03 de dezembro de 2020

Na política e nas empresas, a diversidade ganha força

Terminada a apuração das urnas, acredito que vem da composição de algumas Câmaras Municipais um dos recados mais importantes desta eleição. A votação obtida por representantes da comunidade LGBTI+, independente do viés político-partidário, mostra a importância da luta por igualdade de direitos e da promoção do debate sobre o tema em cada espaço possível.

A sociedade está realmente atenta a essa discussão. Tanto que, em São Paulo, entre as 10 pessoas mais votadas, duas são transexuais – em Belo Horizonte e Aracaju, ficaram em primeiro lugar. Porém, esse dado não pode se esgotar em si mesmo, apesar da sua enorme importância. Ele mostra que caminhamos no sentido correto e que novas barreiras foram quebradas. Mas a estrada ainda é longa e os resultados não são homogêneos em todas as localidades.

Por esta razão, no setor privado, também cabe às empresas – especialmente aquelas que têm a capacidade de exercer esse protagonismo – levar adiante não só o debate, como programas que efetivamente garantam a equidade de direitos e de oportunidades a todas as pessoas.

Dessa maneira, para que a cultura inclusiva alcance os resultados propostos e promova a diversidade representativa na sociedade, o envolvimento e o patrocínio das lideranças são aspectos fundamentais. Com esse engajamento, tem sido possível garantir acolhimento e permitir que pessoas LGBTI+ possam desempenhar suas funções profissionais sendo quem realmente são.

Mas as discussões internas e de fóruns com outras empresas dos quais participo me mostram que a caminhada ainda é longa no mundo corporativo, especialmente em algumas localidades do Brasil e também no exterior.

Infelizmente, em alguns ambientes de trabalho, sejam em cidades grandes ou pequenas, fábricas ou escritórios, o receio e a insegurança em revelar a orientação sexual ainda são a regra. Em alguns países, o risco é ainda maior, pois a punição pode vir na forma de prisão, ameaça à integridade física ou morte.

Nesses momentos, a experiência tem mostrado a relevância do papel de empresas globais, na disseminação da inclusão e da diversidade. Experiências bem-sucedidas podem ser replicadas entre afiliadas a partir de fóruns de discussão internos, independentes, e levados para locais onde essas políticas ainda não estão difundidas ou são até combatidas.

Aos poucos, pequenas ações que auxiliam na atração e retenção de talentos vão sendo implantadas, fazendo com que as pessoas se sintam acolhidas e desejem permanecer na empresa por mais tempo. No caso brasileiro, direitos como a equiparação do tempo de licença paternidade dos casais homoafetivos ou pais solteiros ao da licença maternidade já são uma realidade, o que mostra a diferença que uma empresa de cultura inclusiva pode fazer do ponto de vista pessoal e profissional, em benefício de seus colaboradores.

Assim como uma eleição reflete o desejo de uma sociedade, empresas devem ser o resultado das comunidades nas quais estão inseridas, desde que haja respeito e proteção a todas as pessoas. Em ambos os casos, a vontade coletiva, fruto do debate qualificado e associada à disposição de lideranças realmente comprometidas, gera frutos positivos e sustentáveis.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Felipe Britto

Especialista de projetos e diretor de Conteúdo do Stripes, programa de inclusão e promoção de diversidade LGBTI+ da Philip Morris Brasil (PMB).

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