13 de novembro de 2020

Bons resultados nas empresas exigem gentileza

A estratégia de implantar uma cultura agressiva – e de disputa contínua – para alcançar bons resultados nas empresas ficou para trás. Na sociedade da tecnologia e do conhecimento, a criatividade e a cultura colaborativa entre os funcionários é o que faz a diferença. E, convenhamos, não existe colaboração onde falta gentileza.  Empresários de hoje precisam ser, mais do que nunca, coletores de ideias práticas, inovadoras e disruptivas. Mesmo um ambiente com liberdade de expressão, a escuta atenta e respeitosa ainda é insuficiente. Há de haver gentileza – seja para deixar florescer a criatividade ou para melhorar o simples fluxo das tarefas do dia a dia. A gentileza é um valor que influencia diretamente no clima e na produtividade organizacional.

Mas é importante alertar: não se trata de uma gentileza estratégica e fria – mas sincera, empática. As pessoas percebem quando a empatia está sendo exercida de maneira artificial ou interessada. Para liderar é preciso gostar de gente e acreditar nos que ocupam as posições de um time. A liderança procura potencializar o melhor de cada um em ambientes confortáveis que permitam o crescimento de todos – e, consequentemente, o crescimento da empresa de forma geral.  De acordo com uma pesquisa realizada para a consultoria de estratégia BritainThinks este ano, no Reino Unido, hoje existe uma vontade generalizada de que tenhamos uma sociedade mais amável, que permita aos trabalhadores mais tempo com a família e os amigos e que se preocupe com mais com o meio ambiente. Isto é, além da gentileza ser um fator de qualidade no ambiente de trabalho, também é um pré-requisito para uma cultura mais colaborativa.

Mas, como exercer a gentileza? Há muitas maneiras. É um ato gentil saber elogiar com sinceridade e valorizar quando um trabalho for bem feito, algo que pode mudar a vida de quem o recebe. Um líder de verdade sabe pedir desculpas quando erra e procura ser educativo e solidário auxiliando nas tarefas dos membros de sua equipe. Nesse processo, atos de gentileza e palavras amistosas podem fazer toda a diferença no dia de qualquer pessoa.

As novas gerações é que puxam a alta exigência contemporânea por mais gentileza. De acordo com a pesquisa da consultoria McKinsey, a geração Z (que nasceu de 1995 a 2010) se diferencia das anteriores por muitos motivos, mas o principal talvez seja a exigência radical por relações mais éticas no ambiente empresarial.

Atualmente, a imagem das companhias estão cada vez mais atreladas ao seu ambiente real de trabalho – e não apenas por propagandas externas. Porque as empresas estão mais “porosas”, mais transparentes (mesmo que não queiram) pelas mídias sociais, pelas mensagens instantâneas. O boca-a-boca ganhou uma velocidade digital vertiginosa. As atitudes mal educadas se disseminam rapidamente. A má fama se espalha sem poder ser mensurada, expondo as companhias e as pessoas.

As organizações que passarem no teste da gentileza terão uma boa reputação perante clientes e funcionários. No entanto, aqueles que não se importam em ser gentis poderão em curto ou em médio prazo perderem clientes ou até serem boicotados pela “má publicidade espontânea”. Arrogância, aspereza e indelicadezas saíram de moda. É hora de abandonar a linguagem bélica e de fúria dos antigos ambientes empresariais – que hoje é interpretada como fraqueza. A dinâmica da cooperação, com metas claras, fortalece os times e hoje substituiu a pressão agressiva por resultados. Acirrar a competição interna é coisa do passado. Ser gentil é mais do que ser educado, é ser um pouco mais você mesmo: ser mais humano.

Da rua para dentro

Um dos desafios para a sobrevivência da gentileza é que ela geralmente é atropelada nas ruas, no trânsito e pela pressa do dia a dia. A cultura imediatista tornou a gentileza um artigo de luxo. Foi justamente na correria das ruas que José Datrino, falecido em 1996 aos 79 anos, pregou durante décadas o princípio da gentileza nas vias do Rio de Janeiro, onde viveu grande parte da sua vida. Datrino se tornou uma espécie de lenda urbana: conhecido como o “Profeta Gentileza”, o homem de origem simples, nascido no interior de São Paulo, espalhou suas mensagens gentis na áreas de aspereza do concreto carioca. As intervenções feitas por ele viraram murais considerados patrimônio artístico-cultural do RJ e ainda estão por toda a cidade – desde as 56 pilastras do Viaduto do Gasômetro até praças, pontes e calçadões.

Para celebrar o Dia Mundial da Gentileza, o artista plástico, pesquisador e professor de Arte da Universidade Federal Fluminense (UFF), Leonardo Guelman, palestrou nesta sexta-feira (13) sobre o tema durante uma conversa com os 250 funcionários da Ceptis. Guelman pesquisou sobre avida e obra de Datrino e publicou o livro “Brasil: Tempo de Gentileza”. Para ele, levar à frente a missão do Profeta Gentileza é possibilitar que a sociedade se reestabeleça como tal: é pensar em uma cultura de forma mais ampla – na criação de uma ética de exercício da tolerância, de escuta e aceitação das diferenças. Seja nas ruas ou nas empresas, a gentileza precisa de um pouco mais de atenção.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Paulo Paixão

Diretor de Pessoas e Administração da Ceptis

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