22 de janeiro de 2021

A coragem de se posicionar

Foi chocante começar o ano assistindo a invasão do Capitólio norte-americano. Mas confesso que fiquei animada quando comecei a ler os vários posicionamentos de líderes de diferentes empresas em reportagens e redes sociais.

Eu me lembro de quando preparava porta-vozes para uma entrevista e, principalmente em época de eleição, reforçava que a empresa para a qual ele trabalhava não comentava ou emitia opinião sobre política. Esse tipo de regra era muito comum, principalmente em multinacionais que, presentes em dezenas de países, partiam do princípio de que falavam apenas sobre o seu segmento de atuação e nada mais.

De forma geral, o posicionamento de um executivo sobre um fato da política, economia ou de caráter social de um país era coisa rara. Mas, no último dia 6, eram as lideranças das principais multinacionais do planeta que estavam se posicionando.

Alguns de vocês irão pensar: “mas é fácil falar sobre a invasão do Capitólio e a postura do ex-presidente Donald Trump quando ele está saindo do poder”. Realmente, é mais fácil. A empresa e o executivo ficam menos expostos à retaliação. Mas, e os consumidores que são pró-Trump? E os ataques em redes sociais? E os funcionários que podem ter uma opinião diferente da sua?

Expor publicamente uma posição sobre um fato de alto impacto na sociedade é sempre uma decisão corajosa para uma empresa e sua liderança.

Então, de tudo o que eu vi, li e ouvi sobre esse episódio, escolhi guardar na memória a posição firme e serena defendida pelos principais líderes empresariais do mundo na busca por união e compreensão do povo norte-americano. Quando fiz essa escolha, também me lembrei o quanto fiquei feliz (e orgulhosa) de ter clientes assinando a Carta Aberta enviada à representantes do Governo Brasileiro sobre a questão do desmatamento ilegal e dos compromissos de sustentabilidade do Brasil, em meados do ano passado.

Esses fatos embasam um sentimento de que não dá mais para não ter ou omitir opinião. É preciso ter coragem e defender os seus valores. Liderar as pessoas pelo exemplo. Ser coerente e praticar o que está no seu discurso.

Em um momento tão crítico quanto o que vivemos, as empresas e seus líderes têm muito a contribuir com a sociedade; compartilhando conhecimento e boas práticas, inovando e encontrando soluções.

Nós, profissionais de Comunicação Corporativa, temos um papel relevante nesta história. Precisamos entender todo o contexto e auxiliar nossas lideranças e clientes (uma tarefa que cada dia que passa se torna mais complexa). É um grande desafio, mas também é uma grande oportunidade de evoluirmos profissional e pessoalmente.

Pelos acontecimentos dos primeiros dias de 2021, não faltará desafio e oportunidade. Seremos continuamente convidados pelo mundo a não nos acomodarmos e agirmos com coragem.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Lia Mara Sacon

Acumula mais de 20 anos de experiência em Relações Públicas e Comunicação Corporativa atendendo clientes na indústria pesada, tecnologia, bens de consumo e serviços. Entre suas especialidades estão: análise e estruturação do processo de comunicação de equipes nacionais e internacionais, planejamento e implementação de planos de comunicação, ações de relacionamento, preparo de porta-vozes e organização de eventos. É uma conselheira sênior para clientes de agência em questões relacionadas à reputação e gerenciamento de risco e crises. Faz parte do time de especialistas certificados em Crise (A.R.C. ™.) da FleishmanHillard. Neste segmento, já ajudou clientes em situações de alto risco, incluindo: recalls, incidentes ambientais, questões trabalhistas e conflitos com comunidades, entre outros. Experiência em coordenação global de estratégias de comunicação com o cliente Embraco. É diplomada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

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