Empresas preferem jovens a profissionais maduros, diz pesquisa FGV e PwC apoiada pela Brasilprev
A maioria das empresas no Brasil ainda prefere contratar jovens ao se depararem com profissionais com 50 anos ou mais de idade nas mesmas condições técnicas. Mas, comparando à percepção que tinham há cinco anos, têm melhora na percepção positiva com relação a esses profissionais. Para elas, esse público conta com altos índices de comprometimento no trabalho e maior equilíbrio emocional para enfrentar as situações em comparação aos jovens. Em contrapartida, veem os mais velhos como pouco criativos e com baixa adaptabilidade às novas tecnologias, além de os considerarem onerosos nos custos da assistência médica e odontológica.
Essas são algumas das conclusões de uma pesquisa do Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas da Escola de Administração Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP) e Aging Free Fair, apresentada durante o I Fórum de Talentos Grisalhos em São Paulo. Realizada entre fevereiro e março deste ano pela PwC – associada da Aberje, com apoio da também associada Brasilprev e da ABRH, a pesquisa ouviu 140 empresas e teve três objetivos. O primeiro foi identificar as percepções dos gestores com relação aos profissionais com 50 anos ou mais de idade. O segundo, apontar como estão se posicionando estrategicamente em relação ao envelhecimento da força de trabalho no país. O terceiro propósito foi analisar a evolução, entre as organizações, da visão e práticas de gestão em relação ao estudo anterior, feito em 2013, com o mesmo público-alvo.
Das companhias ouvidas, a maioria (72,14%) é brasileira e têm capital fechado (77,86%), com origem do capital nacional (64%). Entre os setores de atuação, destaque para serviços e saúde, 35,71% e 10,71%, respectivamente. Mas cerca de 20% afirmaram atuar em setores diversos não especificados. Praticamente a metade delas (48,57%) possui receita bruta anual de R$ 99 milhões, 16,43% entre R$ 100 e R$ 299 milhões e 20,72% acima de R$ 1 bilhão. Com relação aos respondentes, 62,86% possuem 46 anos ou mais de idade e a maioria ocupa cargos de gestão, entre gerentes (39,29%), diretores (25,71%), sócios (12,14%) e vice-presidentes (3,57%).
Segundo análise da autora do estudo, a professora e pesquisadora de Organizações e Pessoas da FGV, Vanessa Cepellos, entre os profissionais que participaram da pesquisa, grande parte deles possuem uma percepção positiva em relação aos colegas de trabalho com 50 anos ou mais, com média de 4,03, na metodologia que vai de 1 a 6, na qual 1 significa “discordo completamente” e 6 representa “concordo totalmente”. Ela explica: “Essas percepções estão associadas, principalmente, à fidelidade a empresa (95%), comprometimento no trabalho (89%) e maior equilíbrio emocional em comparação aos jovens (88%). Em contrapartida, os pontos negativos estão associados à falta de criatividade (31%), de má adaptação às novas tecnologias introduzidas (31%) e por esses profissionais sêniores serem responsáveis pelos custos maiores com planos odontológicos e de saúde (30%)”.
Cepello alerta ainda para o fato de as empresas participantes terem baixo grau de adoção de práticas voltadas aos profissionais mais velhos: apenas 2,20. “A adoção está bem abaixo da média. A única prática de gestão direcionada a esse público diz respeito à possibilidade de prestarem serviço mais flexível às companhias após a aposentadoria (45%). Além disso, muitas ações não fazem parte do repertório das companhias, como: planos de carreira para os mais velhos (6%), programa de preparação para aposentadoria (11%) e modelos de carreira diferenciados para os já aposentados ou em vias de se aposentar, como por exemplo, deixar uma posição gerencial para se dedicar a projetos e atividades consultivas (9%)”. Ela chama atenção, ainda, para uma contradição: “Em comparação à pesquisa de 2013, nota-se a melhora da percepção dos gestores com relação às pessoas com 50 anos ou mais. Porém, diminuiu o grau de adoção de práticas de gestão voltadas a esse público”.
Empresas ratificam tabus – A pesquisa mostrou que as empresas continuam a preferir jovens, revelando-se resistentes na contratação de pessoas mais velhas: 75% delas optam pelos primeiros mesmo em igualdade de condições. O mesmo percentual de corporações, ou seja, 75%, refere-se àquelas que não desenvolvem postura proativa na contratação de profissionais mais velhos ou em idade de se aposentar. E 88% não contam com campanhas específicas para a inserção desse público em seus quadros.
A superintendente de Pessoas e Processos da Brasilprev, Katia Ikeda, fala da importância e da necessidade de as empresas incluírem os “talentos grisalhos” nas equipes, principalmente num cenário de aumento da longevidade da população pelo qual o Brasil passa. “De acordo com dados de dezembro de 2017 do IBGE, a expectativa de vida do brasileiro é de 75,8 anos. Some-se a isso o fato de a população ocupada com mais de 50 anos ter aumentado mais de 38% entre dezembro de 2006 e fevereiro de 2016, chegando a 5,9 milhões de pessoas. Os números denotam o envelhecimento da força de trabalho no país, um fenômeno que só vai se intensificar”. Katia, por fim, adverte: “As companhias, cada vez mais, contam com a interação de diferentes gerações no ambiente de trabalho. Para atender esta realidade, precisam estruturar programas para lidar com profissionais mais experientes, e, paralelamente, ajudá-los a ter qualidade de vida e segurança financeira para o amanhã.”.
Envelhecimento da força de trabalho – De acordo com relatório sobre emprego nos Estados Unidos, divulgado no primeiro trimestre de 2017, praticamente 19% das pessoas acima de 65 anos estavam trabalhando pelo menos meio período no período. A proporção emprego/população nessa faixa etária naquele país só foi tão alta na década de 1960, antes de os aposentados americanos conquistarem benefícios melhores de assistência médica e Seguridade Social. À época de divulgação do documento, 32% das pessoas com idade entre 65 e 69 anos tinham um emprego e mesmo depois dos 70 não queriam ou não podiam se aposentar, e 18% entre 70 e 74 ainda estavam na ativa. Nos EUA, os mais velhos estão trabalhando mais enquanto os que têm abaixo de 65, menos, de acordo com projeções do Escritório de Estatísticas dos Estados Unidos (BLS na sigla em inglês).
No continente europeu, o cenário não é diferente. Em setembro do ano passado, cerca de 50 países que fazem parte da Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa (Unece), tornaram-se signatários da Declaração de Lisboa, na qual comprometeram-se a desenvolver estratégias que valorizem a experiência das pessoas mais velhas, bem como a promoverem esquemas flexíveis de reforma que lhes permitam permanecer mais tempo no mercado de trabalho. Na Declaração, os países reconhecem que as políticas relacionadas com o envelhecimento são uma “responsabilidade partilhada e devem envolver os governos, o setor privado, os parceiros sociais, a comunidade científica e, em particular, as organizações não-governamentais de e para idosos”.
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