13 de junho de 2016

Uma tragédia no Dia dos Namorados

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Estava tudo preparado. Domingo, 12 de junho, dia dos namorados. As marcas mais progressistas – ou pelo menos as que querem ser percebidas assim – programaram posts especiais para a data. Nas redes sociais, casais de todos os tipos se beijando. Inclusive lésbicas e gays. Até aí tudo certo e muito bem-vindo. Mas faltou combinar com a vida.

No mesmo dia, um atirador solitário invadiu uma boate em Orlando, nos Estados Unidos, matou 49 pessoas e deixou outras 53 feridas. Uma tragédia para a comunidade LGBT. As circunstâncias do crime ainda não estão claras, mas não há dúvida de que homofobia estava entre as motivações do autor do ataque. Ainda que se comprove a hipótese de atentado terrorista, a escolha do alvo fala por si só. Havia ódio aos homossexuais na intenção de quem cometeu aquela barbaridade.

Mas e as marcas que postaram homenagem a todas as formas de amor, que elas têm a ver com isso? A resposta é: tudo. Algumas empresas foram cobradas nas redes sociais, chamadas de oportunistas. Em alguns casos, quem lia os posts sequer lembrava que era dia dos namorados e já apontava ali alguma forma de exploração da tragédia norte-americana.

Então seria o caso de cancelar as ações? Deixo a resposta para cada gestor de comunicação, que conhece seu público e marca melhor que ninguém. Mas lanço a reflexão: valorizar a diversidade não pode ser apenas uma postura moderninha, voltada a conquistar ganhos de imagem. É preciso ser algo consistente, profundamente associado à identidade da organização, e vivenciado na rotina da empresa, seja na relação com funcionários, clientes ou qualquer outro público estratégico.

Quem se aventura a surfar esta onda sem contar com uma prancha muito sólida está mesmo fadado a ser taxado, no mínimo, de oportunista. Valorização da diversidade exige coerência entre discurso e prática. E isso é algo que se faz e se conquista no dia a dia, não apenas em datas simbólicas.

Num momento em que cresce a intolerância e atos bárbaros como o deste domingo (12) chocam o mundo, as organizações podem dar uma lição de cidadania. É preciso levar as discussões sobre preconceito para o ambiente de trabalho, garantir igualdade de tratamento a todas as pessoas e colaborar para a efetiva construção de uma sociedade mais justa.

Leia mais sobre diversidade na próxima edição da revista Comunicação Empresarial, que vai abordar as questões de gênero e LGBT na comunicação. Disponível na segunda quinzena de junho, no site da Aberje.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Ricardo Sales

Ricardo Sales é consultor de diversidade, pesquisador e conselheiro consultivo. É formado pela USP, onde também realizou mestrado sobre diversidade mas organizações. Atua para algumas das maiores empresas do país. É conselheiro do Comitê de Diversidade do Itaú. Foi eleito pela Out&Equal um dos brasileiros mais influentes no assunto diversidade nas organizações e ganhou o Prêmio Aberje de Comunicação, em 2019. Foi bolsista do Departamento de Estado do Governo dos EUA e da Human Rights Campaign, sendo reconhecido como uma liderança mundial no tema diversidade. É também palestrante, professor da Fundação Dom Cabral e da Escola Aberje de Comunicação, colunista da revista Você SA e do Estadão, além de membro-fundador do grupo de estudos em diversidade e interculturalidade da ECA/USP.

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