Em webinar, especialistas destacam importância do ESG para empresas brasileiras e estrangeiras
Em evento online organizado pela Aberje, executivo da OCDE, diretor de Sustentabilidade da Natura e especialista da King’s Business School concordaram que a agenda ESG avança no Brasil e no mundo, mas ainda está longe do ideal
O ESG vem se mantendo em evidência há alguns anos e a sigla ganhou ainda mais força após o início da pandemia de covid-19, com a preocupação aumentada do mercado financeiro em relação ao risco de impactos negativos devido ao não comprometimento com questões ambientais, sociais e de governança. Há progressos no Brasil e no mundo todo, mas é preciso fazer mais.
Essa foi a conclusão dos participantes do debate transmitido gratuitamente hoje pelo canal da Aberje no Youtube. Os convidados foram Robert Patalano, Chefe em exercício da Divisão de Mercados Financeiros da OCDE, Keyvan Macedo, Diretor de Sustentabilidade da Natura &Co e Gabriela Gutierrez-Huerter, especialista em Gestão Internacional do King’s Business School.
Foi o terceiro e último encontro da série de webinars que teve início em março, para discutir as relações entre Brasil e Reino Unido. O primeiro debate foi a respeito das Relações Brasil-Reino Unido pós-Brexit e contou com a participação do embaixador do Reino Unido, Peter Wilson. Em abril, o segundo evento reuniu virtualmente Marta Díez, presidente da Pfizer Brasil, Raul Machado Neto, diretor de Estratégia Institucional do Instituto Butantan, e Maria Berta Ecija, especialista em diplomacia da saúde pelo King’s College London para falar sobre Vacinas para Covid-19: Ações e Narrativas.
No início do evento, Paulo Nassar, diretor-presidente da Aberje ressaltou que o ESG é um tema clássico na comunicação e RP nos últimos anos, e que os grandes embates nas empresas e opinião pública se dão em torno das questões ambientais, sociais e de governança. “A novidade é que agora o mercado financeiro presta muita atenção aos impactos causados por essas questões. A credibilidade das narrativas é outro ponto fundamental, que está ligada aos relatos das questões de ESG, que tornam-se ainda mais relevantes devido às fake news”, comentou.
Assim como Nassar, Robert Patalano, da OCDE, destacou que as questões levantadas pelo ESG não são novas. “Formas de ESG existem há muitos anos, comecei a trabalhar com avaliações de RSC (Responsabilidade Social Corporativa) e governança há 25 anos. Partes do ESG vieram do RSC, mas [a sigla] se transformou em muitos aspectos. O ESG é muito mais integrado e focado em aprimoramento a longo prazo, pois é ligado a riscos de reputação e riscos de importância para a sociedade, e a gerenciar esses riscos por um período de tempo muito mais longo. Isso traz implicações estratégicas para as empresas”, explicou.
Outro ponto, segundo Patalano, é que hoje a sociedade está muito mais atenta ao conceito “do no harm” [“não faça mal”], por isso, as empresas devem tomar cuidado com ações que possam ter impacto negativo na sociedade. “Por outro lado, as corporações também estão mais cientes de que investidores, consumidores e governo as cobrarão por suas responsabilidades. Então, estamos progredindo bastante nessas áreas”, avaliou.
Progressos em ESG no Brasil
Na visão do executivo da OCDE, o Brasil vem cada vez mais abraçando a “agenda verde”, através de iniciativas como a nova agenda sustentável do Banco Central (BC), que visa a alocação de recursos direcionada para o desenvolvimento de uma economia mais sustentável, dinâmica e moderna. “Há muita oportunidade para o Brasil assumir a liderança na adoção de boas práticas, e encorajo isso”, afirmou.
Para Gabriela Gutierrez-Huerter, do King’s Business School, o Brasil tem muito potencial por ser um país rico em recursos naturais, mas precisa resolver questões ligadas ao pilar Governança, devido aos problemas com histórico de corrupção. “As questões ambientais e de governança estarão cada vez mais em pauta, os investidores exigirão saber se as empresas estão fazendo a coisa certa”, analisou.
Na visão de Keyvan Macedo, da Natura, não somente o Brasil mas todos os países da América Latina estão finalmente entendendo sua responsabilidade nas frentes ambiental e social. “As empresas estão percebendo que, se não fizerem isso, não irão sustentar seus resultados financeiros. Com a pandemia global, a situação se agrava, pois sabemos da realidade triste que ainda enfrentamos no Brasil e em outros países da região”, disse o executivo.
Para Palatano, tanto as empresas quanto o governo brasileiro estão cada vez mais comprometidos, até também devido à cobrança da sociedade. “Há progressos, mas é preciso fazer mais, garantir, por exemplo, que a informação seja disponibilizada com transparência, além de também colocar em prática os planos de ESG”, completou.
Importância da Comunicação para o ESG
Os participantes concordaram com a relevância da comunicação corporativa para os avanços em ESG. “A comunicação é muito importante, e precisa ser bem estruturada e consistente. É preciso que as companhias se comuniquem de forma clara, para que a sociedade e os investidores entendam o que as empresas planejam, e como irão implementar esses planos, para que possam ser avaliados”, afirmou Palatano.
Ele ressaltou a importância dos especialistas de comunicação, para divulgar o que de fato é relevante para investidores, reguladores e sociedade. “É preciso criar algum nível de consistência global para garantir que haja comprometimento com o ESG, em todos os níveis, para o crescimento econômico”, analisou o diretor da OCDE.
Para ele, a comunicação também é uma ferramenta importante para o combate ao “greenwashing” [‘lavagem verde’, uma propaganda enganosa feita por organizações que divulgam informações sobre defesa do meio ambiente, mas na realidade essas empresas não praticam nenhuma ação que colabora com a minimização dos impactos ambientais, muitas vezes fazendo o contrário daquilo que divulgam]
Keyvan Macedo, explicou que a Natura ainda busca definir sua narrativa de ESG, para comunicar aos seus públicos. “Nosso principal foco são os investidores, e, de forma geral, eles estão familiarizados com as terminologias que usamos. Mas nossa principal meta é progredir em nosso relatório anual, que consideramos o principal meio de comunicação em relação às questões de sustentabilidade com a sociedade em geral, não somente os investidores. Nosso maior desafio é demonstrar como o ESG está inserido em nossa estratégia de negócios”, resumiu o executivo.
Para Gabriela Gutierrez-Huerter, é preciso ter a certeza de que as empresas estão se envolvendo com o ESG, e isso só será possível através da comunicação efetiva. “Os stakeholders, consumidores, insistem na transparência por parte das empresas, mas a verdade é que muitas vezes não é possível verificar a veracidade dessas informações. Não conseguimos compreender e identificar o que precisamos saber nos relatórios, então, é preciso haver clareza e transparência real”, alertou.
Para a acadêmica, outro desafio é determinar as regulações. “Os governos não exigem que [as corporações] publiquem relatórios, em geral eles são divulgados por iniciativa da própria empresa. É preciso haver uma regulação maior”, finalizou.
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