Nosso pedaço de linha do tempo
Na época da escola, um dos contatos mais visuais que temos com a aula de história é a linha do tempo. Ao longo do desenvolvimento da civilização, é possível estabelecer paralelos interessantes entre marcos históricos e movimentos artísticos. Os mais diversos campos de pesquisa, como antropologia, arqueologia, filosofia e história, concordam que o surgimento da humanidade está diretamente associado ao aparecimento das formas simbólicas, isto é, da religião, da língua e da arte. Nos três períodos da pré-história, a forma de arte predominante era a arte rupestre, pinturas feitas nas paredes de cavernas, que são o ponto de partida da nossa linha do tempo.
Foto de Lady Escabia no Pexels – Símbolos Egípcios no Oásis de Kharga
Com o desenvolvimento da civilização, a arte também se desenvolveu, passando por diversas expressões, movimentos, técnicas e estilos, porém sempre contando ou ilustrando uma trajetória que nos trouxe aos dias de hoje. Hoje, ao olharmos para essa linha do tempo, conseguimos ver em quadros, esculturas, livros e muito mais, a nossa própria história.
Mas o que acontece agora, hoje? A história continua. Estamos construindo a linha do tempo que os pesquisadores do futuro vão estudar. Estamos produzindo a arte que o futuro vai analisar. Que história estamos contando?
Foto de Shvets Anna no Pexels – Museu do Louvre: um dos maiores museus do mundo que abriga obras de arte de diferentes épocas. A história do mundo contada através da arte.
Hoje em dia, boa parte da produção artística brasileira é financiada pelo poder público, via leis de incentivo à cultura. A escolha de quem será receptor deste financiamento está na mão de grandes empresas, por meio dos departamentos de comunicação ou marketing, que tomam estas decisões baseadas em interesses da própria corporação. Ambas as premissas já são conhecidas e bem disseminadas, mas é importante aqui levantar a discussão sobre o processo de escolha dos projetos a serem apoiados, e aqui eu sugiro duas grandes reflexões.
Em primeiro lugar, julgo importante que cada pessoa envolvida no processo de seleção de projetos para patrocínio cultural pense sobre a importância do poder que tem em suas mãos. Ao selecionar um projeto em detrimento do outro, é também feita, de certa forma, uma escolha sobre qual tijolo será colocado na construção da narrativa da contemporaneidade perante o mundo e as gerações futuras. É preciso considerar qual é a mensagem e a contribuição que está sendo feita para a nossa porção da linha do tempo.
Divulgação: jaumeplensa.com – Obra Crown Fountain, 2004, do artista Jaume Plensa, no Millennium Park, em Chicago.
Como segunda reflexão, também convido a pensar até que limite a apropriação da marca é benéfica, e a partir de que ponto descaracteriza a riqueza do projeto enquanto produto cultural e se torna apenas publicidade. Ter a marca presente em todo o material de comunicação, por exemplo, é algo que faz total sentido e gera conexão entre o projeto e o patrocinador, porém quando a marca passa a fazer parte do produto artístico final, isso pode se tornar um tiro no pé. Um exemplo grotesco disto seria incluir uma logomarca dentro de uma pintura ou de uma escultura. Perde-se a relevância e a oportunidade de fazer parte de um projeto significativo. O que torna o impacto da arte significativo ou perene é a força que carrega.
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