02 de agosto de 2017

Comunicação imprudente

Publicado originalmente no LinkedIn, em 02 de agosto de 2017

O chilique, planejado ou não, de Felipe Melo, jogador afastado pela Sociedade Esportiva Palmeiras, é um ótimo exemplo do que não se fazer em uma organização e em lugar algum. Para quem não acompanha o futebol ou esteve à margem do noticiário neste início de agosto, um resumo: o técnico do clube, Alexi Stival, mais conhecido como Cuca, andava insatisfeito com o desempenho do atleta, ainda mais com o seu comportamento. Após a eliminação da equipe na Copa do Brasil, os dois se desentenderam porque, segundo relatos, Felipe Melo “pagou geral“ contra seus colegas no vestiário e Cuca viu nisso um by pass à sua autoridade. A gota d’água aconteceu alguns dias depois. O professor não escalou Melo para o jogo seguinte, o que levou o meio-campista a manifestar profundo descontentamento. Só que a forma da reação foi infantil. Deixou vazar uma gravação de conversa mantida entre ele e um amigo, na qual destilava sua raiva contra Cuca, imaginando estar blindado por sua história de bom jogador, atleta raçudo e pelas características do mercado da bola, que tem pouca memória e valores voláteis. “Aqui não tem jeito, aqui já era. Com esse cara eu não trabalho”. E disse ainda: “Se não me quiserem, há uma fila de clubes interessados”. Citou vários deles. No último sábado, em coletiva, o técnico informou que já não contaria mais com o jogador.

Vez ou outra nos deparamos com situações que estimulam o ser mais primitivo que habita o nosso ser. É nessa hora que se deve colocar o batalhão do superego para trabalhar. Segurar o mimimi, desenvolver a inteligência emocional, tocar a vida em frente e buscar o melhor que podemos fazer para virar o jogo, passar por cima das coisas que aparentemente nos perturbam e recuperar o ânimo para voltar a fazer gols e ganhar títulos.

Melo foi uma das contratações mais badaladas e caras do clube. Nada muito diferente do que ocorre quando bons executivos de forte personalidade incorporam-se às empresas. Mas diferentemente do futebol, se uma atitude dessas acontece no mundo corporativo, o passe do executivo queima como graveto na fogueira não apenas no lugar em que trabalha, mas também no mercado. Ficar insatisfeito é um direito, mas questionar a autoridade dessa forma, expondo publicamente essa insatisfação é uma atitude inocente que revela o despreparo emocional para determinados papéis que se esperam das pessoas.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Luis Alcubierre

Luis Alcubierre é executivo de Comunicação Corporativa, Relações Institucionais e Governamentais há mais de 25 anos e hoje atua como conselheiro para a América Latina da Atrevia, agência espanhola de PR e Corporate Affairs, além de liderar o escritório Advisor Comm. É também palestrante, mediador e mentor. Formado em Comunicação Social pela FIAM, possui pós-graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e MBA pela FIA-USP, com diversos cursos de gestão de liderança e negociação realizados em instituições como IESE, Berlin School of Creative Leadership, Columbia Business School, Universidad Adolfo Ibañez, Escuela Europea de Coaching, Fundação Dom Cabral, IBMEC e FGV. Foi diretor de Comunicação e Assuntos Corporativos de empresas como Kellogg, Pernambucanas e Samsung, onde teve responsabilidades adicionais pela Comunicação na América Latina. No Grupo Telefônica, assumiu a Direção Global de Marca e Comunicação da Atento em Madrid, na Espanha, sendo responsável pela gestão da área em 17 países. Passou ainda por Dow Química, TNT (adquirida posteriormente pela Fedex) e Rede (antiga Redecard), tendo iniciado sua carreira no rádio, nos sistemas Jornal do Brasil e Grupo Estado. Também foi membro do Conselho de associações ligadas às indústrias de alimentos, varejo, vestuário e mercado financeiro, onde teve importante papel negociador em distintas esferas de governo.

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