COlabora #7 – Alianças para o futuro
Publicado originalmente no LinkedIn em 16 de setembro de 2021
Escrito com Luiz Augusto Figueira, diretor de Gestão Corporativa e Sustentabilidade da Eletrobras
Tão significativo quanto o fortalecimento da temática ESG (do inglês environment, social and governance) na agenda estratégica das empresas é seu caráter transversal, mais evidente à medida que de mais importância o tema se reveste. Se, há alguns anos, era comum ver a sustentabilidade restrita a departamentos específicos, presa às páginas do relatório anual e distante do dia a dia dos colaboradores e demais stakeholders, hoje, cada vez mais, as empresas que se mantêm na dianteira quando o assunto é ESG fazem da prática cotidiana sua plataforma para o tema. E não há como ser diferente, é preciso avançar na maturidade desse tema tão importante para o nosso convívio em sociedade.
Não se trata mais de comunicar à sociedade uma ou outra ação isolada. O que se espera é uma estratégia corporativa calcada nos temas que fazem uma empresa cumprir sua função de agente de desenvolvimento, ao mesmo tempo em que respeita o seu objeto social – essa é a essência da sustentabilidade, âmbito no qual a temática ESG está inserida. É a era do tão falado “capitalismo de stakeholder”, conceito que se difundiu em 2019, quando os CEOs de 181 empresas americanas assinaram um manifesto defendendo que a supremacia do lucro deveria ceder espaço para uma visão centrada nos diversos públicos com os quais as empresas interagem.
Estamos traçando um caminho do individual (o shareholder, ator principal da concepção focada essencialmente no lucro) para o coletivo (os stakeholders, todos os atores direta ou indiretamente impactados pelas operações da empresa). Uma massiva mudança de foco, que precisa se refletir, em primeiro lugar, na estratégia corporativa e nos processos de trabalho dentro das empresas. O novo capitalismo fala da criação de valor compartilhado dentro de uma ética perene. Da atenção ao todo. Da responsabilização. Da regeneração. Da construção coletiva.
Em matéria publicada no início de 2021 no “Valor Econômico”, a jornalista Bárbara Bigarelli avalia o impacto da pandemia sobre a evolução do papel da temática ESG nas empresas, destacando o boom da criação de novas áreas para tocar essa agenda. A matéria aponta a importante aliança das áreas de Gestão de Pessoas e Sustentabilidade, uma vez que integrar a sustentabilidade na estratégia de negócio exige capacitação da liderança e um processo de adaptação cultural. Literalmente, as organizações precisam embarcar num TREM: transformando, reciclando, eliminando e mantendo valores e atitudes da cultura organizacional que estejam em sintonia com o paradigma desse novo tempo. Essa não é uma mudança rápida, pois ela ocorre no modo de agir do coletivo e do individual, começa pelo consciente e desafia os vieses do inconsciente. Por isso, é tão importante olhar para dentro primeiro, para construir um olhar “para fora” verdadeiro e consistente.
Do mesmo modo, faz-se essencial que a Comunicação invista nas parcerias internas, buscando integração e harmonia, com o objetivo de evidenciar ao público interno – colaboradores e lideranças – o movimento global que, cada vez mais, fica manifesto no planejamento estratégico das empresas. Alinhar discurso e prática, ação externa e interna, apontar eventuais incongruências, mapear riscos e oportunidades, evidenciar os avanços, mobilizar para os esforços que ainda é preciso realizar A transversalidade das temáticas ESG exige atuação integrada e colaborativa de todas as áreas da organização, e construir resultados efetivos começa por criar as condições para que cada uma contribua com aquilo que lhe cabe, dentro do propósito que as une.
É evidente que vivemos um momento sem volta no que diz respeito ao entendimento do papel das empresas e ao compromisso com a temática ESG. Não menos evidente, no entanto, é o fato de que ainda há muito a evoluir. O caminho já está apontado, mas a estrada é longa e o percurso exige parceria, interna e externamente. Potencializar esforços, amplificar resultados. Internamente, assegurar o ambiente propício ao engajamento dos colaboradores, talvez, seja um dos maiores desafios. Traduzir na prática cotidiana os compromissos que a maior parte das empresas já assumiu no papel exige que todos se sintam “donos” das questões ESG. É o tal caminho do individual para o coletivo. E ele começa “dentro de casa”.
Externamente, por sua vez, as parcerias cumprem os importantes papéis de fortalecer compromissos assumidos, disseminar boas práticas e possibilitar a união de esforços na consecução de objetivos comuns. Nesse sentido, a Eletrobras celebra agora em setembro o lançamento da Global Alliance for Sustainable Energy, da qual é uma das 17 empresas fundadoras. A iniciativa, alinhada à Agenda 2030 e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, tem por objetivo liderar o processo de descarbonização do sistema global de energia, assegurando sua sustentabilidade sob os pontos de vista social, ambiental e de governança. Mais informações sobre a aliança, que representa mais um passo em nosso propósito de colocar toda nossa energia para o desenvolvimento sustentável da sociedade, podem ser encontradas em https://sustainable-energy.eco/index.html.
Alianças estratégicas são cada vez mais essenciais em nosso cenário corporativo. Fortalecer a cultura da colaboração, interna e externamente, é, portanto, parte fundamental do trabalho. O movimento é todo no mesmo sentido, como a própria evolução da sustentabilidade vem nos ensinando: do individual para o coletivo, do sistema egocêntrico para socioecológico. Da mesma forma que o enfrentamento às graves questões climáticas exige mobilização coletiva em larga escala, consolidar as recentes mudanças em nossas empresas, e aprofundá-las, é missão para todos.
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