Hora de separar chefes de líderes
As grandes crises da humanidade sempre foram um teste às lideranças. É o momento da verdade, de descobrir o que realmente direciona as decisões, de conferir quem ou o quê está realmente no centro da estratégia, de testar a capacidade de reinvenção, de ter certeza de que os valores expostos nas paredes ou nos belíssimos relatórios não são somente palavras bonitas e, finalmente, de verificar se o líder da organização tem as competências e as habilidades necessárias para a travessia para um mundo novo e completamente desconhecido.
O que enfrentamos agora não é diferente. A pandemia pegou todo mundo desprevenido, mas há muito se fala que o modelo tradicional esgotou todos os recursos – dos humanos aos ambientais. Há muito se fala sobre a necessidade de um novo ser e um novo fazer. E, nesse sentido, vários grupos – do Capitalismo Consciente ao Sistema B – têm exemplos animadores. Pareciam até então vozes isoladas, mas não são. Durante essa pandemia, o movimento de alguma empresas no Brasil tem mostrado isso.
Na contramão de outras grandes corporações que aproveitaram para aumentar os preços ou investir em campanhas de publicidade, há quem tenha decidido usar sua capacidade produtiva para itens que nem no seu portfólio estão, mas que ajudam no combate ao vírus. Há quem tenha extrapolado completamente o seu negócio e aplicado sua expertise para ajudar a erguer um hospital e aumentar o número de leitos na periferia. Há quem tenha decidido doar recursos ao SUS. Há quem tenha, inclusive, aberto as contas e contado com a colaboração dos funcionários para encontrar a melhor forma de lidar com essa situação.
No curso Liderança Unboxing, o consultor e psicólogo Lucas Franco Freire chama a atenção para a necessária transição de uma liderança transacional, ainda em vigor em várias companhias, mais focadas em “comprar” a força de trabalho para a entrega de resultados de curto prazo, para uma liderança transformacional, capaz de responder a esse mundo VUCA e de inspirar engajamento e soluções diferentes. “Liderar é ter tempo para as pessoas”, define Freire, para quem o líder precisa mudar de comportamento e de estratégia de acordo não só com os seus liderados mas também com o contexto.
Referência em empreendedorismo, Simon Sinek faz coro à ideia de Freire: “Liderança não é sobre estar no comando. Liderança é sobre cuidar daqueles sobre os quais somos responsáveis.” Quando participou da conferência TED, ele ressaltou que um líder não sai ditando regras e ordens. Esse é o chefe. O líder diz o que acredita, inspira e, por isso, naturalmente, promove uma ação com força a do coletivo. “Porque há líderes e há aqueles que lideram. Os líderes têm uma posição de poder ou autoridade, mas aqueles que lideram nos inspiram. Sejam eles indivíduos ou organizações, nós seguimos aqueles que lideram, não porque nós temos que, mas porque nós queremos segui-los. Seguimos aqueles que lideram, não por eles, mas por nós mesmos.”, explicou.
Em momentos de crise, as máscaras caem e fica claro a diferença entre chefes e líderes, entre quem tem uma visão estratégica limitada ou quem está pronto para se transformar e transformar. Como provoca Alice Salvo Sosnowski, jornalista e professora de empreendedorismo e soft skills, em artigo publicado no LinkedIn, “de repente cai um meteoro no Planeta Terra (um vírus que assola todo o mundo), e o que a gente faz? Se fixa no mapa de um sistema que já dava sinais claros de insustentabilidade (é só olhar para o caos ambiental, social, econômico que vivemos) ou tentamos parar, observar e analisar este novo terreno que se apresenta?”
A crise passará, mas o mundo nunca mais será o mesmo.
A pergunta é: quem nós vamos seguir?
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