30 de abril de 2020

As lições dos portugueses durante a pandemia

Um artigo de Ruth Manus, publicado dia desses no site Observador, aqui de Portugal, listou as 10 principais características do povo português. Muitas delas que percebemos no dia a dia ficaram ainda mais evidentes neste período crítico em que vivemos. Isso explica muito o fato de Portugal estar administrando bem os casos de covid-19 e achatando a curva de contágio: a mobilização da sociedade, dos empresários, das entidades e associações, dos trabalhos de voluntariado… São lições que entrarão para a memória coletiva como um poderoso divisor de águas para reconstruir não apenas uma nova realidade mas a autoestima nacional.

Os portugueses são amigos – Daqueles que se leva para a vida. Por isso a mobilização de apoio aos vizinhos, aos colegas de infância e família. Todos se ajudam na hora de ir ao mercado ou em um simples telefonema para saber como está tudo.

Os portugueses são prestativos – É imensa a quantidade de pessoas que se colocam à disposição para ajudar a quem mais precisa. Muita gente candidatando-se para trabalhos voluntários, oferecendo serviços e companhia. Os portugueses, de fato, ajudam as pessoas.

Os portugueses são informados – Nunca se viu tanta TV em Portugal quanto agora. Todos ávidos por informação e saber do que acontece no país e no mundo em tempos de isolamento social. O número de acessos às redes sociais também disparou no país.

Os portugueses amam a sua cultura – Valorizam sua história e manifestações culturais como nenhum outro povo. Na ausência dos programas e eventos ao ar livre, ligam-se nas lives de artistas locais nas redes sociais, partilham receitas de pratos típicos, convidam os estrangeiros a lerem mais sobre o país quando as viagens estão restritas, etc.

Muitas dessas características refletem-se também no meio empresarial. O surgimento de marcas engajadas no apoio ao combate ao Covid-19 não é por acaso e nem coincidência.

Nenhuma organização faz isso da noite para o dia. A construção da responsabilidade social corporativa precisa ser consistente e coerente. Colocar o negócio como força de transformação social é para aqueles que têm a Responsabilidade Social Corporativa em seu DNA. Empresas, muitas associadas da APCE (Associação Portuguesa de Comunicação de Empresa), como a Galp EDP, Sonae, Primavera, Grupo Jerónimo Martins, Super Bock, Vodafone, MEO, NOS, Continente, Lidl, Pingo Doce e Montepio são algumas organizações portuguesas engajadas em causas e que não se furtaram nesse momento de crise, redirecionando suas ações para ajudar a comunidade.

Os CEOs dessas organizações sabem o valor do capital reputacional que terão quando essa crise passar. Por isso não se furtaram em se reinventar em momentos difíceis como esse que vivemos. Essas marcas sabem que se a sociedade em que elas estão inseridas não estão bem seus negócios também não irão bem. Retribuir para a sociedade o que ganharam com ela, adaptar-se ao novo momento redirecionando suas atividades e valorizar o seu público (funcionários, clientes e parceiros).

Essas são as palavras de ordem neste momento em que é preciso demonstrar solidariedade, empatia e amor. E usando a frase que Manus abriu o seu artigo, “Só é possível amar um país quando também amamos seu povo”.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Sandro Rego

Sandro Rego é CEO da Priori, agência de comunicação em Portugal dedicada a causas e projetos de impacto social. Foi general manager da FleishmanHillard e executivo de Comunicação do Banco Safra, Grupo Boticário, Bunge e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Foi eleito Comunicador do Ano no Prêmio Aberje 2014. Atualmente vive em Portugal e é o editor da seção "Also in Portuguese" da BRpr, newsletter internacional da Aberje.

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