02 de outubro de 2024

Capítulo Aberje Minas Gerais realiza debate sobre Comunicação e emergência climática

Comunicadores de diversas empresas destacaram a urgência da ação durante o 13° encontro do Capítulo Aberje MG
Crédito: Washington Alves

Na quinta-feira (26), a sede da Cemig, em Belo Horizonte, foi palco do 13º encontro do Capítulo Aberje Minas Gerais. O evento abordou a emergência climática sob a perspectiva dos desafios enfrentados pelos comunicadores e das transformações exigidas pelo planeta. O primeiro painel, dedicado à discussão de cases, contou com a participação de Gabriela Lobo, head de Comunicação Corporativa na CNH para a América Latina; Luciene Cristina, gerente geral de Comunicação com empregados e comunidades na Vale; Lucas Souto, gerente de Comunicação e Marketing da Cemig; e mediação de Lilian Ribas, sócia-diretora da BH Press Comunicação e Sustentabilidade.

Crédito: Washington Alves

Na abertura, Paula Hermont, gerente de Interlocutores na Diretoria de Licenciamento Ambiental da Vale e diretora do Capítulo Aberje Minas Gerais, cumprimentou os presentes e agradeceu aos participantes do painel. A seguir, Cristiana Kumaira, diretora de Comunicação e Sustentabilidade da Cemig, enfatizou a urgência da situação. “Nos últimos anos, percebemos que os eventos climáticos se tornaram uma realidade. A urgência está posta, e temos dois caminhos: a mitigação e a adaptação”, afirmou.

Investimentos e o papel da Comunicação

Kumaira apresentou os esforços da Cemig para enfrentar a emergência climática, destacando o maior plano de investimento da empresa, no valor de 50 bilhões de reais em 10 anos, que abrange tanto a mitigação quanto a adaptação. “Estamos promovendo melhorias significativas nas infraestruturas das nossas redes, com a construção de 200 novas subestações de energia”, explicou. “A Cemig é uma companhia com 100% da sua energia renovável. Já reduzimos em 50% nossas emissões, com o compromisso de net zero”, continuou.

“É fundamental que tenhamos energia e entusiasmo para enfrentar os desafios, especialmente em relação à emergência climática, que não é um tema abstrato”, declarou Hamilton dos Santos, diretor-executivo da Aberje, reforçando a importância da comunicação no enfrentamento da emergência climática. Ele destacou que a Aberje busca promover uma comunicação estratégica a serviço das transições necessárias para enfrentar as crises climáticas.

“Precisamos ir além da transparência e buscar engajar e mobilizar os diversos atores da sociedade”, concordou Gabriela Lobo. Luciene Cristina, da Vale, complementou: “A emergência climática é uma urgência mundial; o mundo está pedindo socorro”.

Gestão de crises e tecnologia

Crédito: Washington Alves

“Enfrentamos emergências climáticas quase todos os dias, e isso faz parte do nosso cotidiano”, declarou Lucas Souto, da Cemig, enumerando os desafios com que as empresas têm de lidar hoje. Ele destacou a importância de um plano de comunicação estruturado para crises. “Precisamos estar preparados para a crescente frequência e gravidade dos eventos climáticos. Hoje, temos um plano de comunicação estruturado para 21 tipos de crise, que nos permite atuar de forma ágil e transparente”. A cobrança sobre as empresas e equipes não passa despercebida pela Cemig. “Valorizamos a presença da equipe de comunicação no campo para ouvir os clientes e as equipes locais. Nos últimos 12 meses, temos mostrado mais as equipes que atuam durante as crises nas redes sociais e na imprensa”, contou.

“O papel dos comunicadores nas transições e emergências é essencial; construímos pontes. Embora as crises exijam especialidades técnicas, precisamos de especialistas em humanidades, pois tudo envolve as pessoas”, concordou Cristina. “Os profissionais de comunicação têm a tarefa de entender e engajar as pessoas em prol da solução necessária”, explicou.

A discussão sobre a desinformação nas redes sociais foi tema da conversa. “Temos um time de monitoramento que verifica, em tempo real, o que está acontecendo”, explicou Souto. “O setor elétrico tem enfrentado críticas intensas, especialmente após o fenômeno da Enel em São Paulo, e precisamos responder e atender as pessoas para minimizar crises. É um grande desafio trabalhar as redes sociais de forma séria e profissional”, continuou.

Mas não é só a Cemig que precisa explorar com cuidado o território das redes sociais. Cristina, da Vale, contou que a empresa também encara desafios nessas plataformas devido a seu campo de atuação. “Trabalhamos com monitoramento constante e buscamos responder com rapidez, mas evitamos entrar em discussões que possam inflamar crises ou aumentar a disseminação de fake news”, contou.

A inovação e a tecnologia também têm um papel na compreensão e no enfrentamento da emergência climática. “É importante conciliar inovação e tecnologia com análise crítica, inteligência humana e mapeamento”, explicou Lobo ao falar sobre o uso de inteligência artificial e monitoramento de dados. Ela mencionou iniciativas como a Fazenda Conectada, que permite o monitoramento em tempo real e contribui para a redução da pegada de carbono.

