Um salto ornamental para mergulhar no pires
Uma teoria da Administração diz que “quality thinking, quality performance”. Acredite: o segredo se esconde no “thinking”. Esse mundo de alta exposição estimulada pelas chamadas redes sociais, num exibicionismo quase obsceno, tem revelado à exaustão a burrice e, natural e consequentemente, a falta de critério.
O que tem de gente fazendo pose e disparando platitudes é assustador. É a internet revelando e acendendo uma lâmpada em cima de gente que tem a profundidade intelectual de um mergulho em um pires. Daria dó, se não desse enjoo antes.
Falta densidade, falta o velho “esgotar o assunto” para somente então abrir a boca a respeito de qualquer coisa. “Para quem só sabe usar martelo, todo problema é um prego” já ensinou Abraham Maslow (1908-1970), psicólogo americano, conhecido pela proposta Hierarquia de necessidades de Maslow.
Se você leu um, dois ou três livros de algum figurão histórico, você ainda não é um expert, nem sobre o figurão, nem sobre o tema. Menos. Sinto dizer. Preserve sua imagem e reputação e estude mais, elabore mais, crie densidade e só depois saia por aí iluminando a humanidade, sem parecer um sábio da autoajuda. Você até pode, se o desejo de compartilhar for maior do que você, comentar as suas leituras, seus insights, mas deve também relativizar sempre para que a soberba não tome posse do seu ego.
Pode parecer tentador ser um “influencer”, um pensador, alguém que tenha algo a dizer e contribuir com a sociedade, mas definitivamente não é simples, rápido, muito menos fruto do “querer é poder”. Tem que ralar e muito, ter vivência e muitas vezes quebrar a cara, aprender a sentir o público e adaptar o discurso, colocar as ideias na perspectiva da linha do tempo correspondente e encantar a plateia, não ser chato, óbvio, raso. Não criar um constrangimento para si, uma metralhadora de frases feitas.
Tenho visto com muita frequência várias pessoas assim, cuja vaidade é uma ceifadeira de limites e não considera assumir a própria bagagem que traz; imagina um belo conjunto de malas e seus carregadores, quando na realidade viaja com uma malinha de mão, e pior, mais dramático, tem público! E é capaz de jurar que está arrasando…
O filósofo e ensaísta sul-coreano, professor da Universidade de Artes de Berlim, Byung-Chul Han (1959), trata no seu ensaio “A sociedade do cansaço”, sobre uma enfermidade que está acometendo a sociedade neste século XXI. As pessoas vendem-se como autênticas porque “todos querem ser diferentes uns dos outros”, o que força a “produzir a si mesmo”, um dos efeitos colaterais do discurso motivacional, em um mercado de palestras e livros motivacionais crescente a aquecido; as velhas religiões perdendo adeptos para novas igrejas que trocaram o discurso do pecado pelo encorajamento e autoajuda; as instituições políticas e empresariais que mudaram o sistema de punição, hierarquia e combate ao concorrente pelas positividades do estímulo, eficiência e reconhecimento social pela superação das próprias limitações. Um novo ambiente, que tem trazido consequências. Um deles, o cansaço.
Cansaço de gente que leu pela primeira vez uma velha frase, batida, a enfeitou rebuscadamente com flores de plástico e publicou nas redes como se tivesse descoberto o paraíso e assim, com isso, pretende mudar o mundo, sem a mínima honestidade intelectual. O acesso à informação que a internet trouxe, a quantidade de pessoas emitindo opiniões sobre todas as coisas o tempo inteiro, pinçando frases, ajeitando ideias emprestadas para justificar uma opinião sua, pessoal, é, além de cansativo, um alerta para todos: há perigo em cada esquina do pensamento.
Sei que não é fácil e as vezes me vejo diante dessa tentação mas, sugiro e sempre recomendo: alimente correta e adequadamente seu senso crítico. Ele protegerá você desse fluxo internético de superficialidades, falsos influenciadores, falsos pensadores, arremedo de professores.
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