20 de julho de 2010

Mais gay, mestiça e feminina

Publicado originalmente no Observatório da Imprensa, em 20 de julho de 2010

Novos desafios para a comunicação empresarial são presentes e também trazidos pelo futuro. O ontem, embora próximo, está marcado por regulamentações de todo tipo, produto da cultura de controlar os empregados e pela necessidade de conquistar metas quantitativas, de qualidade total ou de redução de problemas provocados por assédio sexual e moral no trabalho, o que resulta na imensa quantidade de manuais e códigos de ética, de conduta, segurança, meio ambiente, saúde.

Mas tome nota: o ambiente empresarial será novo, marcado pela liberdade do empregado para afirmar sua identidade: o somatório das dimensões subjetivas e objetivas de homens e mulheres.

Nos últimos 50 anos, o entendimento da comunicação pela administração experimentou uma evolução sem precedentes, provocada de fora para dentro das empresas. Essa transformação, no Brasil, provocou uma nova visão comunicacional e relacional em três grandes movimentos. O primeiro, nos anos 1980, foi consequência da democratização do país, quando demanda de trabalhador deixou de ser assunto de polícia e alcançou a mesa de negociação. Um segundo movimento, no início dos anos 1990, estava ligado à internacionalização da economia brasileira, que provocou mudança nos processos de produção para promover ganhos de produtividade e competitividade e minimizar os impactos ambientais e sociais. A comunicação empresarial atuou fortemente na capacitação e no comprometimento de trabalhadores semi-analfabetos com as causas das empresas. E um terceiro, a conscientização crescente do empreendedor sobre o conceito de empresa produtiva e afetiva, uma extensão da sociedade. Ou seja, a empresa não cresce ou se mantém sustentável se o administrador não considerar os desejos, os sonhos de seus empregados e os acontecimentos sociais, históricos e culturais no âmbito da sociedade – tudo o que era visto como fator externo ao processo de produção.

Diversidade

Portanto, a administração deve assumir novas formas de se relacionar com a diversidade comportamental, etária, étnica, religiosa. Imagine, neste momento, no mundo do trabalho, tão regulamentado e preconceituoso, as mudanças inevitáveis de áreas como comunicação e recursos humanos diante da conquista de direitos como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, aprovada recentemente na Argentina e em discussão no Brasil.

O gestor conectado no mundo, já entendeu que é preciso preparar a empresa, aprender a se relacionar, beneficiar e capacitar pessoas diversas, surgidas e legitimadas pela afirmação positiva dos homossexuais, das mulheres, dos índios, dos negros, dos mulatos, na sociedade. Em breve, teremos uma comunicação empresarial mais gay, mais feminina, mais mestiça. E por isso, mais humana.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Paulo Nassar

Diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje); professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP); doutor e mestre pela ECA-USP. É coordenador do Grupo de Estudos de Novas Narrativas (GENN), da ECA-USP; pesquisador orientador de mestrado e doutorado (PPGCOM ECA-USP); pesquisador da British Academy (University of Liverpool) – 2016-2017. Entre outras premiações, recebeu o Atlas Award, concedido pela Public Relations Society of America (PRSA, Estados Unidos), por contribuições às práticas de relações públicas, e o prêmio Comunicador do Ano (Trajetória de Vida), concedido pela FundaCom (Espanha). É coautor dos livros: Communicating Causes: Strategic Public Relations for the Non-profit Sector (Routledge, Reino Unido, 2018); The Handbook of Financial Communication and Investor Relation (Wiley-Blackwell, Nova Jersey, 2018); O que É Comunicação Empresarial (Brasiliense, 1995); e Narrativas Mediáticas e Comunicação – Construção da Memória como Processo de Identidade Organizacional (Coimbra University Press, Portugal, 2018).

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