26 de agosto de 2024

Propaganda Eleitoral. Precisamos de uma reformulação urgente!

Publicado originalmente no LinkedIn, em 26 de agosto de 2024

O Horário Eleitoral Gratuito (só faltava ser pago), em redes abertas de Rádio e TV, começa na próxima sexta, dia 30 de agosto, e vai até 3 de outubro, quando três dias mais tarde será realizado o Primeiro Turno. Caso na cidade do eleitor haja uma segunda rodada, ele seguirá sendo alvo de abdução de 11 a 25 desse mesmo mês. Vamos lá, a propaganda eleitoral é uma ferramenta essencial para a democratização do acesso à informação política, mas ao invés de ser um espaço sério de propostas e debates, é transformado em um palco de absurdos e irrelevâncias porque no lugar de cumprir seu papel de informar e educar o eleitorado, é transformado em um espetáculo de mau gosto, humor involuntário e propostas fantasiosas.

Já passamos da hora de repensar radicalmente o sistema, estabelecendo critérios de seriedade e relevância que reflitam a importância do processo eleitoral. O formato atual, além de monótono e repetitivo, falha na captura da atenção dos eleitores. Antes de tudo é imperativo estabelecer uma mudança radical na forma de apresentar candidatos e conteúdos. Essa mudança não apenas reduziria a saturação e a banalização do conteúdo, como permitiria uma curadoria mais rigorosa dos materiais apresentados.

Para revitalizar esse espaço, poderíamos propor a integração de tecnologias emergentes, como a realidade aumentada (AR) e a inteligência artificial (IA), transformando a experiência. Imagine um cenário onde os eleitores possam usar seus smartphones para escanear códigos QR na tela e acessar informações adicionais sobre os candidatos, visualizar gráficos interativos sobre suas propostas e até mesmo assistir a simulações de como suas políticas impactariam a sociedade. Quem sabe isso será algo comum quando a TV 3.0 for implantada. Se o candidato está buscando a reeleição, também poderíamos descobrir quais propostas apresentou, quais foram aprovadas e seu ranking de desempenho. A IA poderia ser utilizada para personalizar conteúdos e apresentar informações relevantes com base nos interesses e preocupações individuais dos eleitores. Seguramente um trabalho prévio deveria ser planejado, mas seria potente.

Outra opção, menos complexa, é estabelecer menos horários ao longo do dia. Quem sabe assim os eleitores estariam mais receptivos e demonstrassem interesse nas informações quando veiculadas. A questão dos critérios mínimos de seriedade para os candidatos que desejam utilizar esse espaço é outro ponto fundamental, em minha opinião. Vamos deixar o folclore de lado e a geração de memes que inundam o nosso WhatsApp ao longo do processo. Podemos até rir dos absurdos, mas no fundo isso é uma tragédia. Não podemos mais admitir que indivíduos com nomes, apelidos e figurinos que mais se assemelham a bobos da corte ocupem um espaço destinado à discussão séria sobre o futuro do país, de um estado ou mesmo de um município, onde tudo de fato começa.

Propostas absurdas e irreais deveriam ser filtradas e os candidatos precisariam ser obrigados a apresentar planos de governo detalhados e viáveis. A criação de um comitê de avaliação, composto por especialistas independentes ou membros da Justiça Eleitoral e do Ministério Público Eleitoral, poderia garantir que apenas candidatos com propostas sólidas e coerentes tenham acesso ao Horário Eleitoral Gratuito.

A transformação da Propaganda Eleitoral em uma plataforma séria e informativa também passa pela necessidade de um “Painel de Transparência Eleitoral”. Composto por jornalistas, acadêmicos e representantes da sociedade civil, teria a função de analisar e verificar a veracidade das promessas eleitorais, a viabilidade das propostas e o histórico dos candidatos. As análises seriam apresentadas ao público de forma clara e objetiva, permitindo que os eleitores façam escolhas mais informadas e conscientes. Facilitaria em muito a vida das agências de checagem.

Para combater essa crescente desilusão com a política brasileira e atrair candidatos mais sérios e comprometidos, é fundamental que o Horário Eleitoral Gratuito seja precedido por uma campanha de educação cívica robusta. Programas educativos nas escolas, workshops comunitários e campanhas nas redes sociais poderiam desempenhar um papel crucial na formação de eleitores críticos e engajados. Além disso, a promoção de debates públicos e fóruns de discussão teriam o poder de incentivar a participação ativa da sociedade no processo eleitoral.

A inclusão digital também deve ser uma prioridade. Parcerias com empresas de tecnologia e organizações não governamentais, investidas pelo Governo, viabilizariam a distribuição de dispositivos e a oferta de treinamentos para aqueles que não têm acesso fácil à internet. Conteúdos em formatos acessíveis, como vídeos com legendas e tradução em Libras, garantiriam que pessoas com deficiência também pudessem participar plenamente do processo. Ideais não faltam e certamente muitas já devem ter sido pensadas e debatidas, mas nunca colocadas em prática.

O Horário Eleitoral Gratuito definitivamente precisa de uma revitalização para se tornar uma plataforma séria e informativa, que realmente contribua para o fortalecimento da democracia. Não será nestas eleições, mas por que não em 2026 ou em 2030? É hora de enfrentarmos a realidade: o futuro do país depende de um processo eleitoral mais sério e responsável e não de personagens folclóricos que só nos fazem perder tempo, além de queimar o dinheiro do contribuinte e das emissoras de Rádio e TV. Uma programação totalmente fora de sintonia.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Luis Alcubierre

Luis Alcubierre é executivo de Comunicação Corporativa, Relações Institucionais e Governamentais há mais de 25 anos e hoje atua como conselheiro para a América Latina da Atrevia, agência espanhola de PR e Corporate Affairs, além de liderar o escritório Advisor Comm. É também palestrante, mediador e mentor. Formado em Comunicação Social pela FIAM, possui pós-graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e MBA pela FIA-USP, com diversos cursos de gestão de liderança e negociação realizados em instituições como IESE, Berlin School of Creative Leadership, Columbia Business School, Universidad Adolfo Ibañez, Escuela Europea de Coaching, Fundação Dom Cabral, IBMEC e FGV. Foi diretor de Comunicação e Assuntos Corporativos de empresas como Kellogg, Pernambucanas e Samsung, onde teve responsabilidades adicionais pela Comunicação na América Latina. No Grupo Telefônica, assumiu a Direção Global de Marca e Comunicação da Atento em Madrid, na Espanha, sendo responsável pela gestão da área em 17 países. Passou ainda por Dow Química, TNT (adquirida posteriormente pela Fedex) e Rede (antiga Redecard), tendo iniciado sua carreira no rádio, nos sistemas Jornal do Brasil e Grupo Estado. Também foi membro do Conselho de associações ligadas às indústrias de alimentos, varejo, vestuário e mercado financeiro, onde teve importante papel negociador em distintas esferas de governo.

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