Como a comunicação transformou a política monetária dos Bancos Centrais
Publicado originalmente no Infomoney, em 20/02/2025
Em encontro realizado no dia 12 de fevereiro pelo Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças (IEPE/CdG), no Rio de Janeiro, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, relatou uma conversa que teve com Caetano Velloso a respeito da comunicação da política monetária: “O desafio da comunicação é enorme para todos os BCs; é quase uma arte.”
De fato, a comunicação do Banco Central nunca esteve tanto em destaque como atualmente – e nunca foi tão cobrada. Mas esse cenário é recente. Historicamente, os bancos centrais ficaram mais conhecidos pela discrição, preferindo operar com pouca ou mesmo sem nenhuma comunicação pública. A máxima, “Never explain, never excuse (Nunca se explique, nunca se justifique)”, assumida por Montagu Norman, ex-governador do Banco da Inglaterra entre 1920 e 1944, encapsulava essa abordagem – que mudou drasticamente a partir dos anos 1990.
Ao menos três desenvolvimentos na teoria e na política econômica contribuíram para essa verdadeira virada comunicacional da parte dos bancos centrais: o papel das expectativas, a adoção do regime de metas de inflação e a busca por independência das pressões políticas.
A teoria macroeconômica moderna destaca o papel crucial das expectativas para o funcionamento da economia. Desde a década de 1970, os economistas têm reconhecido cada vez mais que a forma como os agentes econômicos (empresas, consumidores e investidores) formam suas expectativas principalmente sobre a inflação impacta diretamente a eficácia da política monetária. Em particular, passaram a articular a ideia de que suas previsões de inflação incorporam os sinais emitidos pela autoridade monetária e que o seu comportamento (precificação, demandas salariais e decisões de investimento) é influenciado por esses sinais. A partir dessa interpretação, os bancos centrais começaram a considerar que uma abordagem transparente à política monetária talvez fosse uma melhor alternativa para alcançar a estabilidade econômica.
O segundo grande desenvolvimento ocorreu em 1989, quando o Banco Central da Nova Zelândia inaugurou uma nova abordagem à política monetária conhecida como regime de metas de inflação. Nele, o banco central compromete-se publicamente a alcançar uma taxa de inflação específica ao longo de um período determinado. A estratégia envolve uma comunicação clara e aberta sobre os objetivos de política do banco e as ferramentas que serão usadas para alcançá-los. Essa abordagem marcou uma mudança drástica em relação ao enfoque anterior. O regime de metas de inflação foi progressivamente adotado por diversos bancos centrais conforme os anos 1990 avançavam, à medida que se mostrava um instrumento eficaz para estabilizar tanto a inflação quanto as expectativas. Ao declarar claramente seus objetivos de inflação, os bancos centrais buscam alinhar as expectativas do público com suas ações de política, o que aumenta a previsibilidade e a credibilidade da política monetária.
Um terceiro fator que contribuiu para uma maior transparência nas comunicações dos bancos centrais foi a busca por independência em relação às autoridades políticas. Conforme o banco central adquire maior autonomia em relação aos governos, ocorre um aumento correspondente na demanda por prestação de contas. A comunicação é pilar central na legitimação da instituição e da política monetária. Daí a necessidade de explicitação das decisões e de sua racionalidade ao público e aos representantes políticos por parte do banco. Um diálogo que reúne fortemente as dimensões técnicas e simbólicas de uma instituição fundamental para o mercado e a sociedade.
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