05 de agosto de 2024

Em palestra na USP, professor do King’s College explora o papel da Comunicação Estratégica nas universidades

Evento foi realizado por meio do IntegraCom, resultado de parceria com a Aberje
Da esquerda para a direita: Eugênio Bucci, Hamilton dos Santos, Vinícius Carvalho e Adriana Cruz

Na sexta-feira (02), o diretor-executivo da Aberje, Hamilton dos Santos, participou da palestra “Comunicação Estratégica na Universidade”, ministrada por Vinícius Mariano de Carvalho, professor associado de Estudos Brasileiros e Latino-Americanos no Departamento de Estudos de Guerra do King’s College London (KCL). A palestra foi realizada no Instituto de Estudos Avançados da USP, no campus da Universidade na cidade de São Paulo, promovida pela Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP, por meio do Programa IntegraCom. A USP é associada à Aberje e o IntegraCom é resultado da parceria entre as duas instituições. A coordenadora do IntegraCom, Adriana Cruz, assessora de imprensa da Reitoria da USP, também compôs a mesa do evento

A palestra foi aberta pelo professor Eugênio Bucci, da ECA-USP, membro do conselho da Aberje, que cumprimentou os presentes e apresentou Carvalho e Santos. Hamilton dos Santos falou a seguir, explicando a importância do acordo de cooperação entre a Aberje e a USP para o desenvolvimento da Comunicação na universidade e para o diálogo entre as associadas e o meio universitário. Santos destacou também o papel de Carvalho no conselho da Aberje e falou sobre sua trajetória acadêmica e profissional, com doutorado pela Universidade de Passau, Alemanha e posições de diretor do Brazil Institute (2020-22), vice-reitor Internacional da Faculdade de Ciências Sociais e Políticas Públicas (2021-2023) e diretor do Mestrado em Comunicação Estratégica (2022-2024) no King’s College London. Carvalho ainda é fundador da Brasiliana – Journal for Brazilian Studies e editor da Anthem Brazilian Studies Series. Paralelamente à carreira acadêmica é músico e dirige o King’s Brazil Ensemble.

Desafios

Carvalho falou sobre a importância crescente da Comunicação para as universidades em meio ao cenário de proliferação de desinformação e notícias falsas. Ele destacou que as instituições de ensino precisam criar meios para lidar com as fake news e que devem estar preparadas para responder às contestações que surgem a todo momento. “Os mestrados em Comunicação hoje estão em diversas áreas, eles não estão mais restritos ao Jornalismo”, lembrou.

Logo no início de sua fala, Carvalho brincou com os presentes que o título da palestra era ambíguo e que era necessário, antes de tudo, entender o que é a estratégia na Comunicação Estratégica. Com remissões a vários autores, como Rosa Brooks, Christopher Paul, James Farwell, Paul Cornish, Julian Lindley-French e Claire Yorke, ele explorou os elementos que compõem a Comunicação Estratégica, como o uso de palavras, ações ou símbolos para exercer influência; a preponderância das ações sobre o discurso; e a necessidade de compreender o público, suas atitudes e opiniões. De acordo com Carvalho, em muitos casos a Comunicação Estratégica assume o papel da diplomacia pública. “Todo mundo hoje é um comunicador”, afirmou Carvalho, ao explicar que não se deve apenas pensar em canais de comunicação e em receptores de mensagens, mas na forma como os atores envolvidos recebem as mensagens que pensamos comunicar.

Ao explorar a relevância da Comunicação Estratégica, Carvalho comentou o papel da área no meio militar, trazendo exemplos da OTAN – hoje, o Estado-Maior da aliança inclui especialistas em Comunicação Estratégica. Na organização, as atividades comunicacionais são tudo o que impacta as relações entre humanos. Essa nova doutrina da OTAN, segundo Carvalho, foi elaborada após a saída americana do Afeganistão, que representou uma derrota militar e de comunicação.

Transformações

“Controlar a narrativa não é mais possível”, afirmou Carvalho. “Hoje, com as redes sociais e seus algoritmos, perdemos o controle da Comunicação”, continuou.

As plataformas digitais representam hoje meios de informação, e não de narrativa, explicou. Os usuários projetam grandes quantidades de informação em meios que têm outros objetivos (como a coleta de dados) e essa informação muitas vezes não é permanente – como os stories que desaparecem após 24 horas. O papel da audiência também mudou. De simples receptora, ela passa a produtora de novas mensagens.

“Não se trata mais de informação ou de narrativa, mas de entretenimento”, declarou Carvalho. “O que achamos que produzimos e controlamos não é o que de fato produzimos e controlamos”, concluiu.

Diante desse cenário de mudanças, Carvalho frisou a necessidade de uma dimensão ética bem definida, para preservar a reputação das instituições e para garantir diretrizes mínimas para a grande pluralidade de criadores existente, além de lembrar a importância da definição de objetivos e públicos-alvos claros para evitar que acidentes se tornem foco.

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