21 de julho de 2022

Desinformação ameaça a credibilidade na Ciência

*Publicado originalmente no Hora Campinas, em 17 de julho de 2022

Ao longo de toda a história e, em específico na ciência, sempre houve teorias, hipóteses e conclusões sobre fenômenos e/ou objetos de estudo, gerando, em muitas das ocasiões, a disseminação de informações errôneas sobre algum tema científico.

De acordo com o Índice do Estado da Ciência (SOSI) de 2022, um estudo global encomendado pela 3M para avaliar a percepção da população em relação à Ciência, pelo menos 85% das pessoas em todo o mundo, consideram que há desinformação nas notícias que recebemos no nosso dia a dia, seja na mídia tradicional ou nas redes sociais.

E como anda essa percepção no Brasil?

Os dados do país não estão tão longe da porcentagem global. Os brasileiros consideram a desinformação como um problema ligado fortemente à mídia (76%) e às redes sociais (81%), segundo revelam os resultados do Índice do Estado da Ciência 2022. Esse problema impacta muitos setores de grande importância para o desenvolvimento da sociedade, como a área científica.

Com a internet, o acesso à informação aumentou de maneira avassaladora, com muitos efeitos positivos, mas também com riscos desafiadores

Há décadas, o economista Herbert Simon já abordava o tema da economia de atenção, destacando o conceito tão verdadeiro de que a riqueza de informação cria a pobreza de atenção. Além disso, as informações excessivas recebidas são muitas vezes apresentadas de forma incorreta, imparcial e sem fontes confiáveis, como endosso de autoridade. Ou seja, a quantidade de informação gerada não só implica na desinformação, mas também em notícias falsas, popularmente conhecidas como fake news.

Uma das principais características das notícias falsas é que elas normalmente geram empatia com as emoções das pessoas, o que, por ter um alto impacto num primeiro momento, faz com que elas não sejam questionadas, analisadas ou investigadas a partir da origem.

A desinformação não só atrai as emoções, mas também os vieses, ou seja, tudo o que acompanha nosso sistema de crenças será aceito como verdadeiro, o que torna impossível uma análise mais ponderada das informações.

Exemplos a esse respeito podem ser encontrados diariamente, desde a época de Galileu, quando a descoberta de que a Terra era redonda e a elaboração da teoria heliocentrista (que considera o Sol como o centro da Via Láctea) não foram inicialmente reconhecidas, bem como em acontecimentos recentes quando vimos na pandemia de Covid-19 inúmeros “tratamentos” alternativos que as pessoas promoviam com base em suas crenças.

Com isso, entendemos que a desinformação tem efeitos e consequências, o que representa uma ameaça a todas as fontes confiáveis de informação. Por essas e outras que eu, representando a 3M, me uni a outros líderes de comunicação de empresas associadas à Aberje, associação brasileira de comunicação empresarial, no movimento empresarial contra a desinformação para conscientizar todos os stakehloders das empresas na prevenção e combate às fake news, repercutindo na sociedade brasileira a importância de conteúdos que sigam os mais elevados parâmetros éticos para comunicação.

Voltando o foco para a Ciência, atualmente, ela é uma das áreas que está com credibilidade superior na percepção da população, com 31% em comparação com os tópicos de entretenimento que tem 17%, ou ainda esportes com 26%.

Outra excelente notícia é que 92% dos brasileiros estão interessados em conhecer os desenvolvimentos científicos e quem está por trás deles, ainda que a maioria não consiga citar nomes de cientistas locais, entre tantos grandes pesquisadores que temos no país em diversas áreas, apesar das dificuldades.

Atualmente existem métodos que ajudam a identificar a autenticidade das informações que consumimos, como o S.I.F.T, sigla em inglês.

Este método consiste em peneirar as informações por meio de:

O “Pare (Stop)”, que ajudará a analisar se as alegações do conteúdo são críveis. Portanto, se neste momento, você não tem certeza sobre a origem das informações, recomenda-se que ela não seja disseminada até ser investigada mais adiante.

A “investigação (Investigate)” permitirá saber sobre a fonte e/ou a origem, seja sobre a história, a mídia ou autor. O que ajudará a interpretação do que está sendo lido.

A “pesquisa (Find)” fornecerá a possibilidade de obter múltiplas fontes que suportem o conteúdo a ser disseminado, e não serem apoiadas por manchetes enganosas.

“O rastreamento (Trace)” da instrução, cotação e/ou meio permitirá que você retorne à fonte original e reconstrua o contexto, a fim de avaliar as informações de forma eficaz e precisa.

Embora este método não seja uma verdade absoluta para a filtragem de informações confiáveis, ele funciona como um guia para combater os erros da informação e, assim, poder continuar com uma linha de disseminação científica embasada por pesquisas e evidências.

Finalmente, gostaria de compartilhar o estudo para que você, que se interessa por ciências como eu, possa entender mais sobre a percepção das pessoas sobre a ciência no Brasil e no mundo.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Luiz Eduardo Serafim

Serafim é pai do Gabriel, pianista, professor, palestrante e Head de Marca & Comunicação da 3M, onde atua desde 1.994. Formado em administração (EAESP/FGV) e Publicidade (ECA/USP), tem especialização em desenvolvimento do potencial humano (PUCCAMP) e em Psicologia Positiva (PUC/RS). Palestrante com mais de 900 apresentações sobre Criatividade, Inovação, Negócios e Liderança, é professor de Gestão de Marketing e Inovação nos cursos de MBA da Inova Business School e ESALQ/USP. Co-criador do Programa de Desenvolvimento de Liderança "The Leadership Way" em que atua também como Guia da Liderança Colaborativa. Autor do livro "O Poder da Inovação", publicado pela Ed. Saraiva, idealizador do Programa Inspira.mov sobre Criatividade e Empreendedorismo, veiculado pela TV Cultura, produtor e apresentador do Canal de Podcast Inovação em Pauta da 3M e responsável pelo patrocínios de projetos culturais como a Mostra 3M de Arte e o Prêmio Brasil Criativo, entre outros.

  • COMPARTILHAR: