Quando a educação também faz a diferença nos processos de comunicação

Entre minhas atividades profissionais, faço mentoria de carreira há algum tempo, o que me dá muita satisfação. É gratificante orientar alguém a alcançar seus objetivos a partir de experiências vividas, com apoio de muito estudo e pesquisa, além do conhecimento e da serenidade que só a maturidade proporciona. Isso me dá um grande campo de observação.
Nas minhas outras atividades profissionais, como a docência e a consultoria empresarial nas áreas de comunicação corporativa, relações institucionais e governamentais e advocacy, tenho, igualmente, um campo fértil de observação, atuação e vivência sobre o ser humano no trabalho, tudo sob um grande guarda-chuva chamado comunicação.
Eu adoro o que faço. E adoro abrir este guarda-chuva mesmo com sol, porque assim podemos pensar juntos sentados sob a generosa sombra que ele nos oferece.
E é sobre isso que tenho pensado, quando olho o mundo hoje e vejo uma nuvem densa cobrindo o planeta. Há uma tensão generalizada suspensa no ar. Entre as nações o embate via geopolítica vive momentos de grande tensão e dentro de muitos países o modelo se repete em disputas políticas e de interesses de grupos econômicos a pretextos ideológicos. Talvez, nada de muito novo, apenas mais tenso, mais perigoso e menos previsível.
O momento parece delicado e é difícil cravar um palpite. As apostas ainda estão sendo feitas neste momento de guerra de comunicação e de narrativas, um jogo bruto em que as redes sociais, a imprensa e outros veículos de comunicação têm papel preponderante na mobilização da opinião pública.
É como Caetano Veloso diz em uma canção: “alguma coisa está fora da ordem / fora da nova ordem mundial…” e uma nova ordem mundial está sendo desenhada.
Melhor aguardar, prestando atenção para entender o jogo das potências.
Olhando mais de perto, então, para o que nos rodeia, um feroz jogo de interesses polarizados de poder político e dinheiro, usando a desinformação como tática e as redes sociais e os demais meios de comunicação como campo de batalha, pouco podemos fazer a não ser tentar ficar o mais longe possível para não cair no bate-boca inútil e apaixonado, no qual a ética foi completamente abandonada, descolada da companhia do conhecimento e da inteligência. Isso sem falar na educação diária, que parece não existir mais. Tempos tristes.
Fechando mais o foco naquilo que nos toca, pensemos um pouco sobre o que foi feito de nós, por exemplo, na esteira do impacto da tecnologia na nossa vida cotidiana e no trabalho, nos últimos 30 anos. Tivemos o envelhecimento da população, a entrada da Geração Z no mercado, a globalização e a concentração de empresas na mão de poucos, as profissões que desapareceram ou vem desaparecendo engolidas por robôs, por computadores ou por processos de Inteligência Artificial, a “uberização” do trabalhador, a pandemia e todos as suas consequências, o brotamento exponencial das igrejas neopentecostais, a “falência” do ensino e a multiplicação das faculdades de esquina, o esvaziamento da família etc.
“Alguma coisa está fora da ordem”, fora da nova ordem pessoal.
Pense comigo, pegando apenas um ponto. Será que não estamos ficando exageradamente individualistas, mais egoístas? Será que nossas relações humanas, com o outro, no trabalho e fora dele, não perderam qualidade, especialmente no que tange à humanidade? Estamos duros demais? Exigentes demais? Frios demais? Será que estamos perdendo a capacidade de olhar e enxergar o outro e vivemos entre invisíveis?
Hoje, para mim, uma das competências mais significativas para o bom exercício profissional dentro de uma empresa e fora dela é a educação. É ser educado. Não confunda “ser educado” com títulos acadêmicos e conhecimento acumulado. Falo da educação aprendida em casa, como antigamente, ensinada pelos pais, pelos avós, e que devemos ter incorporada no nosso dia a dia pessoal e no nosso cotidiano corporativo: agradecer, dar feedback, dizer “por favor”, demonstrar respeito e atenção pelo outro, saber ouvir, ser cavalheiro, respeitar os mais velhos etc. Pequenos gestos, esquecidos hoje em dia, que fazem toda a diferença, que acolhem, nos fazem todos humanos em um mundo em que os papeis muitas vezes se misturam e que ajudam, muito, a fazer fluir processos de comunicação, negociação e produção, seja lá do que for.
E no fim, vale a pessoa. Seja seu colega abaixo ou acima no organograma, seu fornecedor, seu cliente ou um desconhecido no meio do caminho. São pessoas como eu e como você e nós gostamos de ser tratados com educação, não é mesmo?
Vamos refletir sobre isso? Muito obrigado pela sua leitura.
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