18 de maio de 2022

Zumbis da comunicação

Sou fã fervoroso e defensor da tecnologia. Escrevo e compartilho uma visão apaixonada sobre a evolução da sociedade e suas constantes transformações. Mesmo assim, as vezes tenho um olhar crítico. Percebo que muitas pessoas passam imersas na mídia por muito tempo e, na maioria das vezes, não percebem o quanto estão expostas. A multiplicação das experiências nas redes sociais contribui não apenas para a falta de consciência da influência delas em suas vidas, como também amplifica e acelera uma fusão contínua de outras atividades envolvendo a educação, o trabalho e o lazer.

Para muitas pessoas, principalmente os jovens, o uso intensivo e imersivo destes ambientes pode ser visto como a transformação em viciados impotentes, escravos dos influenciadores e suas recomendações tendenciosas. Verdadeiros zumbis no sentido em que sucumbem acéfalos ao chamado de consumo desenfreado, a repetição de passos de dança ou defesa de argumentos políticos questionáveis. Zumbis porque usam as essas mídias de forma a anular suas distinções como indivíduos. São manipulados como peças previsíveis em um jogo marcado.

A associação entre mídia e zumbis não é nova. Algumas vezes invocada sobre comportamentos ante ao controle dos meios de comunicação através da história, sejam jornais, rádios, revistas, televisão, até mesmo os livros. Entretanto, é possível considerar que hoje o nível de imersão nas redes sociais é sem precedentes. O desejado engajamento é o santo graal do universo digital. Então não é surpreendente que para tentamos entender esses cenários juntemos ao comportamento similar ao parcialmente vivo e parcialmente morto para uma compreensão crítica.

Em um mundo de visão apocalíptica, envolvendo pandemia, guerra, inflação, negação a degradação do meio ambiente, eventos climáticos cada vez mais extremos, fragilidade da matriz energética, percebemos um movimento de desunião global que se confirmado, pode alterar radicalmente a atual estrutura produtiva do planeta, bagunçar o sistema econômico mundial e criar novos blocos de poder. Exatamente em um momento de fragilidade intelectual da nova geração que se acostumou a ver a vida como um videogame.

Trabalhar em uma área que une a comunicação com tecnologia traz a responsabilidade de compartilhar potenciais cenários, assim como estimular pessoas próximas a refletir sobre as alternativas que temos. De nada adianta criticar as criptomoedas, desdenhar dos NFTs, menosprezar o Blockchain ou ridicularizar o metaverso. Boas ou ruins, ideais ou não, essas são as ferramentas que temos a disposição para construir uma nova sociedade.

A intolerância ao diverso tem que sair dos discursos rasos e de alguns oportunistas do ESG. Ao mesmo tempo que não podemos polemizar todas as questões. Nessa grande transformação que assistimos, devemos entender que a longevidade da vida nos colocou em um contexto multigeracional nunca experimentado. Determinados pensamentos e costumes, comprovadamente errados, devem ser corrigidos com a força adequada, evitando cancelamentos.

Normalmente as palavras têm significados múltiplos, maior que o próprio termo. Quando falamos em cores, por exemplo, nós associamos ao amarelo ouro à atenção ou energia, ou o vermelho com advertência, proibição e perigo. Mas essas inferências não estão embutidas no significado básico de “amarelo” ou “vermelho”. São acréscimos culturais que atribuímos às palavras possibilitando riqueza à linguagem.

Este é um dos motivos pelos quais os documentos jurídicos, estudos médicos e científicos são tão difíceis de ler. Para evitar interpretações, os termos comuns são retirados, evitando a controversa bagagem cultural. Desta forma, palavras adicionais específicas não são introduzidas para preencher as lacunas de interpretação.

Assim como na ficção, ou como nos games, sempre existe a possibilidade de salvar os zumbis. E é isso que precisamos fazer. Encontrar uma forma de utilizar a tecnologia para nos capacitarmos como indivíduo e sociedade. Para todos aqueles que comprovadamente não se sentem zumbis, devem esquecer esse discurso repetitivo que a inteligência artificial vai roubar empregos. Que a polarização é algo inevitável ou que para se ter a paz devemos fabricar mais armas. Para mudar precisamos inovar no processo de comunicação. Devemos construir pontes e juntar as bolhas. Não será fácil nem rápido. Mas é necessário.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Marcelo Molnar

Marcelo Molnar é formado em Química Industrial, com pós graduação em Marketing e Publicidade. Experiência de 18 anos no mercado da Tecnologia da Informação, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Criador do processo ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de sua relação emocional com seus consumidores. Coautor do livro "O segredo de Ebbinghaus". Atualmente é Sócio Diretor da Boxnet.

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