05 de junho de 2024

O que as pessoas pensam sobre IA no jornalismo?

Pesquisa que acaba de ser lançada pelo Reuters Institute revela traços interessantes sobre o uso da IA Generativa, a percepção de seu impacto na sociedade e a sua relação com o jornalismo em seis  países _ Argentina, Dinamarca, Estados Unidos, França, Japão e Reino Unido.

Ainda que o Brasil não conste desse levantamento, vale a pena acompanhar os resultados, dada a dimensão do impacto esperado da IA Generativa sobre nossas vidas.

A ferramenta mais reconhecida pela população dos seis países é o ChatGPT, mas a sua utilização regular é ainda bem limitada. O uso diário, por exemplo, é apontado por apenas 9% dos jovens de 18 a 24 anos, caindo para 1% dentre aqueles com mais de 55 anos. As respostas que predominam, em todas as faixas etárias, são a de já terem experimentado “uma ou duas vezes” – 17% dos jovens até 24 anos e 13% dentre os entrevistados de 45 a 54 anos, por exemplo.

Os dados sugerem que a maioria das pessoas utiliza o ChatGPT para criar conteúdos em texto, áudio e vídeo (28%) e obter informações variadas (24%). Apenas 5% dos participantes da pesquisa apontam o uso da IA para obter as últimas notícias.

Em outro extremo, 19% das pessoas nos EUA e 30% no Japão nunca ouviram falar de chatbots de IA, apesar de ambos os países concentrarem grandes empresas de tecnologia.

Impacto na sociedade

A maioria dos entrevistados acredita no grande impacto da IA generativa em todos os setores da sociedade nos próximos cinco anos, variando de 51% especialmente nos partidos políticos e 66% tanto no jornalismo como na ciência.

Mas não há consenso sobre o impacto ser mais positivo ou negativo para a sociedade. Muitos entrevistados preferiram dizer que ainda não sabem avaliar. De uma forma geral, o otimismo predomina quando se pensa em avanços na ciência, medicina e em atividades rotineiras, incluindo o entretenimento. Por outro lado, a visão se torna majoritariamente pessimista para temas como custo de vida, empregos e notícias.

ChatGPT e Jornalismo

A pesquisa traz aspectos bem interessantes também na percepção das pessoas sobre o jornalismo com a IA generativa. Em geral, fala-se em ser menos confiável, mas também de custo menor para os veículos de imprensa. As pessoas preferem notícias produzidas por humanos, mas se sentem confortáveis com o uso da IA para certas tarefas.

Segundo a pesquisa, a grande maioria dos entrevistados acredita que os jornalistas já estão usando IA generativa para revisão ortográfica e gramatical (43%) e elaboração de manchetes (29%). Mas, para 27% das pessoas, a ferramenta já está sendo usada para escrever artigos. E corroborando com o dado de preferência por humanos, um terço dos entrevistados acredita que editores sempre checam conteúdos, para garantir que não haja publicação de erros.

É importante destacar que os jovens são mais propensos a se sentirem confortáveis com notícias produzidas total ou parcialmente por IA. Nestes casos, o público tende a preferir que seja usada em editorias como moda e esporte do que em seções que lidam, por exemplo, com política. Ainda assim, ter o seu uso para gerar uma imagem, quando uma foto real não está disponível, e criar apresentadores virtuais é majoritariamente visto como algo desconfortável.

E vale a pena pagar por notícias generativas? Para 41% dos participantes da pesquisa, a resposta é “não”, porque serão menos valiosas do que as produzidas por humanos. O equilíbrio na utilização da IA, portanto, para aumentar eficiência, sem perder credibilidade, parece ser o novo desafio para os veículos de comunicação.

A pesquisa pode ser conferida aqui: What does the public in six countries think of generative AI in news? | Reuters Institute for the Study of Journalism (ox.ac.uk)

Ela foi realizada entre março e abril deste ano, ouvindo cerca de duas mil pessoas em cada um dos seis países.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Carina Almeida

Jornalista e economista, Carina Almeida é presidente e fundadora da Textual Comunicação. Ao longo dos 28 anos da agência, Carina liderou projetos nos cinco continentes, sendo eleita Comunicadora do Ano pela Aberje, em 2016, título que se soma aos 49 prêmios nacionais e internacionais da Textual.

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