Checagem de fatos tem impacto em nível nacional e além fronteiras
Agência global de notícias, AFP ajuda no combate à desinformação sobre epidemia do novo coronavírus
Falsas denúncias, acusações contra pessoas públicas, foto montagens, fotos e vídeos retirados de seu contexto original, informação alterada ou mal interpretada. Tudo isto parece ser criado com o propósito de gerar raiva, pânico, euforia. A desinformação alimenta-se, no mundo inteiro, das emoções das pessoas e seus criadores jogam com isso.
O combate à desinformação ocorre por meio de checagem de informações realizada pelos veículos de imprensa profissionais, o fact-checking. Embora esse trabalho exista desde o princípio do Jornalismo, a partir da primeira década do século XXI emergiram meios que se dedicam exclusivamente à verificação de fatos, sobretudo no ambiente digital. “O fact-checking está no DNA do Jornalismo ou ao menos deveria estar”, considera Elodie Martinez, coordenadora da equipe de fact-checking da AFP – Agence France-Presse, agência global de notícias.
Ela conta que, além de efetuar uma das funções básicas de todo jornalista – a de verificar a informação com diferentes fontes antes de publicar uma notícia –, a nova tarefa dos verificadores consiste em checar também o que circula como ‘informação’. “Nossa tarefa como verificadores agora é maior e mais ampla, já que temos que desmontar mentiras, além de informar sobre o que acontece realmente”, revela.
Ainda mais atualmente, diante desta pandemia do coronavírus, momento em que explodem notícias sobre falsos remédios, medidas de prevenção e até de curas. Segundo o diretor de Marketing e Comunicação da AFP no Brasil, Júlio Brandão, a equipe de fact-checking da agência trabalha dia e noite para verificar os conteúdos compartilhados nas redes sociais. “São posts que muitas vezes recebemos dos próprios internautas. Nas últimas semanas, aumentamos a equipe de checadores para agilizar as investigações e levar ao público conhecimentos técnicos sobre questões relacionadas ao coronavírus. Vivemos um momento em que as pessoas já não sabem em quem acreditar ou como agir, e a desinformação pode gerar consequências até mesmo mortais durante uma pandemia”, ressalta.
Existem vários estudos sobre a propagação da desinformação nos últimos anos. Segundo Elodie, no Brasil tem-se observado um volume de desinformação particularmente alto e são, em grande parte, os mesmos tipos de conteúdos que circulam no resto do planeta, às vezes adaptados à atualidade e às figuras públicas locais. “Estudos de universidades e outros meios sérios analisaram o que se produziu durante a campanha eleitoral de 2018, por exemplo. A penetração e o uso muito amplo e intenso das redes sociais por toda a população parece ter um papel chave na propagação”.
Elodie explica que quando uma notícia é parcialmente falsa e contém uma parte de verdade, ela também é verificada. “Nós explicamos aos leitores por que ela é enganosa ou que informação falta. Ajudamos a entender em que medida ela induz ao erro, com a ajuda de documentos, fontes oficiais, provas e especialistas. Explicamos da forma mais didática possível que ferramentas usamos, com a esperança que os leitores incorporem os mesmos reflexos e sigam alguns passos simples antes de compartilhar conteúdos não verificados”.
Há ainda casos de informações que circulam sem base em nenhuma prova, e a agência esclarece que não há sustento para tais afirmações. Por fim, ocorre também que uma informação que parece enganosa ou falsa resulte ser verdadeira. Essas verificações são publicadas no blog da AFP: checamos.afp.com.
Mercado global
Presente em 150 países, a AFP ergueu a maior rede de fact-checking do mundo em apenas três anos. Tudo começou em 2017, com um jornalista e um editor em francês. Hoje, a empresa conta com mais de 70 jornalistas trabalhando em 12 idiomas, dedicadas integralmente ao serviço de verificação de fatos. “Poder contar com esta rede de verificadores em mais de 30 países nos dá uma riqueza e confiabilidade únicas: nos apoiamos uns aos outros com nossos conhecimentos e isso faz com que estejamos sempre perto de onde se origina a desinformação”, diz Elodie Martinez, coordenadora da equipe de fact-checking da AFP – Agence France-Presse.
Quando a agência ampliou suas operações de fact-checking para além da França, em 2018, decidiu que o Brasil seria o primeiro da América Latina, seguido de Colômbia e México. “Estes três países tinham eleições presidenciais naquele ano e já se haviam observado, em todos eles, níveis alarmantes de desinformação. Aqui no Brasil, começamos com um jornalista; desde o início de 2019, são dois, em tempo integral. Atualmente, verificamos conteúdos em quase todos os países da América Latina”, conta Elodie.
As verificações da AFP são reconhecidas por sua solidez e sua qualidade. No Brasil, a agência faz parte da coalizão Comprova, que em cada uma de suas três edições reuniu mais de 20 veículos de comunicação brasileiros para lutar contra a desinformação. Hoje, o AFP Checamos segue sendo parte desta coalizão, reunida agora para verificar conteúdos que circulam em torno da pandemia de COVID-19. Duas jornalistas trabalham intensamente na redação da AFP no Rio de Janeiro, e cada verificação é relida por três editores, um local e dois regionais.
Atualmente, no total, mais de 2.400 colaboradores contribuem para alimentar o serviço ininterrupto de informação da AFP. “A capilaridade da rede, com presença global, é que nos permitiu sair na frente e montar esta teia global de verificação. Nenhuma outra organização tem uma rede tão ampla de verificadores espalhada pelo mundo”, afirma a executiva.
Em abril, a Aberje firmou parceria com a AFP – Agence France-Presse no combate de notícias falsas, a fim de municiar os associados e profissionais de comunicação com informação confiável.
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