iniciada com as reflexões de Lindsay Levin, empreendedora serial dona da Leaders’ Quest, consultoria que ajuda no desenvolvimento de líderes para um futuro regenerativo. “As parcerias das empresas com universidades são um dos mecanismos mais eficazes para promover mudanças significativas no mundo”, diz.
Ashley Williams, CEO da Universidade Virgínia Darden School of Business que também foi responsável McKinsey Academy, complementa a discussão. “O conhecimento que se cria nas organizações se assemelha ao criado nas universidades. Por isso, as parcerias entre as escolas e as empresas são essenciais. As empresas têm capilaridade. E as universidades têm metodologias e processos para absorver os conteúdos“, diz. A responsável pela operação brasileira de RH do banco suíço UBS Deborah Toledo trouxe uma perspectiva de educação para funcionários. “Usando big data, nossa intranet oferece sugestões personalizadas de conteúdos e cursos criados em parceria com várias escolas internacionais adequados ao perfil do colaborador“, diz Deborah.
A sessão de tarde do evento foi marcada pela fala de Antonio Batista da Silva Junior, o presidente-executivo da FDC, que trouxe reflexões importantes sobre a atuação das empresas numa ordem mundial cada vez mais complexa. “A lógico do lucro e dos resultados tem que continuar. Porém, os resultados não podem ser apenas das empresas ou de um grupo seleto; têm de ser da e para a sociedade. Só assim criaremos legados sustentáveis para as próximas gerações“, diz. O executivo também comentou sobre a iniciativa da CEO’s Legacy, promovida pela FDC. “Reunindo mais de 25 CEOs do Brasil, de diferentes indústrias e às vezes até competidores entre si, criamos uma rede de apoio para discutir nossos problemas e dores e, desta forma, modelar um futuro mais justo, menos desigual para o país“, diz.
Dois CEOs dessa iniciativa também participaram da conferência. “Estamos caminhando para um futuro em que todos os CEOs terão que ser ativistas. Terão que entender os problemas dos seus stakeholders e atuar de maneira diligente para resolvê-los. É a geração dos CEOs ativistas“, diz Ana Paula Assis, CEO no Brasil da empresa de informática IBM. “Se não for agora, quando? Se não formos nós, quem?”, complementa Renato Carvalho, CEO da farmacêutica Novartis no país. A companhia, por exemplo, está cedendo plantas para a fabricação de vacinas contra a Covid-19. “Cada passo é importante“, diz o executivo.
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