05 de março de 2024

O peixe morre pela boca

Este ditado antigo, conhecido pela maioria dos brasileiros, deveria ser mais utilizado por políticos, CEOs e todos que são porta-vozes de uma informação que possa causar impacto na vida e na segurança das pessoas.

Falas de improviso, sem um mínimo de preparação e estudo, geralmente levam a erros crassos com consequências graves, polarização na opinião pública, gerando crises diplomáticas de imagem e reputação.

Sugiro que sempre que tivermos uma oportunidade para fazer um discurso, participar de um evento ou mesmo dar uma entrevista a um jornalista, nos preparar. A preparação te leva a analisar em profundidade o contexto, o que vai ser dito, para que audiência e por fim, e mais importante, o que você espera como consequência desta fala, o output, como dizem os americanos.

Exemplos de erros crassos não faltam hoje em dia e estão aí para comprovar esta teoria.

O que defendo aqui é que líderes políticos, CEOs e porta-vozes em geral, precisam estar atentos às responsabilidades que se tem quando se faz um posicionamento para um interlocutor qualquer ou em cadeia nacional e global.

Atualmente, qualquer posicionamento, certo ou errado, já gera discussões infindáveis. Todos querem opinar, julgar, defender seus pontos-de-vista e solucionar situações de conflito.

Para evitar que os maus entendidos e as crises aconteçam, seja em um post,  palestra, entrevista, ou em rede nacional, sugiro seguir alguns passos:

Em primeiríssimo lugar, analisar a audiência. Com quem você vai falar? Analisar em detalhes a cultura, classe social, demandas daquele público etc. E em seguida definir as mensagens- chave que serão comunicadas naquele momento. Entender se estas mensagens podem causar qualquer impacto naquele grupo, seja positivo ou negativo.

Ou seja, mapear os riscos e determinar o objetivo e a estratégia da comunicação.

Em segundo lugar, e igualmente importante, analisar o contexto, o ambiente e o timing e se perguntar: devemos dar tal informação, para tal público, nesta referida data? Qual impacto poderá causar?

Esta simples reflexão gera um valioso mapeamento de riscos para que sua mensagem seja entendida, apreciada e reverberada positivamente.

Em terceiro lugar, depois da análise dos riscos, das mensagens-chave, preparar um documento de possíveis perguntas que poderão vir após sua fala. Este documento, já com a sugestões de respostas plausíveis, te apoiarão a todos os questionamentos possíveis que poderão vir da opinião pública, da imprensa, de investidores, analistas de mercado, de colaboradores e da sociedade como um todo.

E por fim e não menos importante, certificar que o porta voz está pronto, treinado e preparado para a comunicação da informação.

Parece complexo seguir todas estas etapas, mas se você deseja ter o mínimo de segurança, conquistar resultado positivo na sua audiência e obter uma boa repercussão é necessário investir algumas horas na preparação dos seus discursos, seja ele para uma, ou um milhão de pessoas. Lembre-se. Vivemos em rede em um mundo hiperconectado e um post qualquer pode gerar uma comoção nacional e uma crise sem precedentes.

Enfim, para evitar problemas e ter que se retratar em suas falas, os porta-vozes precisam estar conscientes de suas responsabilidades e entender o real impacto que pode causar na vida das pessoas.

E para terminar este artigo, cito uma outra máxima que ouvi muitas vezes do meu pai: Quem muito fala, dá bom dia a cavalo. Esta é melhor de todas!

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Elisa Prado

Profissional de comunicação há mais de 30 anos, atuou até o início deste ano de 2023 como Diretora de Comunicação Corporativa da Telefônica Brasil, dona da marca Vivo. Graduou-se em Comunicação Social pela PUC de Campinas e é pós-graduada em Marketing na ESPM com especialização em comunicação com stakeholders na Syracuse Universtiy. Foi diretora de comunicação no Deutsche Bank e Tetra Pak, além de ter atuado em agências de publicidade e relações públicas como AAB, Ogilvy & Mather e Grupo TV1. Em 2014, lançou seu primeiro livro – Imagem e Reputação na era da Transparência. Em 2017, lançou o segundo, sobre o tema Gestão de Reputação - Riscos, Crise e Imagem Corporativa. Em 2022, lançou seu terceiro título - Reputação e Valor Compartilhado – Conversas com CEOs das empresas líderes em ESG no Brasil. É membro do Conselho Consultivo da ABERJE, que organiza e regula a comunicação corporativa no Brasil e é professora da ESPM no Master de Comunicação Transmídia, na cadeira de Prevenção e Gerenciamento de Crises. Atua hoje como professora na ESPM, StartSe University e Escola Aberje.

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