O papel dos comunicadores foi reiterado por todos os participantes do evento. “A comunicação é fundamental para enfrentar os desafios impostos pelos eventos climáticos”, afirmou Kumaira. Ela acrescentou que “todas as empresas precisam trabalhar com uma comunicação eficaz, clara, franca e objetiva”.

Caminhos para o Futuro

O painel também abordou as expectativas em relação à COP 30. Cristina frisou que essência e consistência são fundamentais para as marcas. “A discussão sobre nosso posicionamento na COP começou há mais de seis meses, e obtivemos o aval da alta liderança”, contou.

“Além do olhar holístico, é importante escolher um pilar onde se possa aprofundar e obter concretude nas ações e resultados”, afirmou Gabriela Lobo. “É crucial que a atuação da empresa se conecte a investimentos para garantir a sustentabilidade”, concluiu.

O impacto da ação humana

Crédito: Washington Alves

O segundo painel do 13º Encontro do Capítulo Aberje Minas Gerais reuniu Márcio Simeone, professor na UFMG; e Fábio Marques, professor da Fundação Dom Cabral; com mediação de Lindemberg Nunes Reis, gerente de Planejamento e Inteligência de mercado na ABRADEE, para discutir a emergência climática sob o ponto de vista acadêmico.

“É importante considerar as estratégias de comunicação no nível global, nacional e regional para enfrentar essa emergência”, enfatizou Marques, reforçando que, apesar de crenças sobre a recorrência das mudanças climáticas de forma cíclica, os dados científicos revelam uma realidade alarmante. Ele apresentou um gráfico que ilustra a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera nos últimos 800 mil anos, ressaltando que essa concentração sofreu um aumento significativo em um período de apenas 200 anos, em grande parte devido à Revolução Industrial.

Marques destacou que a causa da emergência climática está intrinsecamente ligada à organização econômica e política da sociedade. “A economia está infectada, ou melhor, o planeta está infectado, e a causa somos nós”, afirmou, referindo-se à maneira como a sociedade se estruturou nos últimos dois séculos. Segundo ele, cerca de 70 a 80% da concentração de gases de efeito estufa atualmente na atmosfera foi gerada por países industrializados, que foram os maiores emissores ao longo do tempo.

“Estamos nessa faixa entre 50 e 60 bilhões de toneladas de emissões, e a grande surpresa atualmente é que essas mudanças estão acontecendo mais cedo do que a própria ciência previa”, comentou. Ele enfatizou a importância de não apenas mitigar, mas inverter a curva das emissões, apontando que a meta global de alcançar o net zero até 2050 é crucial. “A emergência climática é real e não devemos achar que o jogo está perdido”, explicou, e reforçou que ainda há tempo para agir.

O papel dos comunicadores

Márcio Simeone trouxe uma perspectiva acadêmica sobre o papel dos comunicadores diante da emergência climática. “Os comunicadores enfrentam desafios significativos, que devem ser compreendidos em nosso papel como cidadãos”, declarou. Ele afirmou ser essencial entender o comportamento dos diversos públicos existentes em relação às mudanças climáticas.

“As tecnologias digitais e sociais impulsionam a transformação na comunicação e alteram nossos desafios como comunicadores”, observou Simeone. Ele refletiu sobre o impacto da pandemia de Covid-19, que, segundo ele, alterou o panorama da vida de forma significativa.

“Devemos repensar a comunicação, considerando uma opinião pública global, especialmente para questões que afetam toda a humanidade”, afirmou Simeone. Para ele, esse desafio se torna mais complexo em um contexto de emergências climáticas. “O estado de emergência é definido pela capacidade de resposta institucional”, acrescentou, indicando que, em um estado de emergência, a resposta das autoridades é crucial para mitigar os impactos.

Caminhos para a adaptação

A discussão também incluiu questões filosóficas e éticas relacionadas à responsabilidade na crise climática. Marques levantou um dilema importante. “Por que o chinês deve continuar andando de bicicleta no meio rural, enquanto o americano pode ter quatro SUVs a diesel na garagem?”, perguntou. Essa questão ressalta a disparidade entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, destacando a necessidade de uma abordagem diferenciada nas responsabilidades de emissão.

“Precisamos reconhecer que alguns países já emitiram mais e se beneficiaram disso, mas outros ainda precisam crescer”, afirmou Marques, indicando que as discussões sobre mudanças climáticas não podem ser tratadas de forma homogênea. Ele destacou que, embora a China seja atualmente a maior emissora de gases de efeito estufa, o histórico de emissões e os benefícios obtidos por países industrializados não podem ser ignorados.

Marques também abordou a necessidade de adaptação às mudanças climáticas, salientando que a agenda de adaptação pode ter um impacto maior na comunidade do que a agenda de mitigação. “A comunidade pode não se importar tanto com a redução de emissões, mas quer saber como a empresa está mitigando o impacto de eventos extremos”, observou, ressaltando a importância de conectar as responsabilidades às ações climáticas e à comunicação eficaz sobre esses temas.

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