Portugal aposta na comunicação para vencer a pandemia
A crise global provocada pelo surto do coronavírus, decretada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como pandemia, está fazendo grandes estragos na economia dos países europeus e, consequentemente, na vida de toda população. Depois da China, o continente passou, em março, a ser o epicentro mundial dos casos de Covid-19. Resultado: fronteiras fechadas, vôos cancelados, países em estado de emergência, milhares de cidadãos infectados, população cumprindo quarentena, cidades desertas, demonstrações de solidariedade e, infelizmente, mortes. Nesse contexto de crise, uma das armas mais importantes para vencer a guerra contra esse inimigo silencioso e invisível é a comunicação. Ela precisa ser responsável, clara, envolvente, esclarecedora, emocional e verdadeira.
Os portugueses têm sido um exemplo quando o assunto é a conscientização da população sobre os riscos dessa pandemia. Governo, grandes grupos de comunicação, entidades humanitárias, empresas, celebridades e o cidadão comum. Todos fazendo a sua parte e empenhados na tentativa de minimizar os impactos negativos e os danos. As fake news, que também vivem por aqui e agravam a situação, têm sido combatidas com esclarecimentos incessantes em todas as mídias. Programas de televisão – como o Polígrafo, da SIC, que firmou parceria com a Direção Geral de Saúde para esclarecer os fatos – e uma enxurrada de informações divulgadas pelo governo são replicadas pelos meios de comunicação. TV, jornais, rádio, internet, aplicativos de mensagens, SMS. Vale tudo no processo da informação correta.
Como na Espanha, Alemanha, França e Itália – país que mais sofre com o coronavírus –, Portugal decretou Estado de Emergência em 18 de março. Mas bem antes disso, o governo tem feito uma verdadeira maratona de informações. A ministra da Saúde portuguesa tem concedido, diariamente, longas entrevistas coletivas para passar o status da situação no país. O governo dispara frequentemente mensagens de SMS para toda população, produziu filmetes de TV com depoimentos de artistas e personalidades alertando sobre os riscos do Covid-19, massifica a informação nos perfis oficiais nas redes sociais. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa, 71 anos, faz parte do grupo de risco e cumpre isolamento preventivo por vontade própria, já falou para a população algumas vezes, a maior parte por meio de videoconferência. O primeiro-ministro António Costa concede entrevista todos os dias sobre o assunto. Ninguém está parado.
Grupos de comunicação unidos
Os grandes grupos de comunicação também somaram forças. Os canais da RTP, SIC e TVI aboliram público em estúdio em seus programas. Telejornais dedicam 80% do tempo abordando a pandemia no país e no mundo. Programas especiais com debates, sessões para tirar dúvidas e dicas do que se fazer em período de quarentena também estão sendo veiculados. Outra coisa que já virou uma tradição são as mensagens de cuidado e conscientização dos apresentadores dos principais telejornais, que são especialmente voltadas para os jovens e idosos sobre a necessidade de mudarem seus hábitos em momentos críticos. Os jornais também retiraram o paywall das matérias que abordam o Covid-19 ampliando a abrangência para os não assinantes.
O Time Out, publicação especializada em eventos, dicas de gastronomia e agenda cultural, foi ousado e mudou temporariamente o nome para Time In, em sintonia com os novos tempos. A publicação traz uma lista dos eventos cancelados em Lisboa e Porto, além de dicas de atividades para tempos de quarentena dentro de casa, como filmes, séries, livros. Suspendeu a edição impressa e está somente no online até a crise passar.
Empresas se mobilizam
Enquanto as empresas estimam os prejuízos decorrentes dessa situação, tomam decisões de negócio para minimizar o impacto e adotam medidas de comunicação com seus stakeholders. Criam gabinetes de crise, esclarecem os colaboradores sobre a atual situação e meios de prevenção, estimulam trabalho remoto e home-office, alinham-se com clientes e fornecedores sobre as mudanças temporárias dos negócios em vigor, reforçam o atendimento e estratégia das redes sociais, etc. Afinal de contas, o trabalho não pode parar tendo em vista que o governo não determinou isolamento e quarentena obrigatória para a população.
Já as empresas comprometidas com transformações na sociedade vão além: apoiam iniciativas humanitárias, iniciam campanhas de conscientização e tomam medidas solidárias para apoiar seus clientes e a sociedade nesse momento em que a união de todos e a manutenção da paz e da ordem são fundamentais para atravessar esse momento de dificuldade. O grupo francês de artigos de luxo LVMH, que detém marcas como Dior, Guerlain e Givenchy, informou que começará a produzir álcool gel em suas fábricas que atualmente produzem perfumes e cosméticos. Tudo será doado para hospitais franceses para o combate do coronavírus no país.
As três operadoras de telecomunicações portuguesas – MEO, NOS e Vodafone – oferecem, pelo período de um mês, 10GB de internet aos clientes e deixam de ser cobrados alguns canais que são pagos. A Porto Editora decidiu abrir, de forma gratuita, a Escola Virtual a todos os alunos, a plataforma Leya também disponibiliza uma escola virtual e seu acervo para consulta gratuitamente e a gigante Cisco não está cobrando pelo acesso às soluções de trabalho remoto. A multinacional suíça Nespresso enviou mensagem avisando aos clientes sobre o fechamento das lojas e ressaltou que os empregados continuarão recebendo salários. O Banco Millenium/ BCP também avisou aos clientes para darem preferência ao recurso online, informou que algumas agências serão fechadas temporariamente e faz campanha estimulando os pagamentos eletrônicos em substituição às notas e moedas como tentativa de reduzir o contágio.
O cancelamento de eventos devido ao surto será responsável por prejuízos da ordem dos 250 milhões de euros. Um impacto gigantesco no país que se tornou a meca dos festivais de verão e turismo de negócios. A estimativa é da Apecate (Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos). A entidade estima que praticamente todos os eventos agendados para os próximos meses em Portugal foram cancelados. A rede NOS Cinemas optou por fechar as 219 salas. Grande parte em shoppings e centros comerciais que também estão com acesso limitado. A NOS tinha em vigor medidas iniciais de prevenção como a redução da capacidade das salas em 50% e o reforço da limpeza e higienização. Agora todas estão fechadas.
A APCE (Associação Portuguesa da Comunicação da Empresa) também está trabalhando remotamente. Como está em curso a edição de 2020 do Grande Prémio da entidade, a equipe está organizando um segundo “Open-Day telefônico” para prestar esclarecimentos a todas as entidades que, neste momento, preparam as suas candidaturas. Em comunicado, a Associação afirma que todo o processo é remoto, desde a submissão dos projetos, à avaliação dos jurados. A cerimônia de vencedores do Grande Prémio APCE está marcada para o dia 7 de maio mas, dependendo da evolução da pandemia, será adiada. O Fórum Tendências previsto para abril e a Assembleia Geral da Global Alliance, em Lisboa, já foram canceladas, bem como todas as reuniões presenciais de acompanhamento regular dos associados.
Sabemos que a situação não é fácil e todos vivem dias agitados. Mesmo com os sinais positivos que parecem começar a chegar da China, na Europa e no resto do mundo, os estragos ocasionados com o Covid-19 vão demorar a passar. E nesse período, o que não pode passar, é a vontade, a força e o foco para encontrar soluções que minimizem o impacto dessa pandemia. Nesse desafio, a comunicação responsável é uma arma fundamental. Cuidem-se todos.
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