Diversidade & Inclusão é um dos grandes desafios do ESG, segundo estudo “Demitindo Preconceitos”
Segunda edição da pesquisa traz insights para que as empresas sejam mais assertivas nessa área
A fim de trazer mais informações para apoiar as decisões estratégicas das organizações para que sejam mais assertivas na área de Diversidade & Inclusão, a Santo Caos, consultoria de engajamento, lançou a segunda edição do estudo Demitindo Preconceitos – Um panorama sobre o grupo LGBT no mercado de trabalho brasileiro. A apresentação foi feita durante live realizada no dia 30 de agosto, em parceria com a Aberje, no canal do Youtube da associação. Na ocasião, os participantes puderam debater o desdobramento dessas descobertas para as empresas, e como elas podem se tornar mais inclusivas.
A pesquisa, que contou com quase 20 mil participantes em todo o Brasil, traz dados sobre a jornada das pessoas LGBTI+ nas organizações. Participaram do evento Demethrius de Oliveira, parceiro de Negócios de Diversidade e Inclusão na Norsk Hydro; Rodolfo Mesquita Neiva Muniz, coordenador de Compliance na BRK Ambiental; e Marilia Kishi Lazzeri, gerente de Cultura e Diversidade & Inclusão na Raízen. A mediação foi feita por Thiellen Rodrigues, consultora de Diversidade&Inclusão na Santo Caos e Jean Soldatelli, sócio-fundador da Santo Caos.
Ao compartilhar a pesquisa, Jean Soldatelli e Thiellen Rodrigues resumiram o estudo sobre o que a equipe da Santo Caos averiguou. O primeiro fato é que essa população existe e são bastante diversas entre si. “Essa população é grande, 10,4% dos entrevistados se identificam como uma pessoa LGBTI+. Duas em cada três pessoas desse universo encontram barreiras na contratação, ou seja, esse número poderia ser maior”, disse Thiellen.
O segundo fato é que essa população tem menos tempo de empresa. “54% dos LGBTI+ tem menos de dois anos de empresa. Isso pode ser resultado de dois fatores: nossa primeira hipótese é a contratação recente – grande parte das empresas tem iniciado o movimento de contratação dessa população nos últimos três ou quatro anos”, apontou Soldatelli. “A outra explicação pode ser porque essa população é mais jovem. 59% tem menos de 31 anos. Mas comprovamos que a rotatividade, justamente pelo ambiente menos inclusivo no mercado de trabalho”, complementou.
A presença da população LGBTI+ nas lideranças é mais rara; apenas 16% alcançam um cargo de liderança nas organizações, enquanto que os não-LGBTI+ são 26%. “58% dos entrevistados não veem as mesmas oportunidades de desenvolvimento na empresa”, reforçou o executivo.
Outro fato verificado na pesquisa, é que o grupo LGBTI+ sofre mais assédio. 74% das pessoas disseram que já sofreram algum tipo de preconceito no dia a dia nas empresas. Em relação à discriminação – que é uma ação indireta com piadas ou comentários –, o número alcança 65% das pessoas. E quando se fala em assédio o número chega a 28% no ambiente de trabalho. “Essa incidência é 46% maior do que quem não é LGBTI+; aqui a gente consegue quantificar a diferença da incidência de assédio para explicar porquê essa população deve ser um foco de trabalho para as empresas na sociedade como um todo. Afinal, ela tem uma incidência quase 50% maior de assédio no dia a dia de trabalho”, salientou Soldatelli.
A pesquisa ainda aponta que menos da metade dos entrevistados acham que a empresa fala muito e faz pouco, pois 41% dessa população acreditam que há plena valorização da diversidade nas empresas. “Isso é explicado justamente pela baixa efetividade das ações, do posicionamento da empresa: três em cada quatro LGBTI+ veem as ações sobre o tema realizadas pela empresa como pouco efetivas”, explicou o executivo.
Outro ponto levantado pelo estudo é que a população LGBTI+ é muito engajada para transformar e fazer a mudança acontecer. 88% das pessoas desse grupo acham importante priorizar o tema D&I e fora dessa população, 74% consideram o tema importante. “É muito interessante observar como a população LGBTI+ se sobressai, é sempre o grupo mais engajado. Isso está muito ligado ao senso de urgência para que o tema seja prioritário”, ressaltou Thiellen.
A população LGBTI+ vivenciam uma realidade mais dura do que a percebida pelos não-LGBTI+. “Se a população não-LGBTI+ não percebe o tamanho do problema enfrentado por essa população, como essa transformação vai acontecer? É urgente que a gente reduza essa visão para o mínimo possível e não deixar isso pra depois”, finalizou Thiellen.
Para Marilia Kishi Lazzeri, da Raízen – empresa do setor de energia com cerca de 40 mil funcionários –, a pesquisa promove uma reflexão importante seja para quem lidera o tema, ou para quem faz parte de uma organização. “Todos têm uma responsabilidade em relação ao ambiente de trabalho e o estudo traz muita informação relevante para a gente parar e pensar sobre o tema”, acentuou. “Um dos pontos que me chamou a atenção é a diferença de percepção das pessoas que fazem parte do grupo LGBTI+ e das que não fazem parte. Por algum motivo, as pessoas não estão conseguindo se colocar no lugar e entender a vivência e a realidade desse grupo”, ressaltou.
De acordo com Marília, a jornada da diversidade começou na empresa em 2017. “Tratar deste assunto em uma empresa desse setor, com predomínio masculino, com este tamanho e dessa complexidade, com negócios muito diferentes é o desafio diário que a gente tem aqui junto com os grupos de afinidades que fazem parte da nossa discussão de estratégia; por isso os dados são muito importantes”.
Demethrius de Oliveira, da Norsk Hydro – empresa da indústria do alumínio presente em 40 países –, ressaltou um ponto que considera importante em relação ao desafio comentado por Marília: “o tema LGBTI+ quando está pautado na indústria – com aquele histórico de que é um segmento que foi criado pensando em pessoas que não tenham deficiência, que sejam do gênero masculino, se for forte e alto melhor ainda – é um desafio porque esse setor exige muita experiência, pessoas com muito tempo de carreira e que valoriza a questão etária na tomada de decisão”.
Oliveira contou que o programa de D&I da empresa teve início em 2019. “Dentro da nossa matriz de audiência, percebemos quatro principais grupos: temos defensores do tema, os novatos – pessoas com boas intenções, os espectadores – pessoas com tendência mais para o lado negativo e os intolerantes,que dificilmente serão transformadas sob essa ótica”.
“Diversidade faz parte do nosso DNA”, disse Rodolfo Mesquita, da BRK Ambiental, empresa de saneamento que atua em todo o país. “Nosso padrão de D&I prioriza quatro pilares: gênero, raça, PCD e LGBTI+, uma pauta que eu vejo como muito efetiva dentro da companhia, mas temos que acelerar esse processo e a gente só acelera com o compromisso da alta direção”, comentou o executivo.
“Nós fizemos um censo e entendemos a nossa realidade e começamos a desenvolver ações estruturadoras. É importante olhar para dentro e para o público externo, enquanto grupo apoiamos associações fora da companhia”, contou Mesquita.
Assista à live na íntegra:
https://www.youtube.com/watch?v=EvM6FVRnWdg
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