03 de maio de 2010

O que os olhos não veem, o coração não sente

Fica cada vez mais claro que o bolso do consumidor está intimamente ligado àquele músculo do lado esquerdo do peito. Só que nos primórdios da publicidade, as escolhas eram poucas e bastava um pequeno esforço de comunicação que explicasse o benefício da compra para que um produto vendesse. A razão era a responsável por levar as pessoas ao consumo. Uns diriam que aqueles sim eram tempos românticos e muito menos complexos para se comunicar. A mídia massiva predominava. Na metade dos anos 60, era comum que os programas de TV tivessem intervalos com no máximo três anúncios de um minuto cada. As poucas marcas que apareciam falavam e o consumidor “obedecia” hipnotizado pelas maravilhas daquilo que se comunicava.

Por incrível que hoje possa parecer para as novas gerações, os consumidores achavam tudo aquilo lindo e os anunciantes nadavam de braçada. É claro que os colegas do passado admitirão que hoje as coisas estão muito mais complicadas de se gerenciar, mas que naquele tempo nada era tão fácil quanto estas linhas podem deixar transparecer. É verdade. Cada geração vive suas angústias e dificuldades, como também os benefícios e prazeres que as tecnologias do momento permitem.

A questão é que não só as tecnologias mudaram. As pessoas, sem sombra de dúvida, foram as primeiras a iniciar uma revolução nas comunicações. O reflexo de hoje resulta de muitas vitórias, mas, sobretudo, dos fracassos do homem no século XX.  As pessoas se tornaram mais individualistas, focadas na mobilidade e na convergência, mas paradoxalmente presas aos excessos da oferta e da virtualidade. Mensagens como “aproveite”, “prove”, “desfrute”, “use”, “vista”, “experimente”, e “ligue agora”, trazem as facilidades e o imediatismo às nossas vidas. Junte-se a isso uma acessibilidade maior e preços menores para que todos conformem uma grande legião de consumidores estressados e ansiosos. Alguns dirão que a geração “Y” já vem com o chip programado para essa quantidade de mensagens e sinapses, mas não creio que os terapeutas concordem com a afirmação. É cada vez mais comum ver que, de fato, os excessos são bem aceitos pelo nosso DNA, não importa se a geração seja “A” ou “Z”, mas o difícil para o ser humano, independentemente da era na qual nasça, é fazer escolhas.

Para resolver o dilema, já há alguns anos os profissionais da comunicação estão encontrando uma saída (eles sempre encontram uma saída). Para diferenciarem-se em um mundo repleto de marcas, de alternativas; para fugirem do bombardeio de ofertas e mensagens e da infidelidade dos consumidores, as empresas precisam atingir o coração das pessoas e sensibilizá-las para aquilo que elas fazem, mas principalmente como o fazem e constroem esse feito. Como bons cupidos, precisam mirar aquilo que significam na essência (o core, o coração) e clonar esse sentimento nas pessoas, com a coerência e a consistência na comunicação para transmitir benefícios que extrapolam a sua funcionalidade.

E se quiser aparecer, mostre-se exatamente como é, agregando uma personalidade à comunicação que a transforme em algo memorável. O amor de verdade por uma marca nasce principalmente da honestidade de propósitos que ela tem com os consumidores.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Luis Alcubierre

Luis Alcubierre é executivo de Comunicação Corporativa, Relações Institucionais e Governamentais há mais de 25 anos e hoje atua como conselheiro para a América Latina da Atrevia, agência espanhola de PR e Corporate Affairs, além de liderar o escritório Advisor Comm. É também palestrante, mediador e mentor. Formado em Comunicação Social pela FIAM, possui pós-graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e MBA pela FIA-USP, com diversos cursos de gestão de liderança e negociação realizados em instituições como IESE, Berlin School of Creative Leadership, Columbia Business School, Universidad Adolfo Ibañez, Escuela Europea de Coaching, Fundação Dom Cabral, IBMEC e FGV. Foi diretor de Comunicação e Assuntos Corporativos de empresas como Kellogg, Pernambucanas e Samsung, onde teve responsabilidades adicionais pela Comunicação na América Latina. No Grupo Telefônica, assumiu a Direção Global de Marca e Comunicação da Atento em Madrid, na Espanha, sendo responsável pela gestão da área em 17 países. Passou ainda por Dow Química, TNT (adquirida posteriormente pela Fedex) e Rede (antiga Redecard), tendo iniciado sua carreira no rádio, nos sistemas Jornal do Brasil e Grupo Estado. Também foi membro do Conselho de associações ligadas às indústrias de alimentos, varejo, vestuário e mercado financeiro, onde teve importante papel negociador em distintas esferas de governo.

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